Para onde vamos na mobilidade social?

No passado mês de janeiro, o Fórum Económico Mundial publicou pela primeira vez um índice para aferir a mobilidade social. Trata-se de um índice inovador pela forma como é calculado. Neste índice estão estudados 82 países, sendo que Portugal ocupa um modesto 24.º lugar, atrás de países como Malta, Estónia, República Checa e Eslovénia. Tal como outros rankings, os países nórdicos ocupam as primeiras posições.

Em termos sociológicos, por mobilidade social entende-se a possibilidade que os indivíduos têm de evoluir em termos de hierarquia social, podendo ser medida dentro da mesma geração ou entre gerações.

A grande vantagem deste novo índice é que em vez de se basear em resultados é calculado através de propulsores da mobilidade social, ou seja, este novo índice, em vez de se basear em dados históricos, toma em consideração apenas causas que podem provocar a mobilidade social, tanto na mesma geração como nas futuras. Em vez de se esperar dez ou 20 anos para estudar dados históricos, antecipa-se as conclusões que se iriam obter no futuro, dando espaço e tempo aos decisores políticos para formularem as suas escolhas.

O índice é constituído por diversos indicadores, que se encontram integrados em cinco determinantes, que para o Fórum Económico Mundial influenciam a mobilidade social: saúde, educação (acesso à educação, qualidade da educação e da formação, bem como aprendizagem ao longo da vida), acesso à tecnologia, trabalho (oportunidades de trabalho, salários justos e condições de trabalho) e instituições (proteção social e instituições inclusivas).

Em termos do determinante saúde, estamos mal posicionados nos indicadores de prevalência de desnutrição e na qualidade de acesso a cuidados de saúde. Para mim, a grande novidade é o resultado na prevalência da desnutrição.

No que se refere ao determinante educação, formação e aprendizagem ao longo da vida, a qualidade da formação é colocada em causa, bem como o número de crianças fora do sistema escolar. O Fórum considera ainda que, em Portugal, o sistema educativo não se encontra ajustado às desigualdades existentes. O rácio de professores por alunos no ensino pré-escolar também é deficiente e também apresentamos um baixo resultado em termos de competências digitais da população ativa.

No que concerne ao determinante acesso à tecnologia, apenas cerca de 60% da população portuguesa utiliza banda larga no seu smartphone, além de evidenciarmos uma baixa pontuação na utilização da internet pela população adulta.

No determinante trabalho, Portugal encontra-se mal posicionado em diversos itens, tal como na precariedade no emprego, no desemprego rural e no desemprego da força de trabalho com o ensino básico e médio. Em termos de salários justos, a nossa pior classificação é no item de salários baixos e nas condições de trabalho, onde nos encontramos muito mal posicionados na produtividade e cooperação entre o empregador e o trabalhador.

Finalmente, no determinante instituições, deveríamos melhorar a proteção conferida pela Segurança Social, aumentar a proteção mínima garantida e existe uma perceção elevada de corrupção (se calhar não é apenas uma perceção). Pela baixa eficiência dos serviços públicos também somos penalizados em termos de score.

Como podemos verificar, existe ainda um longo caminho a percorrer se quisermos melhorar a mobilidade social, mas para um país com fronteiras definidas há mais de 850 anos, com uma localização privilegiada, com estabilidade social e sem qualquer problema de movimentos independentistas, já deveríamos estar mais bem posicionados. Claro que aos decisores políticos praticamente sempre faltou um fator importante: visão do nós em vez do eu. É um problema de séculos, não é fácil a sua resolução.

Esperemos pelos resultados do próximo ano para verificarmos a nossa evolução mas, a julgar por outros relatórios, ou ficamos na mesma ou descemos alguns lugares.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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