Racismo no futebol: os casos e os castigos aplicados ao longo dos anos

Marega é o mais recente futebolista a ser vítima de um episódio de racismo. Casos deste género foram-se multiplicando ao longos dos anos, tanto no futebol nacional como no internacional, mas nem todos foram punidos.

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LUSA/HUGO DELGADO

O jogador do FC Porto Moussa Marega abandonou este domingo o campo durante um jogo da I Liga frente ao V. Guimarães. O avançado maliano ouviu sons racistas vindos das bancadas do Estádio D. Afonso Henriques — imitações de macacos, segundo a imprensa no local — e decidiu abandonar o terreno de jogo.

A Liga já emitiu um comunicado em que repudia os actos racistas de que Moussa Marega foi alvo na partida deste domingo. O órgão presidido por Pedro Proença afirma que os comportamentos vividos no Estádio D. Afonso Henriques “envergonham o futebol e a dignidade humana”, deixando a promessa de que a Liga tudo fará para que estes actos sejam punidos. Também o secretário de Estado da Juventude e Desporto considerou o incidente com o futebolista maliano intolerável é inaceitável, assegurando que as autoridades estão a identificar os responsáveis, a fim de serem punidos.

Marega junta-se a uma longa lista de futebolistas que já se viram envolvidos em episódios racistas ao longo dos anos. Enumeramos aqui os casos mais recentes, bem como os respectivos castigos impostos pelas federações de futebol dos respectivos países e por outras entidades internacionais.

Liga italiana “fez pouco para erradicar racismo"

Esta época tem sido marcada por constantes episódios de cânticos racistas e comportamentos discriminatórios nos estádios italianos. Recentemente, jogadores que actuam na Serie A, como Romelu Lukaku, Franck Kessie, Dalbert Henrique, Miralem Pjanic, Ronaldo Vieira, Kalidou Koulibaly ou Mario Balotelli, têm sido visados com cânticos racistas, sendo que, deste lote, apenas Pjanic, que é bósnio, não é negro.

A Liga italiana anunciou, em Dezembro, que pretendia identificar os autores destes actos, prometendo mesmo bani-los dos estádios. O director executivo da Serie A, Luigi De Siervo, garantiu, na altura, que o organismo estava a “trabalhar em dezenas de iniciativas” para combater o fenómeno.

Bernardo Silva condenado a pagar multa

Em Novembro de 2019, um tweet de Bernardo Silva valeu-lhe um castigo: o médio foi condenado pela Federação Inglesa de Futebol (FA) por conduta imprópria e ofensiva. Para além de ter sido suspenso por um jogo, o português do Manchester City foi multado em 50 mil libras – aproximadamente 58 mil euros.

Em causa estava um tweet publicado por Bernardo Silva, e apagado pouco tempo depois pelo próprio jogador, com a imagem em criança de Benjamin Mendy, colega de equipa e amigo desde os tempos em que ambos jogavam no Mónaco, acompanhado da ilustração do boneco característico dos chocolates Conguitos, com a pergunta “adivinhem quem é?”.

Apesar da investigação ao incidente ter concluído que a imagem não tinha como objectivo ofender Mendy, a Federação salientou o teor público da partilha, relembrando que o jogador tem mais de 600 mil seguidores nesta rede social e uma reputação e credibilidade elevadas.

Comentário racista sobre Balotelli

Também em Novembro, o presidente do Brescia, Massimo Cellino, proferiu palavras controversas sobre o futebolista do clube italiano Mario Balotelli. “O que se passa com Balotelli? Passa-se que ele é negro, o que é que vos posso dizer? Ele trabalha para ficar mais branco, mas tem muitas dificuldades”, disse o presidente do Brescia, aparentemente em tom de brincadeira, à margem de uma reunião da Liga italiana.

Pouco depois, o Brescia emitiu um comunicado a explicar que se tratou “evidentemente de uma brincadeira, manifestamente mal interpretada”, acrescentando que Cellino tentou “minimizar a excessiva cobertura mediática e proteger o jogador”.

Nesse mesmo mês, Balotelli foi alvo de insultos racistas em alguns jogos, nomeadamente o que o Brescia realizou frente ao Verona, com a partida a ser interrompida durante vários minutos. Nesse jogo, o avançado chegou mesmo a ameaçar abandonar o terreno de jogo, mas não chegou a fazê-lo.

Roménia, Hungria e Eslováquia castigadas

As selecções de futebol da Roménia, da Hungria e da Eslováquia, disputaram, em Setembro de 2019, alguns jogos de qualificação para o Euro 2020 à porta fechada, devido a “comportamentos racistas dos adeptos”.

Na justificação dos castigos, a UEFA especificou que nos jogos de Hungria e Eslováquia o comportamento racista aconteceu com cânticos dos adeptos, enquanto a Roménia teve não apenas cânticos, mas também tarjas ofensivas.

Bulgária punida com jogo à porta fechada

Em Outubro de 2019, a Bulgária foi punida com um jogo à porta fechada pelos cânticos racistas e saudações nazis na recepção à Inglaterra, a cumprir na qualificação para o Euro 2020 de futebol. O Comité Disciplinar da UEFA acrescentou ao castigo um jogo com pena suspensa e aplicou à federação búlgara uma multa de 85.000 euros.

O jogo entre as selecções da Bulgária e de Inglaterra, a 14 de Outubro, foi interrompido pelo árbitro na sequência de insultos racistas provenientes das bancadas contra alguns jogadores ingleses negros, tendo Tyrone Mings, Marcus Rashford e Raheem Sterling sido dos mais visados.

Seguindo os regulamentos da UEFA, o árbitro fez um anúncio através do sistema sonoro do estádio, exigindo aos adeptos que parassem com o comportamento racista, numa altura em que estavam decorridos cerca de 30 minutos, tendo ainda uma longa conversa com os dirigentes das duas selecções no final primeiro tempo.

Ainda antes do jogo, vários jogadores da selecção inglesa falaram entre si sobre que decisão adoptar caso ocorressem insultos racistas, tendo alguns, como o avançado do Chelsea Tammy Abraham, chegado a sugerir o abandono do jogo, mesmo não estando previsto no protocolo da UEFA.

Sérvia punida no jogo com Portugal

Na mesma semana da sanção à Bulgária, também a Sérvia foi condenada a disputar um jogo da fase de qualificação para o Euro 2020 à porta fechada, por manifestações racistas na partida com Portugal. Além deste castigo de um jogo à porta fechada, a federação sérvia teve de pagar uma multa de 33.250 euros.

Rio Ave multado por cânticos contra Renato Sanches

O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) condenou, em 2017, o Rio Ave ao pagamento de 536 euros de multa pelos cânticos racistas proferidos pelos seus adeptos contra Renato Sanches, que na altura representava o Benfica.

O Conselho de Disciplina teve em consideração que o Rio Ave confessou “integralmente e sem reservas todos os factos que lhe são imputados”, relativos aos cânticos dirigidos contra o jogador, o que determinou a redução para metade da multa a aplicar.

Grémio de Porto Alegre excluído da Taça do Brasil

Em 2014, a justiça brasileira condenou o Grémio de Porto Alegre à exclusão da Taça do Brasil devido a insultos racistas proferidos por adeptos contra um jogador adversário durante um jogo da competição, um “caso único no futebol internacional”. O clube foi “eliminado” da Taça do Brasil devido a insultos racistas proferidos contra o guarda-redes do Santos, Mário Costa, conhecido por “Aranha”, durante um jogo realizado entre as duas equipas a 28 de Agosto de 2014.

Leixões condenado por comportamentos dos adeptos

Em 2012, o Leixões teve de defrontar à porta fechada o Desportivo das Aves depois de ter sido condenado por comportamento racista dos seus adeptos pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol.

FC Porto multado por cânticos racistas

Também em 2012, Mario Balotelli queixou-se que ouviu os adeptos do FC Porto a entoar cânticos racistas, simulando guinchos de macacos, durante um jogo da Liga Europa. O clube português alegou, na altura, que não tinha historial de racismo e que se orgulhava de ter uma equipa multirracial. O caso resultou numa queixa e a UEFA anunciou, alguns dias depois, uma multa de 20 mil euros ao FC Porto, por “conduta racista dos adeptos”.

A FIFA anunciou, em Julho de 2019, que ia duplicar no seu código disciplinar o castigo mínimo previsto para intervenientes do futebol que tenham comportamentos racistas. Os atletas, treinadores ou dirigentes punidos por esta prática passaram a ser castigados com uma suspensão por dez jogos, em vez das habituais cinco partidas de penalização. Além disso, as alterações introduzidas ao regulamento permitem agora que os árbitros interrompam um jogo de futebol por incidentes racistas, podendo mesmo dá-lo por encerrado e atribuir a derrota à equipa infractora.

Notícia actualizada às 18h30 do dia 19 de Fevereiro com o acrescento de mais um caso e castigo 

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