Três artistas e três contentores: Como limpar o seu armário e dar vida à roupa que já não usa

Nestes contentores com intervenções artísticas, que vão ocupar a cidade de Lisboa durante sete dias, as pessoas podem deixar roupas antigas que já não usam, com vista à reciclagem das peças. A iniciativa parte da plataforma terramotto e as obras vão estar em exposição na ModaLisboa.

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A intervenção de Gonçalo MAR lança um olhar sobre os microplásticos que "estão a destruir a saúde dos oceanos" Marina Antunes / World Academy

Quem, a partir desta sexta-feira e durante os próximos sete dias, passar pelo Largo de Santos, o Campo Pequeno ou o Cais do Sodré, em Lisboa, é capaz de encontrar algo fora do comum: três contentores que foram cobertos por graffiti, pinturas ou até mesmo frases e intervenções poéticas. É nestes que as pessoas podem deixar aquelas roupas antigas que deixaram de ter uso ou os trapos velhos que já não saem do armário – tudo para que o desperdício têxtil receba “uma segunda vida”.

A ideia foi de Sandra Dias, ex-editora de moda da revista Lux Woman e fundadora do terramotto, um projecto que “pretende abanar estruturas, mentalidades e comportamentos”. Pretende, igualmente, falar de moda a partir de perspectivas sustentáveis, mostrando que não precisa de “agredir o planeta e os direitos humanos” ou deixando de lado “conceitos vazios” como o da roupa “facilmente descartável”. É uma plataforma que procura divulgar “pessoas e iniciativas” que constituem “exemplos positivos” naquilo que diz respeito ao pensamento ecológico, e que começou a ganhar forma, conta a criadora ao PÚBLICO, por telefone.

Os contentores — equipados com “um código QR que leva a uma página explicativa desta iniciativa”, informa Sandra Dias — “falam sobre a importância da sustentabilidade através da criação artística”. Os artistas Gonçalo MAR, RAF e Rita Ravasco tiveram liberdade para intervir sobre os mesmos “conforme quisessem”. Por exemplo, o primeiro fez um “novelo do mar”, numa alusão aos microplásticos que estão a “destruir a saúde dos oceanos”; ao passo que a última realizou quatro pinturas que “criticam os efeitos e o impacto negativo da fast fashion” – um destes trabalhos contou com a parceria de Filipe Fernandes, autor do projecto Pura Poesia. As pessoas depositam os trapos antigos ao mesmo tempo que são “informadas ecologicamente” de uma forma criativa.

Estes contentores, cedidos pela Associação Humana Portugal, foram colocados em pontos estratégicos da cidade num momento em que a ModaLisboa já começa a bater à porta – a edição deste ano realiza-se entre os dias 5 e 8 de Março. Se a festa de arranque é celebrada nos Paços do Concelho, os desfiles passam, nas últimas três datas, para as Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército, no Campo de Santa Clara. A partir da próxima quinta-feira, os contentores viajam até ao Campo de Santa Clara onde ficarão em exposição, mas mantêm a sua utilidade. Por isso, quem for ao evento de moda nacional pode aproveitar para levar peças para reciclar.

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Intervenção de Rita Ravasco (em colaboração com Pura Poesia) Rita Ravasco
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Intervenção de Rita Ravasco Rita Ravasco

No final, a roupa vai para os espaços da Associação Humana Portugal, que vai decidir o seu destino, “consoante o estado de conservação”, ou seja, umas “são encaminhadas para centros de reciclagem”, outras “para lojas de segunda mão”. A parceria com a ModaLisboa, continua a fundadora do terramotto, surge num ano marcado pela Wonder Room, uma pop-up store dentro do evento que vai atribuir destaque a marcas sustentáveis. São, por exemplo, os casos da Noogmi, que trabalha manualmente com materiais tradicionais portugueses e assenta nas bases de “sustentabilidade e desperdício zero”, ou a Not Yet Famous…, que utiliza “apenas materiais 100% orgânicos ou recicláveis, provenientes de fábricas com certificações fair trade”.

Texto editado por Bárbara Wong

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