Eleições: Maioria dos portugueses informou-se pela TV e menos de 5% na Internet

Consumo de informação política entre os eleitores portugueses continua a ser baixo e é residual a procura de conteúdos políticos na internet, diz estudo sobre o comportamento eleitoral feito a seguir às legislativas de 2019. Eleitores também não se mostram interessados em novas formas de democracia participativa.

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A televisão continua a ser o principal meio de consumo de informação política Nuno Ferreira Santos

A televisão foi o meio preferido dos portugueses para se informarem sobre a campanha eleitoral das legislativas de Outubro e menos de 5% admitiu assistir a conteúdos políticos na Internet, revela um estudo sobre o comportamento eleitoral dos portugueses em 2019 divulgado esta quinta-feira.

A televisão foi o meio de comunicação mais utilizado, com 28,6% dos inquiridos a admitir ter assistido “diariamente ou quase todos os dias” a conteúdos políticos televisivos, indica o Estudo Eleitoral dos Portugueses, coordenado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Uma percentagem inferior, 14,5%, disse “assistir diariamente ou quase todos os dias” a estes conteúdos nos jornais, incluindo edições online e apenas 5,6% recorreu à rádio “quase todos os dias ou diariamente”.

“Surpreendentemente”, afirmam os investigadores, no comunicado divulgado à imprensa, apenas “4,6% dos indivíduos admitem assistir diariamente ou quase todos os dias a conteúdos políticos na Internet”. Dos que recorreram à Internet para se informarem sobre a campanha eleitoral, a maioria, 67,1%, procurou páginas online dos jornais, TV ou rádio e 28% recorreu à rede social Facebook.

Numa análise mais detalhada sobre o papel reduzido da Internet e das redes sociais durante a campanha, verificou-se que, apesar de os partidos apostarem cada vez mais no online, apenas uma parte “muito residual dos indivíduos reporta ter visitado as páginas das forças partidárias concorrentes, menos de 5%. No entanto, as perguntas que sustentam estas conclusões referem-se ao nível de pesquisa activa de informação política, não sendo possível perceber qual no nível de exposição acidental a conteúdos políticos.

Sofia Serra da Silva, a investigadora que trabalhou esta parte do estudo, considerou “surpreendente e até desoladora” a “falta de impacto da internet” como fonte de informação dos cidadãos em período eleitoral, numa altura em que é a taxa de utilização da internet “é muito alta”. Uma hipótese meramente interpretativa, avançou, poderá ser o facto do consumo de informação pela televisão ser “um consumo passivo, ou porque a televisão está ligada, ou porque é hora do telejornal”, enquanto a consulta da internet supõe uma atitude activa, de procura.

“As pessoas subestimam o tempo que passam a utilizar a internet”, fez notar Pedro Magalhães, um dos investigadores do ICS envolvidos no trabalho. E Marina Costa Lobo, coordenadora do trabalho, considerou que a eleição de três deputados únicos do Chega, Iniciativa Liberal e Livre se deveu, em grande parte, à campanha feita pelos respectivos partidos nas redes sociais, defendendo que estas têm hoje, tal como os jornais, um importante papel de agendamento de temas e na construção da mensagem política que depois chega aos telejornais.

“A exposição à televisão é de um conteúdo que foi trabalhado nas redes sociais e nos jornais”, sublinhou. Mas na globalidade, “o nível de exposição a notícias sobre política durante a campanha eleitoral de 2019 foi média baixa (47, 1%)”, refere o estudo.

Numa análise aos resultados verificados desde 2002, “não há grandes diferenças: a televisão continua a ser o meio de comunicação por excelência usado para os indivíduos se informarem durante a campanha”, assinalam os autores.

Mais democracia participativa? 

Outra das conclusões-surpresa deste estudo é a indiferença dos inquiridos em relação a mecanismos que possam melhorar a participação democrática dos eleitores. Quando questionados sobre possíveis medidas para conferir mais poder aos cidadãos para participarem nas tomadas de decisão política através das tecnologias, “quase metade admitiu que é indiferente”.

Quanto à possibilidade de darem opinião ou mesmo votar, através da Internet, sobre projectos ou propostas apresentados no parlamento, ou participarem em consultas públicas online, um terço considerou que são medidas positivas mas considerou que não são prioritárias e menos de 10% consideram que se trata de uma prioridade.

O estudo, que foi apresentado num seminário no Instituto de Ciências Sociais, baseia-se num inquérito pós-eleitoral que decorreu entre 12 de Outubro e 19 de Dezembro, coordenado por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais liderada pela investigadora Marina Costa Lobo.

Numa análise por características sociodemográficas, os inquiridos com maior nível de escolaridade tiveram níveis de exposição mais altos a conteúdos políticos. Por sexo, verificou-se que foram os homens os que mais procuraram aquele tipo de informação. Quanto à idade, não se registaram grandes diferenças mas ainda assim houve uma prevalência da faixa etária entre os 35 e os 44 anos entre os que se informaram sobre a campanha política, disse Sofia Serra e Silva.

O universo do estudo abrange cidadãos portugueses com idade igual ou superior a 18 anos, com capacidade eleitoral activa e residentes em Portugal, seleccionados com base na morada. No estudo, que visa traçar o retrato do eleitor português nas legislativas de 2019, foram inquiridas 1.500 pessoas sobre atitudes políticas, populismo, identificação partidária, percepções sobre o contexto económico e político e a Europa.

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