Novo documento revela detalhes da perseguição à minoria muçulmana de Xinjiang

Documento revelado pela imprensa internacional lista motivos que levaram à detenção de chineses muçulmanos, como deixar crescer a barba ou ser casado com uma mulher que usa véu islâmico. Centenas de milhares de pessoas passaram nos últimos pelos campos de reeducação do Noroeste da China.

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O exterior de um campo de “educação ideológica e formação profissional” em Xinjiang REUTERS/THOMAS PETER

Ter “demasiados” filhos ou ter usado véu foram motivos que determinaram a detenção centenas de milhares de muçulmanos em campos de internamento e reeducação na China. Um documento revelado esta segunda-feira pela britânica BBC, pela alemã Deutsche Welle e por outros órgãos de imprensa internacionais demonstra como as autoridades chinesas seguiram e registaram detalhadamente pormenores da vida privada de membros da minoria muçulmana de Xinjiang, região autónoma no Noroeste do país.

O documento, composto por 137 páginas de tabelas, lista dados pessoais de mais de 3000 pessoas, e inclui informações sobre o seu vestuário, a frequência com que rezam e quem contactam no dia-a-dia. A BBC afirma que a fonte deste arquivo será a mesma que, em Novembro, divulgou documentos que detalham a organização e o quotidiano dos campos de “transformação ideológica” de membros das minorias uigur e cazaque.

A China, que tem sido alvo de condenação internacional pelo que um consórcio internacional de jornalista descreve como “o maior encarceramento maciço de uma minoria étnico-religiosa desde a II Guerra Mundial”, nega qualquer ilegalidade ou violação de direitos humanos, e justifica a prática com a necessidade de combater o terrorismo e o extremismo religioso.

No entanto, o documento conhecido esta segunda-feira é mais um indício de perseguição étnica e religiosa. A Deutsche Welle aponta o caso de um homem que foi detido, sem direito a julgamento, pelo facto de a sua mulher ter usado véu no passado e por o casal ter tido “demasiados” filhos, e outros em que o motivo de detenção foi deixar crescer a barba, jejuar, pedir um passaporte ou aceder a sites alojados no estrangeiro.

A fuga de informação de Novembro já tinha revelado a dimensão da campanha de repressão chinesa. Só numa semana de Julho de 2017, de acordo com os documentos revelados então, quase 15 mil pessoas foram enviadas para os chamados centros de reeducação. O número total de detidos é desconhecido, com organizações de defesa dos direitos humanos e membros da diáspora uigur a estimarem que entre 800 mil e dois milhões de pessoas tenham passado pelos campos de internamento de Xinjiang.

No interior destes campos, e de acordo com os documentos revelados em 2019, os detidos são vigiados 24 horas por dia, são proibidos de falar nas suas línguas nativas regionais e são punidos fisicamente por falhas no seu processo de reeducação

Desde 2009 – ano em que uma onda de violência contra a migração de chineses de etnia han (maioritária na China) causou mais de 200 mortos em Urumqi, capital e maior cidade de Xinjiang – Pequim tem instaurado um autêntico estado policial nesta região predominantemente muçulmana, recorrendo a técnicas agressivas de vigilância e reprimindo demonstrações de identidade cultural e religiosa.

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