Marega campeão!

Os racistas que vão ao futebol não gostam de futebol nem dos clubes que dizem apoiar; gostam da violência de grupo que lhes garante a “ousadia” e a proteção.

Quem tem animais de criação sabe que não pode juntar galináceos ou suínos a outros animais da mesma raça porque os donos do território (galinheiro ou pocilga) os matam.

Há, dizem os mais velhos e sabidos do assunto, que untar o porco com creolina ou juntar os galináceos durante a noite, sem que deles deem conta.

Os seres humanos, quando se juntam e atuam segundo os princípios tribais ou de horda, não são muito diferentes.

Nos humanos, a justificação para humilhar, prender, torturar, escravizar e aniquilar pode ser a cor da pele.

Milhões de africanos foram arrancados dos seus lares, embarcados e enjaulados, tendo-se chegado a discutir no seio da própria Igreja (que tinha tantos escravos como os outros esclavagistas) se tinham alma.

Esta é uma chaga do passado da Humanidade. É revoltante e chocante que, depois de séculos de escravatura, de novo saltem para a luz dos dias as trevas mais negras nas relações entre os humanos, mulheres e homens providos de cérebro.

Sem o contributo de jogadores negros o futebol não era o que hoje é. Sem o Rei Pelé, que seria do perfume deste desporto? Quem seria capaz de fazer passar a bola por cima de três adversários (um de cada vez) e depositá-la no fundo das redes no último arco a passar por cima da cabeça do guarda-redes? Quem seria capaz de parar a corrida do “Pantera Negra” deixando para trás brancos e negros que quisessem travá-lo? Quem, como o grande Eusébio, seria capaz de bater a bola àquela velocidade e naquele alvo? Quem podia ombrear com a arte de George Weah? Quem, como Matateu ou Hilário, um à frente, outro atrás, encheria os campos de aceleração ou travão nos momentos ofensivos e defensivo, respetivamente? Quem? Como se pode imaginar o futebol sem Eto'o, Drogba e, por que, não Marega?

Os racistas que vão ao futebol não gostam de futebol nem dos clubes que dizem apoiar; gostam da violência de grupo que lhes garante a “ousadia” e a proteção.

O futebol abarca a Humanidade inteira num abraço de divertimento. Por vezes vira um espetáculo deprimente de violência, mesquinhez e até quase sempre de cobardia de catervas de energúmenos.

Em Guimarães, a selva, no que ela tem de mais cruelmente bárbaro, saiu de casa e foi parar às bancadas do estádio.

Os humanos têm sentimentos quando são verdadeiros humanos portadores de humanismo.

Mas os humanos portadores de maldade e covardia juntam-se, formam hordas para se promoverem através da agressão, tentando desvalorizar aqueles que, tendo outra cor de pele, suplantam no seu ofício os adversários. Só o puro instinto primitivo e descontrolado pode justificar que, após um jogador negro marcar um golo, adeptos do Guimarães se tenham unido em coro para o achincalhar, insultar e agredir.

É a mentalidade que se pode equiparar ao cérebro dos galináceos e dos suínos que rejeitam outros que não sejam os do grupo.

São assim os cérebros desta gente que se continua a passear pelos estádios e a comportar-se como galináceos ou grunhos.

Só nos faltava, em nome desta bestialidade, os surdos que dizem não ter ouvido o que todos ouviram. Pilatos também lavou as mãos permitindo a crucificação.

E faltava também um deputado achar normal este mundo de bestialidades e, recalcitrante, voltasse a insultar e a agredir todos os negros e brancos enquanto seres humanos. Os racistas nunca dizem que o são.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico            

Sugerir correcção
Ler 1 comentários