Valhadolid: Sólo se vive una vez

O leitor Paulo Jorge dos Mártires Batista partilha a sua experiência na cidade espanhola, que merece ser conhecida de forma demorada.

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Pela primeira vez viajei para fora de Portugal, em trabalho, de carro. A opção pareceu-me clara, considerando a distância entre Lisboa e Valhadolid, pouco menos de 600km, mas sobretudo a possibilidade de ir a Simancas, mesmo nas proximidades do meu destino e, no regresso, visitar familiares no concelho de Fornos de Algodres. A juntar a isto, logo que entrei em Espanha, via Vilar Formoso, até chegar a Valhadolid, não tive de me preocupar em pagar mais portagens, em total oposição com o verificado nas estradas de Portugal. Finalmente, o que não é de somenos, o preço dos combustíveis no país vizinho é muito mais barato do que o praticado em terras lusas.

Pela negativa, apenas o facto de Valhadolid, entre Dezembro e Fevereiro, ser uma das cidades mais frias de Espanha, com o céu quase sempre encoberto e chuva miudinha constante, cenário que, infelizmente, se confirmou na plenitude.

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Valhadolid, situada no Noroeste da Península Ibérica, capital da comunidade autónoma de Castela e Leão, cuja área metropolitana tem cerca de 520.000 habitantes, é uma daquelas cidades que merece ser conhecida de forma demorada, com tempo, a pé, caminhando por entre as calles do seu belo e bem preservado centro histórico.

Quando estou fora de Portugal procuro reduzir o telemóvel à sua função mais básica – receber e efectuar chamadas –, não acedendo à Internet, sobretudo ao GPS, simplesmente partindo à descoberta da localidade onde estou, sem guião, mapas ou ideias pré-concebidas. No caso em apreço, tendo em conta a malha urbana, particularmente o complexo e imbricado, quase labiríntico, sistema de ruas, não foram poucas as vezes em que me perdi. E ainda bem que assim foi, porque, literalmente, ao virar de cada esquina, é possível encontrar um ponto de interesse, instalando-se a dúvida sobre o caminho a seguir, devido à variedade e número de opções, que despertam a vontade de ir mais além.

De facto, é esta a primeira impressão que fica e que se vai desenvolvendo a cada momento que se permanece em Valhadolid: a extraordinária oferta de história, cultura, arte, literatura, enoturismo, gastronomia e muito mais, tantas as opções em termos de monumentos e edifícios a visitar, onde se destacam os museus de Escultura Policromada, de Arte Contemporânea Espanhola, da Ciência, Oriental, da Academia de Cavalaria e o Diocesano e Catedralício, as casas-museus de Cervantes, de Cólon e de Zorrilla, ou a Passagem Gutiérrez, a única galeria comercial da cidade, as igrejas de San Pablo, de San Miguel e San Julián, de San Martín, de Santa Maria de la Antigua e do Salvador, o mosteiro de San Benito el Real, o convento de San Agustín, a Casa do Sol, os palácios de Fabio Nell, de Pimentel, de Santa Cruz, do Marquês de Villena, o palácio Real, a catedral de Nuestra Señora de la Asunción, ou o teatro Calderón, e fiquemos por aqui, porque a lista parece não ter fim.

Tive a felicidade de ficar hospedado mesmo no coração da cidade, paredes-meias com a Praça Mayor, uma das maiores e mais bonitas de Espanha, emoldurada por esplanadas e bares sob arcadas, espaço por excelência de encontro de turistas e moradores.

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Como referi, em Valhadolid deparei-me com um tempo desagradável, pouco convidativo a passeios, mas o que encontrei foi sobretudo uma cidade orgulhosa da sua história, contagiante de vida, empolgante, aberta e comunicativa, com visitantes dos mais diversos países e as ruas, sobretudo os bares, repletos de pessoas, a comer, a beber e a conversar prolongadamente, numa cidade que respira fiesta e onde o tempo parece passar mais devagar.

Se a isto juntarmos a tradicional e famosa siesta, em que a maioria dos estabelecimentos comerciais de bairro encerra, normalmente, entre as 14h e as 17h, para que os respectivos funcionários almocem sem pressa e descansem a seguir, o que pode incluir dormir, compreendemos que as diferenças entre os portugueses e os nuestros hermanos, no que respeita ao ócio, ainda são grandes.

São 18h, estou num dos apinhados cafés históricos do centro da cidade, a petiscar tapas e pinchos e não consigo deixar de pensar na música de fundo, das improváveis Azúcar Moreno, Sólo se vive una vez.

Paulo Jorge dos Mártires Batista

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