Em luta contra o “separatismo islâmico”, Macron limita ensino do árabe e presença de imãs estrangeiros

O Presidente francês diz que não quer “estigmatizar, mas antes integrar” a comunidade muçulmana francesa, mas toma a ofensiva, a menos de um mês das eleições municipais.

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Emmanuel Macron rodeado de crianças em Mulhouse Jean-Francois Badias/REUTERS

O Presidente francês, Emmanuel Macron, quer lutar contra o que chama de “separatismo islâmico” em França, e por isso anunciou o fim do ensino de línguas originais dos filhos de imigrantes nas escolas, ministradas por professores dos países de origem – o seu alvo são os países muçulmanos, que ministram o árabe e o turco, por exemplo. Pretende também acabar com o sistema através do qual países como a Argélia, Marrocos e Turquia enviam líderes religiosos (imãs) para as mesquitas francesas.

“Na República, não há lugar para o islão político. Não devemos jamais aceitar que as leis da religião possam ser superiores às leis da República”, declarou Macron, numa deslocação a Mulhouse, no Leste de França.

Cerca de 300 imãs são enviados todos os anos para França por aqueles países muçulmanos, e o facto de as autoridades francesas não terem uma palavra a dizer sobre a sua escolha tem sido um motivo de irritação. Muitas vezes estes imãs não falam francês e estão sob suspeita de espalharem ideias radicais. O Presidente francês garantiu que 2020 é o último ano em vigora este sistema.

A integração, ou falta dela, da população muçulmana francesa, é um tema de ataque constante da líder da extrema-direita Marine Le Pen a Macron. Frisando que não quer “estigmatizar, mas antes integrar”, relata o Le Monde, o Presidente tenta tomar a iniciativa. Até porque as eleições municipais estão à porta – a primeira volta é já a 15 de Março –, e não se prevê um resultado muito famoso a nível nacional para o seu partido, A República em Marcha, sendo este o género de assunto fácil de capitalizar em campanha por Le Pen.

Além da questão dos imãs, prometeu também acabar com o ensino da língua de origem dos estudantes imigrantes ou filhos de imigrantes na escola pública, pago por nove governos estrangeiros. Este programa vai ser substituído por um de ensino de línguas estrangeiras. Macron disse ter chegado a acordo com todos os países, excepto a Turquia. “Não se pode deixar ter a lei turca em solo francês. Não pode ser”, declarou.

Mas Najat Vallaud-Belkacem, ministra da Educação no anterior Governo socialista, do qual Macron fazia parte, ouviu este discurso e diz quase ter caído da cadeira. No Twitter, garantiu que ela própria tinha lançado o fim deste programa (que Portugal integrava) em 2016. O actual ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, respondeu na rádio Franceinfo que o fim do programa “foi pensado pelo Governo anterior, mas apenas foi terminado com Portugal e a Tunísia”. “Vamos fazê-lo com todos os países, de verdade.”

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