Maior empresa de carne do mundo fornecida por autor de chacina na Amazónia

Há indícios de que o envolvido no massacre da Amazónia fez uso de uma prática de “lavagem de gado”, para conseguir vender animais a matadouros de forma ilegal.

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As maiores produtoras brasileiras de carne assumiram, em 2009, o compromisso de “desmatamento zero” LUSA/NUNO VEIGA

Uma investigação do Repórter Brasil identificou ligações da maior empresa de carne do mundo, a JBS, e da sua rival Marfrig com uma quinta cujo dono está implicado num dos maiores massacres na Amazónia dos últimos anos. 

Nove homens foram brutamente assassinados a 19 de Abril de 2017, naquele que ficou conhecido como “massacre de Colniza”, na região de Mato Grosso. Os corpos dos homens foram encontrados uma região remota da floresta. Alguns foram encontrados com sinais de tortura, outros foram esfaqueados ou mortos a tiro.

Segundo apurou a Repórter Brasil, há indícios de que Valdelir João Souza, produtor de animais e alegado mandante da chacina, praticou a chamada “lavagem de gado” para conseguir vender animais à JBS.

A prática consiste em transferir o gado de uma fazenda com desflorestação ilegal para uma propriedade com “ficha limpa”, de modo a encobrir a origem dos animais. O objectivo é fugir ao compromisso de “desmatamento zero” e ao Termo de Ajuste de Conduta de Carne, que as maiores produtoras brasileiras de carne assumiram em 2009. Nestes acordos prevê-se a monitorização dos fornecedores e o fim da compra de animais a quintas que recorram à desflorestação à margem da lei e ao trabalho escravo.

A investigação surge numa altura em que a JBS sofre pressões por falhas de transparência no fornecimento de gado na Amazónia.

O “massacre de Colniza"

De acordo com as denúncias feitas pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso, o massacre de Abril de 2017 foi perpetrado por um gangue que queria assustar os locais para os obrigar a abandonar as terras que queriam ocupar e delas extrair recursos naturais valiosos.

Um mês depois do crime, o Ministério Público abriu um processo contra Valdelir João Souza e mais quatro homens. Valdelir era trabalhador da indústria pecuária e proprietário de duas empresas madeireiras. Depois das acusações, Souza fugiu das autoridades, encontrando-se a monte há dois anos.

Em Abril de 2018 as quintas de Três Lagoas e Piracama, no estado de Rondônia, foram registadas no nome de Valdelir Souza. Em Maio, a quinta de Três Lagoas transferiu ilegalmente 143 animais fêmeas para a fazenda de Maurício Narde e, 11 minutos depois, a quinta transferiu 143 animais com as mesmas características para o matadouro da JBS. Contactado pelo jornal britânico The Guardian, Maurício Narde confirmou o negócio repentino, mas não explicou o porquê de o ter feito. 

Poucos meses depois, em Junho de 2018, Souza voltou a negociar 153 bovinos com a quinta de Morro Alto, de José Carlos de Albuquerque, um dos fornecedores da JBS e da Marfrig. Contactado pela Repórter Brasil, Albuquerque afirmou que o rebanho de Souza estava habilitado para venda e com a documentação sanitária em dia.

Na reacção à investigação do Repórter Brasil, a JBS diz que é “irresponsável qualquer tentativa de vinculação da empresa à pessoa mencionada pela reportagem, que nunca esteve em sua lista de fornecedores” e que “não adquire animais de quintas envolvidas com desmatamento de florestas nativas, invasão de terras indígenas ou áreas de conservação ambiental”. Ao Guardian, a Marfrig não fez comentários, remetendo para uma informação enviada em Dezembro ao jornal: 53% do seu gado da Amazónia vem de fornecedores indirectos.

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