Bloomberg debaixo de fogo no debate mais agressivo do Partido Democrata

A senadora Elizabeth Warren cercou o multimilionário com ataques sobre o seu passado em relação às mulheres e às minorias, e contou com a ajuda dos restantes candidatos. Bernie Sanders mantém-se no topo das sondagens e o debate em Las Vegas fez pouco para alterar essa situação.

Foto
Bloomberg foi o alvo principal, enquanto Sanders e Warren evitaram ataques entre si Reuters/MIKE BLAKE

Michael Bloomberg enfrentou uma enxurrada de ataques no seu primeiro debate televisivo na campanha do Partido Democrata, na quarta-feira, com os seus adversários a questionarem a entrada na corrida de um multimilionário disposto a usar a sua fortuna para fazer esquecer um passado de comentários sexistas e de políticas discriminatórias.

Numa estreia difícil no debate que possibilitou aos eleitores o seu primeiro olhar sobre o magnata dos media e ex-presidente da câmara de Nova Iorque, Bloomberg pareceu sempre desconfortável e hesitante a defender o seu passado, enquanto tentava apresentar-se como a melhor hipótese dos democratas para derrotarem o Presidente Donald Trump nas eleições presidenciais de Novembro.

Todos os outros candidatos que se qualificaram para o debate – Bernie Sanders, Elizabeth Warren, Amy Klobuchar, Joe Biden e Pete Buttigieg – fizeram fila para ir atrás de Bloomberg, que subiu nas sondagens apoiado numa operação de compra de anúncios televisivos sem precedentes, que já o levou a gastar mais de 400 milhões de dólares. Mas também houve ataques pessoais entre os outros candidatos, no mais controverso dos nove debates do Partido Democrata até agora.

Todos os candidatos no palco do debate, em Las Vegas, acusaram Bloomberg de querer comprar a sua entrada na Casa Branca, e disseram que o seu passado como presidente da câmara de Nova Iorque e de empresário não é suficientemente bom para derrotar Trump.

“Estamos a concorrer com um bilionário que chama às mulheres ‘gajas gordas’ e ‘lésbicas com cara de cavalo’”, acusou a senadora do Massachusetts, Elizabeth Warren. “E, não, não estou a falar de Donald Trump, estou a falar de Bloomberg.”

“Corremos um enorme risco se substituirmos um bilionário arrogante por outro”, acrescentou.

Bloomberg foi acusado ao longo dos anos de proferir comentários sexistas e misóginos, e foi alvo de várias acusações de discriminação de mulheres no seu grupo de media.

O multimilionário, que entrou na corrida em Novembro e saltou as quatro primeiras votações, em Fevereiro, para se concentrar na “super terça-feira”, a 3 de Março, subiu para a segunda posição entre os democratas atrás do senador do Vermont, Bernie Sanders, de acordo com duas sondagens divulgadas esta semana.

No debate, Bloomberg disse que está a usar a sua fortuna em prol de uma causa importante.

“Estou a gastar este dinheiro para me livrar de Donald Trump, o pior Presidente que já tivemos. E se eu conseguir fazer isso, será uma grande contribuição para a América e para os meus filhos”, disse.

Durante um comício em Phoenix, no Arizona, Donald Trump comentou a prestação de Michael Bloomberg quando o debate ainda estava a decorrer: “Ouvi dizer que ele está a ser triturado esta noite.”

Ataques violentos

O debate ocorreu num momento crucial, três dias antes da votação no estado do Nevada, a terceira na corrida para se encontrar um adversário para Donald Trump nas eleições de 3 de Novembro.

A importância do momento ficou patente na intensidade das trocas de acusações, com o antigo vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e Elizabeth Warren, a terem de reanimar as suas campanhas após exibições fracas no Iowa e em New Hampshire no início deste mês.

Tanto Warren como Biden – que perderam terreno para Sanders e Bloomberg nas últimas semanas – criticaram Bloomberg pela forma como trata as mulheres e pediram que se comprometa a libertar as suas acusadoras dos acordos de confidencialidade assinados para resolver os casos fora dos tribunais.

Bloomberg recusou, dizendo que os acordos foram feitos “consensualmente” e com a expectativa de permanecerem privados.

“Não vamos derrotar Donald Trump com um homem que tem sabe-se lá quantos acordos de confidencialidade, e com um constante fluxo de histórias de mulheres a dizerem que foram assediadas e discriminadas”, disse Warren, a mais agressiva ao longo das duas horas de debate.

O antigo presidente da câmara de Nova Iorque disse que há “muito poucos” acordos de confidencialidade. “Nenhuma delas me acusa de nada”, disse. “Talvez não tenham gostado das minhas piadas.”

"Bem-vindo à festa, homem"

Sanders, um senador progressista que está no topo das sondagens, criticou o apoio de Bloomberg à política conhecida como “stop and frisk” (parar e revistar) que implementou em Nova Iorque, e que “perseguiu os afro-americanos e latinos de forma ultrajante”.

Há anos que Bloomberg tem dificuldades para justificar essa sua estratégia de divisão em Nova Iorque, que incentivou a polícia a parar e a revistar pessoas na rua e que resultou na detenção de um número desproporcional de negros e latinos.

Biden, que depende do apoio do eleitorado afro-americano para reanimar a sua candidatura, disse que a política “encostou à parede cerca de cinco milhões de jovens negros”.

Em resposta, Bloomberg disse que está “envergonhado” com seu apoio à política em Nova Iorque e disse que já pediu desculpas por isso.

Mas os seus rivais não estavam dispostos a enterrar o assunto.

“A questão não é se você pede desculpa ou não; a questão é a política. E foi, de facto, uma violação de todos os direitos”, disse Biden.

Após uma discussão sobre as propostas económicas de Sanders, como a exigência de que uma parte das grandes empresas seja propriedade de funcionários, Bloomberg disse que não conseguia pensar numa forma mais fácil de garantir a reeleição de Trump.

“É ridículo. Não vamos acabar com o capitalismo. Tentámos isso noutros países – chama-se comunismo – e simplesmente não funcionou”, disse Bloomberg.

Numa das poucas oportunidades para contra-atacar, Bloomberg virou-se para o senador do Vermont: “O socialista mais conhecido do país é um milionário com três casas”, disse, referindo-se a Sanders.

Pete Buttigieg, o antigo presidente da câmara de South Bend, no Indiana, que empatou com Sanders no Iowa e perdeu por pouco em New Hampshire, atacou Bernie Sanders e Michael Bloomberg.

“A maioria dos americanos não sabe onde se encaixa se tiver de escolher entre um socialista que acha que o dinheiro é a raiz de todo o mal e um bilionário que acha que esse dinheiro deve ser a raiz de todo o poder”, disse Buttigieg.

No final, Joe Biden contou aos jornalistas o que disse a Michael Bloomberg enquanto os candidatos abandonavam o palco: “Bem-vindo à festa, homem.”

Sugerir correcção
Ler 4 comentários