Helena, Mariana e Ana têm projectos sustentáveis e a Fundação Yves Rocher premiou-as

Os prémios Terre de Femmes reconhecem iniciativas sociais que respondem de forma sustentável a diferentes problemas do planeta. 18 mil euros foram distribuídos por três projectos.

Foto
Helena Antónia Silva é a fundadora da Vintage for a Cause. A marca de roupa sustentável combate o desperdício têxtil ao mesmo tempo que promove a capacitação de mulheres idosas DR

A marca de roupa sustentável Vintage for a Cause é a vencedora da 11.ª edição dos prémios Terre de Femmes, uma iniciativa da Fundação Yves Rocher que pretende dar visibilidade a projectos de mulheres portuguesas que assumem como objectivos “apresentar soluções” para o ambiente e “trabalhar para uma pegada ecológica mais positiva”. Helena Antónia Silva, fundadora da plataforma colaborativa – que assenta nos princípios do reaproveitamento de desperdício têxtil e da inclusão de mulheres idosas no mercado de trabalho –, recebeu o prémio no valor de dez mil euros, na cerimónia decorrida no Clube Universitário do Porto, ao final desta terça-feira. Os projectos Bô Energia e Plasticus maritimus, com prémios de cinco e três mil euros respectivamente, foram os restantes contemplados.

A Vintage for a Cause assenta no mote da economia circular: a ideia passa por criar, consumir e reaproveitar – tudo em loop. Roupas em final de vida são recicladas e peças fora de moda são transformadas com vista à reutilização. Ao PÚBLICO, Helena Antónia Silva conta que o projecto surgiu como uma tentativa de resposta e “combate ao desperdício da indústria de moda”, depois de a licenciada em Direito realizar uma pós-graduação em Empreendedorismo e Inovação Social – onde era fundamental “reflectir sobre problemas sociais negligenciados” e “criar respostas em forma de negócio com potencial replicável e sustentável”.

Além da vertente ecológica, a marca tem como cartões-de-visita o combate ao isolamento e o envelhecimento activo. Todas as costureiras têm mais de 50 anos e, algumas, são sinalizadas nos ateliers da actividade From Granny to Trendy, clubes de costura criativa nos quais as mulheres “ocupam o tempo e sentem-se valorizadas”. Aqui, as participantes trazem de casa os trapos antigos que querem transformar. O convívio importa tanto como o pensamento amigo do ambiente. Estes workshops organizados pela Vintage for a Cause, que diz já ter conseguido poupar três milhões de litros de água e sete mil quilos de dióxido de carbono através da recuperação de desperdício têxtil, culminam num desfile anual, com direito a sessão fotográfica profissional.

Combater a desflorestação

Para lá da moda e rumo a São Tomé e Príncipe, o projecto Bô Energia, com o qual a fundadora Mariana Valério conseguiu o segundo lugar nos prémios Terre de Femmes, combate a desflorestação e a poluição decorrente das queimadas. A jovem de 24 anos – que, em 2019, concluiu um mestrado em Bioquímica para a Saúde, na Universidade Nova de Lisboa – explica que o principal objectivo da iniciativa passa por fazer frente ao “uso excessivo de carvão” nesse país, substituindo-o por briquetes compostos por serradura, excedente do trabalho nas serralharias.

Foto
Mariana Valério comercializa briquetes a partir de desperdício para oferecer uma alternativa sustentável ao carvão em São Tomé e Príncipe. DR

Depois de se aperceber que este material – que, na maior parte das vezes, “acabava deitado ao rio ou queimado” – representava 6,5% dos resíduos produzidos em São Tomé e Príncipe, Mariana Valério começou a pensar em formas de assegurar o “aproveitamento energético e ecológico” daqueles. A doutoranda em Biologia Computacional quis apresentar alternativas sólidas à “extracção de madeira para produção de móveis e habitações”, que, salienta, apesar de vista como uma “necessidade básica das populações”, é também “muitas vezes feita de forma ilegal e descontrolada”.

Com a comercialização de briquetes a partir de desperdício, a Bô Energia consegue a mesma identidade circular sustentada pela Vintage for a Cause: a serradura, “outrora considerada lixo”, passa a ser matéria-prima para a produção desta forma alternativa de energia, reduzindo a necessidade de madeira para a produção de carvão. Uma solução que, evitando o abate de árvores, contribui para a “redução na emissão de gases com efeito de estufa”. Movido pela vontade de fazer de São Tomé e Príncipe “um país mais verde”, o projecto pretende usar o dinheiro recebido no âmbito do prémio da Yves Rocher para construir um centro de produção de briquetes.

Arte com plástico da praia

O desperdício também chega aos oceanos e, para o combater, Ana Pêgo criou Plasticus maritimus – nome científico porque estamos a falar de “uma verdadeira espécie invasora”. O que começou por ser uma página de Facebook, na qual mostrava o lixo que encontrava nas praias e imaginava “a história por detrás de cada objecto ali deixado”, passou para um projecto que consiste na “criação de arte com o plástico recolhido nos areais”.

Foto
Ana Pêgo transforma o lixo em pequenas criações artísticas no projecto Plasticus maritimus. DR

A ligação de Ana Pêgo ao mar começou cedo, através dos passeios que dava com o pai pelas marés vazias. Esta iniciativa, que procura sensibilizar para a problemática da poluição marítima “de forma lúdica e artística”, começou no fim de 2015, numa altura em que, refere a bióloga marinha, “praticamente não se falava do problema do plástico nos oceanos”. A criadora pretende, com os três mil euros recebidos, comprar material que vai usar para “melhorar as oficinas e trabalhos pessoais”. “Criar um mini estúdio portátil para fotografar as composições e fazer animações em stop-motion” é uma das ideias em cima da mesa.

A Fundação Yves Rocher atribuiu ainda uma menção especial a Anabela Teixeira, autora de Voltar à Terra, blogue voltado para questões de “alimentação biológica e limpezas ecológicas”. A actriz pretende produzir um filme documental a partir deste projecto.

Texto editado por Bárbara Wong

Sugerir correcção
Comentar