Directores dos hospitais de Faro e Portimão reclamam “novo” conselho de administração

O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), dizem os médicos, está “entre os que apresentam piores indicadores clínicos e financeiros”. Ministério ainda não tomou decisão.

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Rui Gaudencio

Mais de duas dezenas e meia de directores do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) reclamam a “rápida nomeação de um novo órgão de gestão” que consiga mobilizar os profissionais, desmotivados pelo estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) na região. “O CHUA não pode viver no impasse e na desmobilização, urge tomar medidas efectivas”, lê-se na carta enviada ao presidente da Administração Regional de Saúde (ARS), Paulo Morgado, com conhecimento à ministra da Saúde.

O documento, a que o PÚBLICO teve acesso, é subscrito por directores de diferentes serviços dos hospitais de Faro e do Barlavento (Portimão) e Assistentes Graduados Sénior (antigos chefes de Serviço). O que os move, dizem, é a necessidade de alterar a “situação grave que atravessa o CHUA que, entre os hospitais de nível equivalente, está entre os que apresentam piores indicadores clínicos e financeiros”. O mandato do Conselho de Administração (CA) terminou no final do ano. A partir dessa altura tem vindo a subir o tom crítico de alguns médicos mais graduados visando o órgão de gestão presidido por Ana Paula Gonçalves, a exercer “excepcionalmente funções públicas”, (por despacho da secretária de Estado da Administração e do Emprego Público), uma vez que se encontra na situação de aposentada.

O representante do ministério da Saúde na região, Paulo Morgado, contactado pelo PÚBLICO, recusou-se a fazer comentários à carta/protesto, que lhe chegou na passada sexta-feira. A nomeação de um novo órgão de gestão, disse, “é um processo que está a correr os seus trâmites”. No mesmo sentido, o gabinete da ministra Marta Temido, contactado esta segunda-feira pelo PÚBLICO sublinha que nada está ainda decidido: “O processo está em tramitação.”

A situação é semelhante a outros centros hospitalares, cujos mandatos terminaram em Dezembro. No Diário da República desta segunda-feira foi publicada a recondução do director do Hospitalar do Entre Douro e Vouga (CHEDV), Miguel Paiva, que vai para o segundo mandato na liderança da rede de hospitais do distrito de Aveiro.

Com o aproximar da época Primavera/Verão, no Algarve, agudizam-se os problemas do SNS, sobretudo pela falta de médicos especialistas. Entretanto, o director clínico do CHUA, Mahomede Americano, e a professora de Biocências da Universidade do Algarve, Helena Leitão, demitiram-se dos cargos de vogais do Conselho de Administração. Porém, o director clínico permanece em funções até à sua substituição. “Não nos parece que exista uma estratégia clara para a instituição e a desmotivação é geral e transversal aos vários sectores”, refere a carta, também dada a conhecer ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar. Além da falta de investimento, destacam ainda do rol das criticas, a “ausência de legislação que permita uma alocação racional dos recursos humanos, bem como a manutenção de políticas que, na prática, favorecem a medicina privada e prejudicam o SNS”.

Sobre as práticas de gestão, os directores do CHUA, acusam a administração de ter desrespeitado as hierarquias: “Não mostrou respeito pelas hierarquias técnicas na carreira médica, tendo promovido médicos sem carreira e sem graduação para cargos relevantes”. A maioria dos médicos seniores da instituição, subscritores do documento, considera que se “esgotaram” as condições para manter a actual administração. Por conseguinte, terminam fazendo um apelo à tutela para uma “rápida nomeação de um novo Órgão de Gestão, agregador e mobilizador”. Paulo Morgado, interpelado pelo PÚBLICO, limitou-se a afirmar: “Partilho algumas das preocupações expressas.”

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