Fotogaleria
Sem-abrigo: como se sobrevive ao Inverno siberiano sem um tecto?
As condutas de aquecimento industriais de Omsk, na Rússia, oferecem o calor que falta às pessoas sem-abrigo nas longas noites siberianas. Mas o risco de queimaduras graves é elevado.
Para sobreviver às noites geladas de Inverno na região russa da Sibéria, quando as temperaturas chegam a cair aos -30º, muitas pessoas sem-abrigo dormem junto às condutas de aquecimento das fábricas.
O fotojornalista russo Alexey Malgavko tem-se dedicado a documentar o quotidiano das províncias russas mais distantes da capital Moscovo. Na cidade de Omsk, o fotógrafo registou a dura vida de quem não tem tecto para se proteger das temperaturas extremas do Inverno siberiano.
Dormir junto às condutas de aquecimento industriais é uma opção arriscada. Se a alternativa é morrer de frio, a verdade é que ficar demasiado perto destes tubos pode resultar em queimaduras graves.
O álcool é outro aliado na luta contra o frio, mas também um escape perante uma realidade austera.
Alexei Vergunov tem 46 anos e vive nas ruas há 11. "À noite dormes com os olhos fechados mas com os ouvidos abertos", diz. É uma das 3500 pessoas sem-abrigo em Omsk. Estes são os números oficiais, mas é provável que o valor verdadeiro seja mais elevado.
Pensou em reconstruir a sua vida mas a morte da sua companheira, há dois anos, devido a um cancro no fígado, fê-lo perder a vontade. "Se encontrasse uma mulher como ela, podia tentar voltar à sociedade, mas não encontro ninguém", diz.
Vergunov é dos poucos sem-abrigo que convive e fala com os moradores da cidade. "És tu que vais congelar com três cobertores, no teu apartamento, não eu entre os tubos", brinca.
A noite é a sua altura favorita. Embora esteja mais frio, a cidade e o depósito de lixo estão mais calmos e ele pode procurar garrafas de vidro e outros objectos que leva depois ao centro de reciclagem para trocar por pequenas quantias de dinheiro.
A cidade de Omsk, que fica a mais de 2000 quilómetros a leste de Moscovo, tem um abrigo nocturno para os sem-abrigo, mas fica numa zona distante do centro. Vergunov diz que não quer dormir lá porque os sem-abrigo da zona não o deixariam recolher o lixo do depósito mais perto, o que o impediria de ganhar algum dinheiro.
Por vezes, o infortúnio e a dor fazem com que alguns sem-abrigo de Omsk tentem mudar as suas vidas. Lyusya Stepanova, de 44 anos, está a considerar tentar regressar à vida em sociedade depois de 27 anos nas ruas.
No mês passado, Lyusya queimou-se nos tubos e esteve hospitalizada durante três semanas. Sofreu queimaduras graves por todo o corpo, depois de ter adormecido demasiado perto dos tubos junto aos quais estava abrigada.
Agora está no centro de reabilitação de Rozovka, a 30 quilómetros de Omsk. Quer voltar a integrar-se na sociedade mas diz que é tarde demais para cumprir sonhos antigos. "Os meus sonhos de infância eram nobres mas agora é demasiado tarde, esse barco já partiu".
Texto de Pedro Matias (editado por Pedro Guerreiro)