Cartas para acabar com o mito e o preconceito

Ao longo de 60 anos muita gente escreveu a Miguel Torga. Um volume reúne cartas de 55 nomes das letras e da cultura que ajudam a entender a biografa do autor de Os Bichos e a história da literatura portuguesa do século XX. Carlos Mendes de Sousa, o organizador de Cartas Para Miguel Torga, espera que sirva pelo menos para rever a imagem do homem.

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Tiago Lopes

Não há data nem qualquer tipo de saudação na carta que se segue. Dirige-se a Miguel Torga e vem assinada por Agustina Bessa-Luís. Sabe-se que é de 1949. Ela tinha 27 anos e publicara o primeiro romance, O Mundo Fechado, em 1948. Ele tinha 42 e vinte livros publicados entre prosa e poesia. “Na página 79 do seu diário, quarto volume, parei. Então a morte do pai do abade de Loureiro mereceu-lhe uma página do seu diário. A morte, o enterro, a paisagem e um amigo caçador podem render meia dúzia de frases para a posteridade. Uma criaturinha que escreve qualquer coisa e lhe pede duas palavras de crítica não vale nada com certeza. Se não fosse condenável atitude social, já teria apedrejado as janelas da sua casa. Acredito que seja um homem atarefado, um médico, um escritor, um génio repleto de responsabilidades. Mas até um deus teria tempo para uma inutilidade mais.”

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