Ao fim de 13 dias, a greve da polícia no Ceará chegou ao fim
Durante o período de greve, o número de homicídios no estado do Nordeste do Brasil disparou mais de 130%.
Os agentes da Polícia Militar no Ceará (Nordeste) decidiram pôr fim à greve que durava há já 13 dias, revelaram representantes sindicais ao site de notícias UOL. Durante este período o número de homicídios no estado disparou.
A decisão surgiu depois de uma ronda de negociações entre os representantes dos policiais amotinados e o governo estadual, da qual ainda não se conhecem muitos pormenores. Ficou excluída a hipótese de ser concedida uma amnistia aos agentes que participaram na greve – a Constituição proíbe que as forças militarizadas entrem em greve – mas devem ter sanções mais leves.
A greve policial no Ceará assumiu contornos violentos, com quartéis ocupados, viaturas da PM vandalizadas e até a tentativa de homicídio do senador Cid Gomes, que durante um protesto de agentes e familiares na cidade de Sobral tentou entrar em instalações ocupadas ao volante de uma retroescavadora. O também ex-governador do estado foi baleado e chegou a correr perigo de vida.
Desde Dezembro que o governo cearense, liderado pelo Partido dos Trabalhadores, e a PM estavam embrenhados em negociações tendo em vista um aumento de salário de algumas categorias e um reajustamento das carreiras. A proposta anunciada pelo governo estadual foi rejeitada pelos sindicatos policiais que promoveram manifestações e entraram em greve.
Esta semana, a Assembleia Legislativa Estadual deverá discutir a proposta de subida de salário de um soldado dos actuais 3400 reais (686 euros) para 4500 (908 euros) de forma progressiva até 2022, diz o site G1.
A degradação da situação de segurança no Ceará levou o governo estadual a requerer o envio de um contingente do Exército para conter a violência no estado. O ministro da Justiça, Sergio Moro, disse este fim-de-semana que o motim da PM era “ilegal”, mas defendeu que um “policial não pode ser tratado como criminoso”.
A greve da polícia provocou uma subida de 138% do número de homicídios no Ceará face ao mesmo período do ano passado. Entre 1 e 25 de Fevereiro registaram 364 homicídios, de acordo com a secretaria de Segurança Pública do estado.
Este tipo de movimentos de contestação por sectores das forças de segurança está presente em vários outros estados brasileiros, onde agentes policiais também exigem melhores condições salariais. Especialistas na área diziam recentemente ao PÚBLICO que o discurso do Presidente, Jair Bolsonaro, de apologia da violência policial como forma de dar resposta aos problemas de segurança no Brasil é um factor determinante para que estas classes profissionais se sintam encorajadas a assumir formas de protesto mais aguerridas.