Não há resposta às diatribes de uma ditadura

No caso da Venezuela, Portugal fez o que devia ter feito. Na defesa da decência internacional ou no empenho pelo destino de milhares de portugueses, Lisboa só podia recusar apoio a Maduro e aos seus sequazes.

Quando se lida com ditaduras com a ferocidade da que Nicolás Maduro encabeça, há que esperar muitas medidas inaceitáveis, inadmissíveis e incompreensíveis, para recorrer às expressões com que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa definiu a decisão de Caracas de suspender os voos da TAP para a Venezuela durante 90 dias. E a única forma de reagir a essas decisões é usar palavras insusceptíveis de gerar qualquer tipo de aceitação, compreensão e ainda menos de submissão.

A decisão tomada sobre a TAP é, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, “inamistosa” porque não tem como justificação qualquer facto provado ou provável e porque tem como único objectivo atingir um país cuja política externa para a Venezuela ora se traduz no apoio aos seus cidadãos, ora se expressa na recusa em reconhecer Maduro como Presidente do país.

O caso com esta originalidade para o nosso noticiário pode ser surpreendente porque, felizmente, Portugal é um país com uma política externa tão suave como a sua capacidade de perturbar o concerto das nações. Haver uma companhia portuguesa, como a TAP, penalizada com esta gravidade justifica por isso que reflictamos sobre o nosso papel no mundo extracomunitário e, também, na forma como os outros encaram a diplomacia nacional.

Neste exercício, podemos recordar que por vezes defendemos os nossos interesses externos recorrendo a estratégias de subalternidade que ficaram longe de nos causar qualquer tipo de orgulho – aconteceu vezes de mais com a ditadura angolana ou com uma certa arrogância nórdica. Mas, no caso da Venezuela, Portugal fez o que devia ter feito.

Na defesa da decência internacional ou no empenho pelo destino de milhares de portugueses, Lisboa só podia recusar apoio a Maduro e aos seus sequazes. Ou congelar depósitos bancários de origem duvidosa.

A partir do momento em que esse caminho de afastar Maduro do poder se desfez na solidez e repressão da ditadura ou na fragilidade e inconsistência dos seus prováveis substitutos (nomeadamente Juan Guaidó), os interesses de Portugal ficaram ainda mais expostos ao expectável instinto punitivo do regime.

Uma ditadura acossada como a de Caracas não olha nem olhará a meios para ripostar contra os que a contestam. Basta haver uma oportunidade como a que a TAP concedeu ao transportar Guaidó. Daí à acusação não provada de transporte de materiais ilegais foi um passo e muito mais há ainda a esperar.

Face a este desenvolvimento, a solução que resta é a negociação. O que será sempre pouco e inconsequente. Resta por isso manter a coerência da razão e protestar contra outras respostas inaceitáveis, inadmissíveis, incompreensíveis ou inamistosas que hão-de chegar de Caracas.

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