Guiné-Bissau: serviços públicos encerrados pelos militares na sexta-feira reabriram

Aristides desafiou Nabiam pedindo aos funcionários públicos que ficassem em casa. Alguns ficaram e foram poucos os utentes. A rádio e a televisão pública receberam ordens para retomar os serviços.

Foto
Aristides Gomes não aceita a ordem de demissão de Sissoco Embaló Enric Vives-Rubio

Os serviços públicos na Guiné-Bissau, interrompidos pela acção dos militares desde sexta-feira, foram retomados nesta quarta-feira, embora com pouca afluência dos utentes em várias repartições visitadas pela Lusa em Bissau.

A Câmara Municipal, Instituto Nacional da Segurança Social, os serviços de viação e transportes terrestres, a capitania dos Portos, os serviços de Migração, Estrangeiros e Fronteiras, estavam todos com as portas abertas, embora com a presença de poucos funcionários e utentes.

A rádio e a televisão públicas já não têm militares à porta e os funcionários receberam ordens para retomar os serviços.

Fonte da Televisão da Guiné-Bissau disse à Lusa que a emissão foi retomada “apenas com música, porque muitos funcionários não compareceram ao serviço”, estando em risco a produção de notícias.

No palácio do Governo, os gabinetes estão abertos, estão a trabalhar alguns funcionários e ainda é visível a presença de soldados no portão principal.

Nos ministérios das Pescas, Justiça, Função Pública e Saúde, que se localizam no centro de Bissau, os serviços foram retomados, ainda que com pouca afluência de utentes.

O Governo nomeado pelo autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, liderado por Nuno Nabian avisou aos funcionários públicos de que devem retomar os serviços hoje.

O Governo eleito, mas destituído por Sissoco Embaló, liderado por Aristides Gomes, pedira aos mesmos funcionários para que ficassem em casa, por “falta de segurança” nos serviços, que diz ainda estarem ocupados por militares armados.

“Que todos os funcionários públicos se mantenham em casa até à normalização da situação e oportunamente se comunicará a data de retoma dos trabalhos”, pede um comunicado divulgado pelo gabinete de Aristides Gomes, que não reconhece a ordem de demissão dada por Umaro Sissoco Embaló.

Aristides Gomes é o chefe do Governo que saiu das eleições de Março do ano passado e é apoiado pela maioria na Assembleia Nacional. Nuno Nabiam foi nomeado chefe do Governo por Sissoco Embaló, que deu posse a uma nova equipa governativa na terça-feira à noite.

Dado como vencedor das eleições presidenciais de Dezembro pela Comissão Nacional de Eleições, Embaló tomou posse quando decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça pela candidatura de Domingos Simões Pereira, que diz que houve irregularidades graves na contagem dos votos.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem uma presença militar no país, ameaçou impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.

Apesar de ter primeiro reconhecido Umaro Sissoco Embaló como vencedor das presidenciais, a CEDEAO condenou depois as decisões e actos tomados e que considera "contrárias aos valores e princípios democráticos” e que atentam contra a ordem constitucional estabelecida.

A CEDEAO reitera a “necessidade absoluta” de se esperar pelo fim do processo eleitoral e que vai ajudar a que sejam tomadas iniciativas para que seja posto um fim ao impasse pós-eleitoral.

Sugerir correcção
Comentar