China expulsa jornalistas do Wall Street Journal, EUA exigem identificação de repórteres chineses

A decisão é a retaliação pelo artigo de opinião A China é o Verdadeiro Homem Doente da Ásia, mas surge também no dia em que os EUA decidem que jornalista chineses ao serviço dos media estatais têm que ser regularmente identificados.

Foto
Wall Street Journal

O Governo chinês confirmou esta quarta-feira que cancelou as credenciais de imprensa de três correspondentes do Wall Street Journal, devido a um artigo de opinião que classificou de “racista e difamatória”.

“O povo chinês não dá as boas-vindas a órgãos de imprensa que usam termos raciais discriminatórios e atacam maliciosamente a China”, disse Geng Shuang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em conferência de imprensa.

“Nesse sentido, decidimos que, a partir de hoje, as credenciais de três jornalistas do Wall Street Journal vão ser revogadas”, anunciou.

A decisão surge após um artigo de opinião assinado por Walter Russell Mead, e publicado pelo jornal norte-americano, em 7 de Fevereiro, com o título A China é o Verdadeiro Homem Doente da Ásia.

O artigo de opinião sublinha as debilidades do país em responder inicialmente ao surto do Covid-19, e adverte para os riscos no sistema financeiro chinês, devido a décadas de excessivo investimento estatal, a uma bolha imobiliária e ao excesso de capacidade produtiva nas principais indústrias.

A expressão “homem doente da Ásia” é associado na China ao período de ocupação estrangeira, entre o final do século XIX e início do século XX, quando as potências ocidentais o usavam para se referir às pobres condições de higiene e saúde no país.

As autoridades chinesas afirmaram terem exigido um pedido de desculpas público ao jornal e a punição de Russell Mead, académico e conselheiro do antigo secretário de Estado Henry Kissinger. Mas o Governo de Pequim considera que a direcção do Wall Street Journal optou por “esquivar-se das suas responsabilidades”.

Em Agosto passado, outro jornalista do mesmo jornal foi expulso da China após a publicação de um artigo sobre Ming Chai, um primo do Presidente chinês, Xi Jingping. Chun Han Wong escreveu sobre como os negócios de Ming estavam a ser investigados pelas autoridades australianas, por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro.

A decisão de Pequim surge no dia em que os Estados Unidos anunciaram que os meios de comunicação social estatais chineses a operar no país vão precisar da aprovação do Departamento de Estado e de identificar os funcionários regularmente.

Cinco meios de comunicação, incluindo a agência noticiosa oficial Xinhua e a televisão estatal CGTN, vão passar a estar obrigados a cumprir com os mesmos regulamentos que as missões diplomáticas nos Estados Unidos.

A medida não implica restrições ao trabalho dos jornalistas, disse o Departamento de Estado, esclarecendo que os órgãos visados “estão efectivamente ao serviço do Governo chinês” e “aceitam ordens vindas directamente da cúpula”.

A China considerou “inaceitáveis” as novas regras impostas por Washington à imprensa estatal chinesa.

“Os Estados Unidos sempre se gabaram da sua liberdade de imprensa, mas estas exigências interferem no funcionamento dos órgãos chineses nos Estados Unidos e dificultam o seu trabalho”, disse Geng Shuang.

O porta-voz advertiu que a China tem agora o “direito de retaliar” contra a decisão norte-americana.

A relação entre China e EUA deteriorou-se, nos últimos anos, com Washington a definir o país como a sua “principal ameaça” e a apostar numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que ameaça bipolarizar o cenário internacional.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários