Sharapova: a “sereia siberiana” despediu-se de vez do ténis

Aos 32 anos, Maria Sharapova encerrou uma carreira abrilhantada com a conquista dos quatro torneios do Grand Slam.

Maria Sharapova
Fotogaleria
Maria Sharapova Reuters/Stan Szeto
Maria Sharapova
Fotogaleria
Maria Sharapova Reuters/Robert Deutsch
Maria Sharapova
Fotogaleria
Maria Sharapova Reuters/HANNAH MCKAY
Maria Sharapova
Fotogaleria
Maria Sharapova Reuters/EDGAR SU
Maria Sharapova
Fotogaleria
Maria Sharapova Reuters/ANDREA COMAS

Quinze anos depois de saltar do quase anonimato para o topo do ténis mundial, Maria Sharapova despede-se do ténis profissional. A primeira russa a ocupar o primeiro lugar do ranking mundial e detentora dos quatro troféus do Grand Slam perdeu a luta com as lesões. Nascida em Nyagan, na Sibéria, há 32 anos, Sharapova encerra uma carreira marcada por (poucos mas) excelentes momentos mas manchada pela condenação por uso de doping.

“Como é que se deixa para trás a única vida que conhecemos? Como é que nos afastamos dos courts onde treinámos desde criança, do jogo que amamos – o qual nos trouxe lágrimas escondidas e alegrias inexplicáveis – o desporto onde criámos uma família, com os fãs que nos apoiaram durante mais de 28 anos? Sou nova nisto, por isso desculpem-me. Ténis, estou a despedir-me”, anunciou Sharapova, num longo e emotivo texto, publicado nos sites das revistas Vanity Fair e Vogue.

As lesões e o doping

O adeus já tinha sido ensaiado diversas vezes, devido aos altos e baixos que marcaram a carreira, muito por culpa de lesões, em especial no ombro direito, de qual se começou a queixar em 2007 e obrigou-a a uma intervenção cirúrgica em Outubro de 2018 e a nove meses de paragem; em 2011, foi o tornozelo direito; em 2013, a anca esquerda e, novamente, o ombro direito. Essa lesão tornou-se crónica e, este ano, fez uma derradeira tentativa para regressar a um nível alto, mas perdeu os dois encontros que realizou na Austrália.

Pelo meio, em 2016, foi suspensa por dois anos (castigo mais tarde reduzido a 15 meses) devido a uso de substância proibida – integrada num medicamento prescrito em 2006, por causa de um batimento cardíaco irregular e um histórico familiar de diabetes.

“Olhando para trás, apercebi-me de que o ténis tem sido a minha montanha. O meu percurso tem sido preenchido com vales e desvios, mas as vistas do seu alto foram incríveis. Após 28 anos e cinco títulos do Grand Slam, estou pronta a escalar outra montanha – a competir noutro tipo de terreno”, escreveu ainda.

Wimbledon talismã

A jovem Masha chegou aos EUA com 9 anos, para treinar na Academia de Nick Bollettieri, acompanhada do pai, Yuri, e deixando em casa a mãe, Yelena, com a qual só voltaria a reunir-se quase três anos depois. Aos 11, estava a assinar com a agência IMG e a garantir um cheque anual de 90 mil euros. Cansada por as pessoas lhe chamarem “Marsha”, voltou a ser Maria e, aos 17 anos, conquistava o título júnior em Wimbledon – no mesmo ano em que Serena Williams, cinco anos mais velha, triunfava no torneio profissional.

Na segunda presença na prova principal, com apenas 17 anos, estreou-se no palmarés do Grand Slam, derrotando a favorita Serena Williams na final de Wimbledon. Nova vitória sobre Serena no final desse ano de 2004, nas WTA Finals, iniciou uma rivalidade que acabou por dissipar-se ao longo dos anos, tal a superioridade da mais nova das irmãs Williams: nos 19 duelos seguintes, a russa perdeu sempre.

Sharapova ascendeu ao topo do ranking pela primeira vez em Agosto de 2005, com 18 anos e 125 dias – sendo a quinta mais nova a consegui-lo – e terminou no top-10 em 10 épocas, entre 2004 e 2015, cinco das quais no top-5.

Desde a estreia no circuito profissional, em 2001, acumulou 36 títulos – das jogadoras ainda no activo, apenas as irmãs Williams detêm mais –, dos quais cinco do Grand Slam: Wimbledon (2004), Open dos EUA (2006), Austrália (2008) e Roland Garros (2012 e 2014). O primeiro título na terra batida francesa colocou-a entre as seis jogadoras na Era Open a vencer as quatro maiores provas do calendário tenístico.

Melhor só Graf, Navratilova e Evert

Sharapova venceu pelo menos um torneio em 13 épocas consecutivas (entre 2003 e 2015), uma série só superada pelas antigas campeãs Steffi Graf, Martina Navratilova e Chris Evert; foi medalha de prata nos Jogos de Londres de 2012; em 2014, tornou-se no primeiro tenista, homem ou mulher, a ultrapassar os 15 milhões de seguidores no Facebook; terminou a carreira com 645 vitórias em 816 encontros (quase 80% de sucesso) e somou 35 milhões em prémios monetários.

“Ao dar a minha vida ao ténis, o ténis deu-me uma vida. Vou sentir a sua falta todos os dias. Vou sentir a falta dos treinos e da rotina diária: acordar ao amanhecer, apertar os atacadores do meu sapato esquerdo antes do direito e fechar o portão do court antes de bater a primeira bola do dia. Vou sentir a falta da minha equipa, dos meus treinadores. Vou sentir a falta dos momentos sentada ao lado do meu pai no banco do court. Dos apertos de mão – ganhando ou perdendo – e das atletas, sabendo elas ou não, que puxaram por mim, para eu ser melhor”, disse Sharapova.

A russa sempre disse que queria ter filhos, um projecto adiado devido à dificuldade de conciliar a carreira com uma relação estável. Mas já desvendou os objectivos mais imediatos: “Tranquilidade junto da minha família; beber o café da amanhã demoradamente; escapadas inesperadas ao fim-de-semana; fazer exercício à minha escolha (olá aulas de dança)”.

Sharapova deverá continuar ligada à Nike, Evian, Tag Heuer, Supergoop e à Porsche, marca da qual é embaixadora, e ocupada pelos vários negócios, com destaque para a marca de gomas e chocolates que lançou em 2012 (Sugarpova). Além do trabalho de solidariedade, como embaixadora da Boa-Vontade no Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) e através da Maria Sharapova Foundation – aliás, já em 2004, a tenista doou o valor do prémio pela vitória nas WTA Finals, cerca de 52 mil euros, às vítimas do sequestro numa escola em Beslan.

Talvez a recente estreia no programa Shark Tank possa abrir novas perspectivas quanto ao seu futuro. “O ténis mostrou-me o mundo – e mostrou-me de que sou feita. Foi como me testei e medi o meu crescimento. E seja qual for o meu próximo capítulo, a minha próxima montanha, vou estar ainda a puxar por mim. Vou estar ainda a subir. Vou estar ainda a crescer”, assegurou Sharapova.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários