Benfica na Europa frente a um Shakhtar de poucos segredos

Numa cidade cuja temperatura estará pouco acima dos zero graus, o Benfica vai defrontar um Shakhtar cujo estilo de jogo e estratégia de mercado são dos mais reconhecíveis a nível europeu.

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Rúben Dias, Pizzi, Cervi e Grimaldo treinam em Kharkiv. LUSA/SERGEY DOLZHENKO

Depois do jogo desta quinta-feira, independentemente do resultado, há algo que o Benfica dificilmente alegará: que o Shakhtar Donetsk trouxe novidades inusitadas e um estilo surpreendente. É que esta primeira mão dos 16 avos-de-final da Liga Europa (17h55, SIC) – na qual o Benfica sentirá temperaturas pouco acima dos zero graus – oferece aos “encarnados” um adversário cujo estilo é dos mais distintivos a nível europeu. A observação a olho nu indica-o e as estatísticas comprovam-no.

Com o cunho do treinador português Luís Castro, o Shakhtar – que, como o Benfica, chega à Liga Europa vindo da Liga dos Campeões – foi, das 32 equipas da Champions, a que teve menos passes curtos falhados, a sexta menos rematadora, uma das que menos rematou dentro da área adversária, a terceira equipa que menos tempo jogou no último terço adversário, a segunda que menos cruzamentos fez (a par do Barcelona) e a segunda com mais faltas sofridas.

Tudo isto aponta num sentido: que este Shakhtar é uma equipa que privilegia a posse de bola e a construção criteriosa e curta desde a zona defensiva, como Luís Castro já assumiu gostar, que não é uma formação especialmente audaz, agressiva e “povoadora” no ataque às zonas de finalização e que, com muitos jogadores criativos, costuma desequilibrar a nível individual, ainda que remate pouco.

E estes dados estilísticos são uma boa ponte para abordar o que há nesta equipa. Entre jogadores e equipa técnica fala-se de 34 pessoas. Dessas 34, 18 – onze jogadores e sete elementos técnicos – falam português (mais de 50%).

O estilo está, portanto, longe de ser o típico futebol de leste, mais lutador e conservador do que criativo, algo que se percebe tanto pelas estatísticas já abordadas como pela observação da equipa habitualmente utilizada: o ataque, por exemplo, deverá estar entregue a Marlos (oito golos e três assistências na época), Taison (sete golos e seis assistências) e Júnior Moraes (17 golos e sete assistências). Nomes familiares e que soam pouco ao léxico eslavo que se espera das formações ucranianas.

Ainda sobre a equipa ucraniana há um dado curioso: foi a terceira equipa com menos faltas cometidas na Champions, a sexta pior defesa da prova e a segunda mais frágil no jogo aéreo – sinais de postura “macia” sem bola e permeabilidade defensiva, sobretudo pelo ar.

Por fim, o Benfica deverá estar consciente de que este Shakhtar jogará tudo o que tem na Liga Europa. A Liga ucraniana está praticamente encerrada, com a equipa de Luís Castro na liderança, 14 pontos acima do segundo classificado. Há, portanto, liberdade para apostar as fichas na Europa, apesar de o Shakhtar vir de um vazio competitivo, após a paragem de Inverno nas competições internas.

Lage recusa mau momento, Castro faz previsões

Do outro lado, haverá um Benfica que perdeu seis pontos em dois jogos, na Liga portuguesa, e que vive, possivelmente, o pior momento desde que Bruno Lage assumiu a equipa. O técnico refugiou-se, no entanto, na classificação. “Período mais difícil como treinador do Benfica? Não. Demorámos um ano para que este mau momento chegasse. Problemas e pressão são oportunidades. A equipa vem de dois jogos sem vencer e perdeu seis pontos, mas continua em primeiro. Não me lembro de alguma vez o Benfica ter perdido seis pontos e ter continuado em primeiro”, argumentou, na antevisão do jogo.

Questionado sobre a importância desta prova, o técnico não se comprometeu na comparação entre a Liga portuguesa e a Liga Europa – disse que o presidente o despediria se assumisse uma preferência –, e recusou uma candidatura à conquista da prova europeia. Uma competição que não é, explicou Lage, um problema a nível físico. “Com quatro dias de intervalo, os jogadores vão estar disponíveis [para a Liga]. Este é o tempo de intervalo perfeito para se jogar. Jogando quinta e segunda-feira não há inconveniente a nível físico”, explicou.

No lado ucraniano, Luís Castro assumiu dificuldades em determinar um favorito para a eliminatória – “é uma eliminatória muito apertada”, disse – e aventurou-se em adivinhar parte da estratégia do adversário: “Depende de como o Lage encara esta mão. Acho que vai querer tudo já neste jogo. Mas não sei, acho que vai ter três homens mais de meio e menos um dez”, previu.

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