Benfica congela na Ucrânia e está em desvantagem na Liga Europa

Exibição muito pobre de um Benfica congelado a vários níveis e um resultado que, pelo que se passou em campo, só pode deixar Bruno Lage contente e a suspirar de alívio.

Kovalenko e Ferro em duelo.
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Kovalenko e Ferro em duelo. LUSA/SERGEY DOLZHENKO
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Lance do jogo entre o Shakhtar Donetsk e o Benfica LUSA/SERGEY DOLZHENKO
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Festejos após o primeiro golo dos ucranianos LUSA/SERGEY DOLZHENKO
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Luís Castro e Bruno Lage, os treinadores das duas equipas Reuters/GLEB GARANICH
Wayne Rooney
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O lance do golo do Benfica LUSA/SERGEY DOLZHENKO

Numa cidade cuja temperatura rondou os zero graus celsius, o Benfica congelou. Congelou as pernas – a passividade defensiva permanente atesta-o –, mas também o cérebro – que o diga Rúben Dias, que manchou uma boa exibição com um erro flagrante. Com tudo isto, dificilmente o desfecho seria diferente da derrota (2-1) sofrida nesta quinta-feira, frente ao Shakhtar, em jogo da primeira mão dos 16 avos-de-final da Liga Europa.

Um resultado negativo, é certo, mas que traz, ainda assim, duas boas notícias: uma é que o golo marcado fora abre boas perspectivas para o jogo do Estádio da Luz (basta um triunfo por 1-0), a outra é que este resultado na Ucrânia… poderia ter sido pior. Bem pior.

Quarto jogo sem vencer

Este quarto jogo consecutivo sem vencer teve, da parte do Benfica, contornos estranhos. A equipa teve de lidar com muito frio, é certo, mas não é crível que tenha sido esse o causador de tamanha passividade.

A equipa “encarnada” surgiu em Kharkiv com Pizzi próximo de Seferovic e Chiquinho na direita, mas a dupla de ataque esteve permanentemente “adormecida”. Se, por um lado, a passividade defensiva impede uma equipa de defender convenientemente, a passividade ofensiva não é menos prejudicial.

Numa primeira parte muito lenta – e o Benfica teria ganho em aumentar o ritmo de jogo perante uns ucranianos sem competição desde Dezembro –, os centrais e os médios estiveram permanentemente sem soluções, fruto da incapacidade de Pizzi e Seferovic darem linhas de passe. Não houve apoios frontais em aproximação, não houve movimentos de profundidade e mesmo em largura pouco se viu.

Isto levou a que o Benfica tivesse muitas dificuldades para criar jogo, ficando o portador da bola permanentemente sem soluções e invariavelmente condenado em circular por trás, sem progressão.

Defensivamente, o Benfica não foi diferente do que tem sido. Muito permeável na transição defensiva, os “encarnados” concederam ao Shakhtar algumas saídas rápidas e três delas em superioridade numérica.

Aos 20’, os ucranianos tiveram um golo anulado por fora-de-jogo num lance deste tipo, aos 24’, após transição rápida, Ferro foi batido facilmente – longe de ser inédito – e Kovalenko rematou fraco e, aos 45’, Kovalenko rematou novamente sem qualidade após um contra-ataque.

A incapacidade defensiva e ofensiva do Benfica parecia, porém, ter uma solução: o Shakhtar, tal como os “encarnados”, mostrou-se pouco fiável e também passivo na transição defensiva (por algum motivo sofreram tantos golos na Champions - 12) e foi quando Taarabt conseguiu sair em progressão (fê-lo aos 20’ e aos 39’), com bola, que o Benfica criou algum perigo. Jogadores como Rafa ou Jota poderiam ter o condão de aproveitar o espaço atrás dos médios ucranianos e dar melhor seguimento do que Pizzi a este tipo de lances.

Resultado poderia ter sido pior

Ao intervalo, Bruno Lage não só não chamou “motos” para explorar esse espaço vazio como pareceu não ter incutido energia nos jogadores. A equipa regressou ainda mais passiva e o Shakhtar continuou a explorar um Benfica adormecido e com linhas muito baixas: aos 46’, Odysseas defendeu um remate de Moraes, aos 51’ Ismaily rematou ao poste, aos 55’ Odysseas defendeu perante Marlos, mas, aos 56’, o grego não conseguiu vestir mais a capa de herói.

Jogada de Taison pela esquerda (o Shakhtar, sabendo da falta de apoio a Tomás Tavares, castigou muito o lateral), Moraes trabalhou com calma dentro da área – pressão zero do Benfica, sobretudo de Ferro – e assistiu Patrick, que finalizou com classe. O golo não surpreendia e pecava por tardio. O que surpreendeu foi, sim, o que veio a seguir: o golo do Benfica.

Praticamente “caída do céu”, uma jogada de Taarabt – sempre ele a criar desequilíbrios neste Benfica recente – encontrou Tomás Tavares. Um grande pormenor do lateral culminou com penálti sofrido por Cervi e, no instante seguinte, finalização para golo do lateral português. O árbitro, aconselhado pelo VAR, decidiu invalidar o golo, por fora-de-jogo de Tavares, tendo de assinalar o penálti, que seria convertido por Pizzi.

Só que o empate durou apenas dez minutos, porque regressou o gelo ao Benfica. Desta vez não nas pernas, mas na cabeça. Rúben Dias, até então, a par de Odysseas, o melhor jogador do Benfica, também “congelou”: quis proteger uma bola junto à linha de baliza e acabou por ser “roubado” por Júnior Moraes, que assistiu Kovalenko para a finalização. E um empate que seria tremendo para este Benfica tornou-se uma derrota assim-assim.

Exibição muito pobre de um Benfica congelado a vários níveis e um resultado que, pelo que se passou em campo, só pode deixar Bruno Lage contente e a suspirar de alívio.

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