Galp: “Isabel dos Santos não é accionista directa nem de referência”

“O accionista de referência, de longo prazo, é a Amorim Energia, que é controlada pela família Amorim”, afirmou Carlos Gomes da Silva, CEO da petrolífera

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Carlos Gomes da Silva, presidente executivo da Galp (CEO) Nuno Ferreira Santos

O presidente executivo da Galp, Carlos Gomes da Silva, desvalorizou esta terça-feira o impacto do caso Luanda Leaks na petrolífera, alegando que Isabel do Santos não é accionista directa nem de referência da empresa.

“Nós não comentamos temas ‘accionistas’. No caso em concreto, não se trata de um accionista da Galp. O accionista de referência, de longo prazo, é a Amorim Energia, que é controlada pela família Amorim”, afirmou à agência Lusa em Londres, onde se realizou o Dia do Investidor da Galp. 

A empresária angolana Isabel dos Santos possui 40% na Esperaza Holding, a qual é controlada em 60% pela petrolífera angolana Sonangol. A Esperaza Holding, juntamente com o grupo Amorim, detém a Amorim Energia, a qual é dona de 33,34% da Galp Energia.

A Amorim Energia tem como accionistas a Power, Oil & Gas (35%), Amorim Investimentos Energéticos (20%) e a Esperaza Holding BV (45%), pelo que, indirectamente, Isabel dos Santos detém cerca de 15% da Galp Energia. 

A filha do ex-Presidente de Angola foi constituída arguida por alegada má gestão e desvio de fundos durante a passagem pela petrolífera estatal Sonangol, anunciou, em 22 de Janeiro, a Procuradoria-Geral da República de Angola. 

Em entrevista à agência Lusa, o procurador-geral Hélder Pitta Grós admitiu que existem outros processos em investigação, incluindo um empréstimo de 75 milhões de dólares (68 milhões de euros) da petrolífera estatal Sonangol para a aquisição da entrada na portuguesa Galp.

O processo surgiu na sequência da revelação, dois dias antes, pelo Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), de mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário angolano, utilizando paraísos fiscais.

Após o arresto de participações sociais e contas bancárias decidido pelo tribunal provincial de Luanda em Dezembro, a empresária angolana, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, viu também as suas contas bancárias serem congeladas em Portugal, a pedido de Angola. 

O escândalo levou Isabel dos Santos a abandonar a estrutura accionista do EuroBic, onde tinha 42,5%, acabando o banco por ser comprado pelo grupo espanhol Abanca, e da Efacec Power Solutions, tendo os seus representantes renunciado aos cargos de administradores no grupo.

Isabel dos Santos nega qualquer irregularidade e argumenta estar a ser vítima de um ataque político e rejeitou, num comunicado enviado à Lusa, que o investimento na Galp tenha sido lesivo para o Estado angolano. 

“Na realidade, esta oportunidade de negócio proporcionada à Sonangol em 2005 é o investimento mais rentável na história da Sonangol”, sublinhou, afirmando que, até agora, já rendeu mais de 217 milhões de euros em dividendos e que a participação na Esperaza vale várias centenas de milhões de euros.

A presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Gabriela Figueiredo Dias, por seu turno, já veio dizer que as notícias veiculadas pelo Luanda Leaks são “factos que impactam a confiança dos investidores” e acrescentou estar a acompanhar a Galp Energia, onde Isabel dos Santos é accionista, embora aqui não haja nenhum administrador que tenha sido constituído arguido.

O resultado líquido da Galp Energia foi de 560 milhões de euros no ano passado (em termos ajustados), o que representa uma queda de 21% (ou 147 milhões) face a 2018, anunciou o grupo esta terça-feira. 

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