O interior está na tua cabeça

Não há Orçamento do Estado que safe o interior se os que cá vivem não trabalharem ou derem azo a novas políticas e iniciativas que promovam a atracção de investimentos públicos e privados. O futuro é verde, tecnológico e smart.

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Piódão DR/Aldeias Históricas de Portugal

O interior é uma dicotomia, muitas vezes criada para as desculpas dos nossos governantes, mas também para muitos dos que cá vivem. A inércia das acções governativas, que tão importantes seriam para as gentes do interior, não se sustenta em mais do que discursos políticos ou breves acções inconclusivas do desenvolvimento socioeconómico. Entre promessas e a não exigência do cumprimento das mesmas temos um problema cultural intrínseco, que só mudará quando se olhar de forma diferente para os problemas que assolam o interior. Os discursos políticos são muitas vezes bolhas de realidade não observada, pois muitos dos seus executantes não percebem como a falta de oportunidades torna um país tão desequilibrado e diferente.

A percepção do copo meio cheio ou meio vazio diz muito daquilo que deve ser a forma como se olha para as oportunidades de desenvolvimento. No meio vazio encontramos as desculpas, no meio cheio as oportunidades. Por isso, mudar e preparar os desafios futuros depende em muito dos que cá vivem acabarem de encher o copo, tornando as desculpas em oportunidades.

O Orçamento do Estado para 2020 diz muito pouco sobre a política a seguir no próximo ano nestes territórios, sinal claro da despreocupação com que os nossos políticos encaram um problema a que eles próprios chamam interior. O pouco que vemos são coisas que pretendem agradar no imediato, e não algo que seja pensado para colher frutos no longo prazo. Por isso, a utilidade de muitas dessas políticas é tão só tapar o sol com a peneira, desviando as atenções do que é importante. Tornar o país coeso territorialmente deveria ser o mote, mas os gabinetes ministeriais continuam cheios de papel nas gavetas. 

Não há Orçamento do Estado que safe o interior se os que cá vivem não trabalharem ou derem azo a novas políticas e iniciativas que promovam a atracção de investimentos públicos e privados. O futuro é verde, tecnológico e smart. É na inovação que o futuro se sustentará e, por isso, os autarcas e governantes regionais devem hoje ter um olhar especial sobre o que se projecta para o futuro.

Hoje, mais do que nunca, as autarquias locais têm um papel fulcral na mudança de mentalidades e de paradigma. Para fixar empresas é preciso, primeiro, ter condições de empregabilidade. A acção central do poder político deve ser oferecer às empresas a possibilidade de investir, garantindo às mesmas uma certa taxa de empregabilidade, que se resolverá com políticas dirigidas aos cidadãos. Esta acção deve estar focada nos benefícios a dar aos trabalhadores que se mudem para o interior, como apoios ao arrendamento e benefícios fiscais, etc..

A abertura a uma nova mentalidade prende-se desde logo com um olhar global sobre Portugal, onde não há interior, mas sim assimetrias de coesão que devem ser corrigidas. Temos a obrigação de estar conectados com o mundo e de, com liberdade, respeitar todos sendo inclusivos. Sem preconceitos e tendo a capacidade de atrair pessoas jovens de todas as partes do mundo para que aqui se fixem e tenham condições para desenvolver os seus projectos de vida.

O poder local deve, por isso, ter a capacidade de desenvolver novos paradigmas, que, independentemente de uma política nacional, consigam potencializar a qualidade de vida do interior como uma oportunidade para todos, apontando na inovação e na valorização do trabalhador. Há por aí bons exemplos. Mas, quando não há originalidade, porque não copiar o que está bem!? Se o interior está na tua cabeça como um preconceito, ajuda-nos a encher o copo meio vazio e, ao invés de termos desculpas, teremos mais oportunidades.

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