Portugal e Cabo Verde querem combate ao racismo “todos os dias” com serenidade e inteligência

Marcelo Rebelo de Sousa e o homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, falaram no final de uma conferência para assinalar os 50 anos da Associação Caboverdeana de Lisboa. Debates centraram-se em dificuldades de integração e obstáculos colocados pelo racismo.

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Marcelo Rebelo de Sousa e Jorge Carlos Fonseca reforçaram necessidade de combater o racismo LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Os chefes de Estado de Portugal e Cabo Verde defenderam no sábado que o racismo deve ser combatido “todos os dias” com determinação, inteligência e serenidade, evitando “escaladas e reações contraproducentes”.

“O combate pelo respeito do outro, da diferença, pela integração, pela inclusão, pela fraternidade é um combate de todos os dias, tem de se fazer todos os dias na vida social porque é um combate cultural e cívico. Tem de se fazer com bom senso, com serenidade e evitando escaladas e certo tipo de reações que são contraproducentes”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República falava aos jornalistas, na Casa do Alentejo, em Lisboa, ao lado do homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, no final de uma conferência para assinalar os 50 anos da Associação Caboverdeana de Lisboa, durante a qual as dificuldades de integração e os obstáculos colocados pelo racismo centraram a parte dos debates.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu um combate “pela positiva” a manifestações racistas e discriminatórias. “O nosso papel é fazer pedagogia positiva, do respeito das constituições, dos mesmos valores da democracia, do estado de direito, da igualdade, da fraternidade, da não discriminação e da não intolerância”, disse.

O chefe de Estado cabo-verdiano, a quem coube encerrar a conferência, alertou na sua intervenção para o agudizar das “dificuldades de inserção social” dos cabo-verdianos, sobretudo os mais jovens, em Portugal, indicando como expressões dessas dificuldades “o desemprego, o aumento do número de descendentes de cabo-verdianos nos estabelecimentos prisionais, o insucesso e o abandono escolar e uma certa conflitualidade emergente” com as autoridades locais.

Jorge Carlos Fonseca apontou também a “existência de manifestações de racismo e intolerância”. “Essas situações que resultam de uma multiplicidade de factores e que são protagonizadas por sectores minoritários, devem ser combatidas, com determinação, muita inteligência, serenidade e em articulação estreita com as numerosas organizações portuguesas que se posicionam claramente contra elas”, defendeu.

Marega no centro da conferência

O debate sobre o racismo intensificou-se nos últimos tempos em Portugal com a mediatização de episódios envolvendo cidadãos africanos, de que o caso do futebolista do FC Porto, Marega, é o exemplo mais recente.

O assunto não passou ao lado da conferência organizada para assinalar os 50 anos da ACV, com a deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Dias, a defender, durante um painel sobre integração das novas gerações de africanos, que há “manifestações de um racismo bastante enraizado e bastante naturalizado” na sociedade portuguesa.

A parlamentar considerou que uma das maiores dificuldades nesta matéria é o “reconhecimento de que as manifestações de racismo configuram obstáculos aos direitos e à emancipação dos negros em Portugal”. “Existem manifestações de racismo e essas manifestações são uma das causas da desigualdade e da exclusão social”, adiantou.

Beatriz Dias encontra muitas das origens deste racismo no processo colonial português, defendendo a necessidade combater o eurocentrismo no ensino da História desse período, bem como de promover uma “justiça histórica” para o continente, as civilizações e as culturas africanas para combater a ideia de “inferioridade biológica e cultural” que continua a existir na sociedade portuguesa.

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