O futuro do automóvel tem de ser inteligente e ambiental

Automóveis sem condutor, mobilidade sustentável com recurso a energias renováveis, como a electricidade, sinistralidade zero, veículos partilhados, interacção homem/máquina com o ambiente. O futuro já começou e o desafio é antecipá-lo.

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Nelson Garrido

Pelo quarto ano consecutivo, a Nissan organizou um debate sobre os caminhos possíveis para o desenvolvimento da sociedade, com foco particular na mobilidade sustentável. Embora existam outras fontes de energia renovável, o fabricante japonês aposta quase todas as fichas nos veículos eléctricos e na sua interacção com o ambiente envolvente, o que se reflectiu nos temas tratados no evento.

Os principais fabricantes de automóveis já não se preocupam apenas em vender carros – sabem que têm de ir mais além e pensar as suas actividades como parte da vida em sociedade e da criação de um futuro melhor. Um dos exemplos é este Fórum da Mobilidade Inteligente que, segundo o organizador, é “a mais antiga e importante iniciativa de discussão, de reflexão e de projecção do futuro da mobilidade, promovida em Portugal”.

Condução Inteligente

Com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros, os temas tratados, que interessam e afectam todos, possuidores de carros ou não, foram agrupados em três painéis: Condução Inteligente, Energia Inteligente e Integração Inteligente. No painel inicial destacou-se a intervenção sobre condução autónoma de Maarten Sierhuis, director-geral de Tecnologia no Nissan Innovation Lab de Silicon Valley, que também fez carreira na NASA.

Segundo este perito em condução autónoma (sem intervenção humana), esta resulta de um trabalho de equipa entre homem e um carro, que é um robot dotado de inteligência artificial e capacidade de aprender. Milhares de quilómetros em testes permitem concluir que, no presente, a viatura autónoma resolve 90% das situações no trânsito. Mas há casos, como, por exemplo, dois carros parados ou obras a obstruir uma via limitada por faixa contínua, em que o veículo por si só não consegue superar os obstáculos. A experiência anterior na NASA de Sierhuis permitiu-lhe transpor para a circulação rodoviária uma tecnologia usada para dirigir módulos em Marte, SAM (Seamless Autonomous Mobility – Mobilidade Autónoma Contínua). Assim, nessas situações-limite, é necessária a intervenção humana, autorizando a viatura a fazer as manobras necessárias.

Noutra intervenção neste painel o responsável pela Adene-Agência para a Energia, que se dedica ao uso eficiente da energia e da água, versou a gestão de frotas de empresas, classificando-as numa escala de F a A+ (como os electrodomésticos) e procurando melhorar os índices através da racionalização de recursos, rotas e, inclusive, substituição de veículos com motores de combustão interna por viaturas.

Energia Inteligente

No segundo painel, Marco Fioravanti, vice-presidente de Planeamento de Produto da Nissan Europa socorreu-se da transformação de gelo (uma estrutura ordenada) em água (estrutura desordenada) para frisar que a ordem natural das coisas é a evolução da ordem para o caos, citando exemplos de factores de caos, como as tensões EUA-Irão, o Brexit, os fogos na Austrália, o coronavírus, a explosão populacional ou a crise climática. Assim, há que encontrar meios para “reverter a água em gelo”, controlar a disrupção. No caso da mobilidade, controlar o caos urbano. “A nossa realidade é formada por nós”, concluiu.

Jorge Miguel Fernandes, director de Inovação da Galp Energia, destacou o projecto-piloto V2G (Vehicle to Grid -Veículo para a Rede), iniciado este mês nos Açores. Ao abrigo deste projecto de carregadores bidireccionais, as viaturas eléctricas deixam de ser simples consumidores, podendo fornecer electricidade à rede, compensando as flutuações de consumo. Hoje, já há a possibilidade de os carros eléctricos abastecerem as casas.

O director de Infra-Estruturas e Redes da ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, Jorge Esteves, referiu a transformação em curso – o fecho das grandes centrais de produção eléctrica a carvão e fuel substituindo-as por fontes de energia renovável e produtores de menores dimensões (eólicos, hídricos, etc.).

Carlos Sampaio, presidente da APESF – Associação Portuguesa de Empresas do Sector Fotovoltaico queixou-se da regulamentação do sector de energia solar que não acompanha o ritmo da evolução, travando a sua expansão.

Integração Inteligente

No último painel, Gareth Dunsmore, vice-presidente da Nissan para os serviços conectados, referiu a necessidade de plataformas digitais cada vez mais eficientes de acesso simples e intuitivo com interacção com outros veículos e entidades de gestão urbana (fundamental para uma futura condução autónoma).

Yannick Raffin, responsável pela Estratégia de Emissões Zero e Infra-Estruturas da Nissan, revelou que as novas normas WLTP de contagem de emissões e a substituição das vendas de viaturas diesel por veículos a gasolina originaram uma inversão na tendência de baixa de emissões de CO2 – só a Nissan e a Toyota continuam num sentido descendente. Mas o caminho terá de ser de redução para atingir a neutralidade carbónica. No caso de Portugal, a meta é 2050.

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