Numa Wuhan de quarentena, Ye Jialin é o “salvador” dos animais abandonados

Depois de a quarentena ser decretada em Wuhan, epicentro do novo coronavírus, um grupo de cidadãos decidiu, com um “pequeno gesto”, contribuir para a luta contra a epidemia. No que depender dos voluntários, não existirão animais de estimação abandonados na cidade.

Foto
THE GUARDIAN

Quando foi decretado que Wuhan, o epicentro do surto do novo coronavírus, ficaria em quarentena, Ye Jialin, habitante da cidade, saiu à rua e encontrou animais abandonados e deixados para trás. Não existiam pessoas nas ruas, nem carros ou transportes públicos a circular, um cenário que descreve como algo saído de “um filme apocalíptico”. “Senti algo anormal no meu coração”, diz Ye Jialin num artigo divulgado esta sexta-feira pelo The Guardian. O vídeo com pouco mais de sete minutos conta a história de um grupo de voluntários que tem salvado e alimentado os animais que ficaram “presos” numa cidade fantasma.

Wuhan — uma cidade com 11 milhões de pessoas, que é um importante nó de transportes ferroviários, por rio e aéreo, com um centro tecnológico e de produção automóvel para marcas internacionais, e também numa área importante de produção agrícola — está debaixo de um isolamento apertado desde 23 de Janeiro. Estima-se que mais de 30 mil animais de estimação tenham ficado sós desde essa altura — os seus donos podem ter deixado a cidade antes disso ou podem não ter conseguido regressar após ser decretada a quarentena. “Depois de Wuhan ser selado, decidi fazer voluntariado a alimentar cães e gatos de pessoas que não podem voltar para as suas casas”, diz Jialin no vídeo, enquanto visita a casa de uma estudante que está nessa mesma situação.

O grupo costuma receber instruções detalhadas por parte dos donos dos animais. Dar de comer, colocar água e limpar a caixa de areia são as indicações da estudante que contactou Jialin. É habitual que os voluntários recebam as chaves de casa ou os códigos de entrada para poderem verificar que os animais estão seguros, mas mais comum é terem de forçar a entrada para resgatar cães, gatos, ou outros animais de estimação.

Durante o vídeo, é possível ver que Ye Jialin não se cruza com ninguém no caminho até à casa da estudante e apenas um veículo passa por si. “Inicialmente estava optimista com a situação do novo coronavírus. Mas quando se iniciou a quarentena comecei a ler as publicações nas redes sociais e a perceber que as pessoas se sentem deprimidas e presas”, explica o voluntário.

Na segunda casa que Jialin visita, o dono pede-lhe que procure por dois gatos. Um está escondido atrás de um urso de peluche gigante, mas o voluntário não chega a encontrar o segundo. Uma janela mal fechada denuncia que o felino poderá ter fugido e saltado de uma altura que não permitia que sobrevivesse. “O que me assusta é chegar a casa de alguém demasiado tarde e ver que o cão ou gato está morto. Sinto-me culpado”, confessa o voluntário.

Este domingo, o número total de infectados com o Covid-19 subiu 68.500. O número de mortos na China continental fixou-se nos 1665, mas há ainda a registar um morto na região especial administrativa chinesa de Hong Kong, um nas Filipinas, um no Japão e um em França, elevando o número total de mortes a nível mundial para 1669. Em Wuhan, as autoridades de saúde chinesas têm incentivado a população a permanecer em casa dentro do possível.

“Se consegues fazer algo, mesmo que seja um acto pequeno, vai contar como se tivesses contribuído para a luta contra a epidemia”, afirma Ye Jialin. “Wuhan está a passar por uma calamidade nacional. Quem me dera que tudo voltasse ao normal”. Mas, enquanto isso não acontece, o voluntário já conseguiu resgatar, alimentar e ajudar entre 20 a 30 animais de estimação.

Sugerir correcção
Comentar