Finalmente, as memórias convertidas em visões

O filme abre com uma imagem avassaladora: os soldados portugueses do corpo expedicionário a desembarcarem em Moçambique, às cavalitas dos negros, feitos bestas de carga. Esta cena, brutal e belíssima, bastou para me cativar. Percebi que talvez estivesse em presença de um grande filme. E comecei a torcer para que o resto do filme se mostrasse à altura.

Quando era miúdo e andava no liceu, se gostávamos de um filme dizíamos uns aos outros: “É um filme do caraças” ou “É um filme bestial”. Mosquito, de João Nuno Pinto, é um filme do caraças, é um filme bestial. Fui ver sem grandes expectativas, confesso. O nome do realizador era-me desconhecido. E, por muito que os tente combater, guardo no subconsciente resquícios daquele preconceito idiota contra o cinema português. Idiota porque tivemos e temos excelentes realizadores, e porque todas as semanas desaguam nas nossas salas bateladas de lixo anglo-saxónico embrulhado em celofane que consumimos calmamente, sem preconceito algum. O tema (a Grande Guerra em Moçambique, vista pelo prisma português), porém, interessou-me, porque me interessam as guerras que teimamos em esquecer, mas que devíamos recordar todos os dias. A Grande Guerra, antes de mais nada, mas também a nossa guerra colonial. Além disso, sinto-me muito ligado a Moçambique, porque foi lá que o meu pai combateu e porque visitei aquela terra duas vezes para trilhar os passos dele.

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