Plataforma já acolheu quase 800 refugiados e agora quer aproximá-los dos portugueses

Desde 2015 a Plataforma de Apoio aos Refugiados ajudou ao acolhimento de 162 famílias, num total de 756 pessoas. Portugal já viu nascer 24 crianças filhas destes refugiados.

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A PAR quer que os refugiados instalados em Portugal se sintam cada vez mais integrados ADRIANO MIRANDA

Depois de contribuir para acolher quase 800 refugiados em Portugal em quatro anos, a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) quer melhorar e aumentar a capacidade de acolhimento e desconstruir preconceitos promovendo o contacto entre quem acolhe e quem chega.

A PAR realiza esta quinta-feira uma Assembleia Geral, na Universidade de Aveiro, para um balanço da sua actividade, iniciada em 2015, mas também de olhos postos na estratégia para o futuro que, disse à Lusa o coordenador da plataforma e director-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS Portugal), André Costa Jorge, passa por melhorar o acolhimento, aumentar a sua capacidade e por aproximar os refugiados e a sociedade portuguesa, desconstruindo preconceitos e contrapondo-lhes factos.

“Percebemos que no contexto europeu, de onde Portugal também não está afastado, surgem muitos preconceitos e estereótipos negativos em torno dos migrantes e refugiados, que é preciso desconstruir através da apresentação de factos e também do contacto entre as pessoas. É importante que as pessoas se conheçam, contactem, que haja uma relação de proximidade entre quem acolhe e quem é acolhido de modo a que muitos medos se possam desfazer”, disse André Costa Jorge.

O balanço de quatro anos de actividade “é positivo”, desde logo pela resposta revelada “num esforço sem precedentes da sociedade civil”, sem histórico em Portugal no que diz respeito a acolhimento de refugiados à escala criada com a crise de migrações no Mediterrâneo e que permitiu “provar aos decisores políticos que com uma sociedade civil animada, preparada, estruturada e organizada para uma resposta a nível europeu é possível ir mais longe politicamente”. “Foi muito importante perceber que a plataforma de alguma maneira reforçou o sentido ético dos responsáveis políticos portugueses”, disse o mesmo responsável à Lusa.

A PAR ajudou a acolher entre 2015 e 2019 um total de 756 pessoas, agrupadas em 162 famílias. Em Portugal já nasceram 24 crianças, “um dado animador” ao qual o coordenador da PAR acrescenta a satisfação com o facto de muitos refugiados terem escolhido permanecer no país. “Também é positivo que boa parte dos refugiados que acolhemos e que escolheram permanecer em Portugal estejam em franco processo de integração na sociedade portuguesa”, disse, sublinhando ainda o esforço de integração e “a coragem” de quem decidiu ficar e aprender uma nova língua, num contexto completamente diferente e longe da família.

Às autoridades portuguesas com competências e responsabilidades no acolhimento e integração pede, no entanto, “melhorias nas respostas administrativas e burocráticas”, nomeadamente no que diz respeito à documentação, para evitar “obstáculos desnecessários” a uma rápida integração.

André Costa Jorge garante que “não há qualquer antagonismo em relação ao acolhimento a essas pessoas na sociedade portuguesa”, algo que nem a chegada ao parlamento de um partido com um discurso mais nacionalista alterou, até porque o universo de refugiados acolhidos pesa pouco no total da sociedade portuguesa.

Clima político na Europa preocupa

Menos favorável é o clima político na Europa, considerou. “No âmbito europeu vamos percebendo que há um crescimento de sentimentos xenófobos, de partidos de extrema-direita, nacionalistas, que visam hostilizar claramente o estrangeiro e criar um sentimento de insegurança nas pessoas que é, na nossa opinião, infundado, mas que alimenta discursos políticos que vão crescendo. A Europa já viveu tempos muito tristes no que diz respeito ao racismo, à xenofobia, não podemos voltar a trilhar esses caminhos”, defendeu o coordenador da PAR, que pede “a construção de pontes, não de muros”.

Da Europa espera trabalho para criar “processos de acolhimento inteligentes”, que ponham o foco nos processos “legais e seguros”, que garantam a dignidade dos migrantes e dos refugiados e que não criminalizem a ajuda humanitária, referindo situações como a da Líbia, onde surgem novas escravaturas em pleno século XXI, ou as situações de abusos a mulheres e crianças nos campos de refugiados em solo europeu, como os da Grécia, onde já se reportam suicídios de crianças e abusos e violações frequentes.

Os casos recentes de chegada à costa portuguesa de migrantes, no caso com origem em Marrocos, eram expectáveis, mas não deverão representar uma tendência de crescimento do fenómeno em Portugal, considerou André Costa Jorge, que entende que será maioritariamente de países de língua portuguesa que Portugal irá continuar a receber migrantes, como até agora.

Para 2020 a PAR quer ainda reforçar uma das componentes que está na sua génese, o voluntariado, colocando-o ao serviço dos processos de autonomização dos refugiados, acompanhando o seu processo de integração nas comunidades e no mercado de trabalho. “Queremos continuar a ser uma resposta no desanuviamento da situação dos refugiados, sobretudo os que se encontram na Europa”, disse António Costa Jorge.

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