Vaticano abre os arquivos de Pio XII aos investigadores a 3 de Março

Entre a comunidade judaica acusa-se este Papa de ter fechado os olhos aos crimes do nazismo. “Não vão encontrar nada”, o Papa fez muito nos bastidores, diz a Santa Sé.

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O cardeal português José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário do Vaticano, com o bispo Sergio Sergio Pagano (ao centro), no anúncio da abertura dos arquivos a 2 de Março Fabio Frustaci/EPA

O Vaticano abre, no dia 2 de Março, os arquivos do período da II Guerra do pontificado de Pio XII, para permitir aos investigadores averiguarem as acusações de que fechou os olhos ao Holocausto. O que vão descobrir, diz a Santa Sé, é que nos bastidores este Papa ajudou os judeus.

“Creio que não vão encontrar nada”, disse o padre Norbert Hofmann, o funcionário do Vaticano encarregado das relações religiosas com os judeus. 

A comunidade judaica pede, há muitos anos, transparência da parte do Vaticano sobre as suas actividades durante o Holocausto, e pediram ao Papa Francisco para abrir os arquivos e permitir aos historiadores e outros académicos estudá-los nos próximos anos. 

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O Papa Pio XII

Alguns acusam há muito Pio XII, que foi Papa entre 1939 e 1958, de pouco ter feito para ajudar os que eram perseguidos pela Alemanha Nazi e de não ter denunciado o Holocausto, em que foram assassinados seis milhões de judeus.

O Vaticano diz que Pio XII trabalhou nos bastidores para salvar judeus e, por isso, não agravou a situação de muitos dos que corriam riscos, incluindo católicos em algumas partes da Europa ocupada.

Quando Francisco anunciou a abertura dos arquivos, no ano passado, disse que a Igreja Católica “não tem medo da História”, o que foi repetido nesta quinta-feira aos jornalistas.

O bispo Sergio Pagano, prefeito dos Arquivos Apostólicos, disse que os documentos do período da II Guerra contêm milhões de páginas divididas em 121 secções repartidas por tópicos.

A zona de consultas destes arquivos pode acomodar 60 investigadores de cada vez e o espaço já foi reservado até ao final do ano, disse Pagano. 

“Não vamos fazer qualquer comentário por agora. Vamos deixar isso aos académicos. O material está ali. E é muito diversificado”, disse Pagano. “Vamos deixar cada pessoa chegar às suas próprias conclusões mas não temos medo. O bem [que Pio XII] fez foi tão grande que vai apagar as poucas sombras que existem”.

Francisco disse que o legado de Pio tem sido tratado com “preconceito e exagero”. Há duas semanas, o Papa lembrou numa mensagem a responsáveis de Roma que muitos conventos e igrejas da capital italiana esconderam judeus durante a ocupação alemã de Itália.

“Pio XII foi um diplomata e tinha uma personalidade tímida, era um homem muito cauteloso”, disse Hofmann, que é alemão. “Perante a circunstância da ocupação, teria sido muito difícil falar demasiado alto”.

Questionado sobre a posição assumida pela Igreja e se Pio XII fez o que podia ter feito no período da guerra, Pagano disse: “Os novos documentos vão corroborar e sublinhar que sim”. 

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