Maioria é favorável à eutanásia. Mais velhos e crentes são os que menos concordam

Estudo revela que mais de metade da população é favorável à eutanásia. Dados de inquérito realizado a 1695 pessoas.

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Mais de metade dos inquiridos é favorável à eutanásia Paulo Pimenta

Mais de metade dos inquiridos num estudo do Instituto Universitário Egas Moniz mostra-se favorável à eutanásia e os que manifestaram atitudes mais desfavoráveis são os mais velhos, com menor nível de escolaridade e que se identificam com uma religião.

Esta investigação, da responsabilidade do Laboratório de Psicologia do Instituto Universitário Egas Moniz e que será apresentada na próxima semana, avaliou as atitudes da população portuguesa face à eutanásia, em articulação com factores de ordem psicológica, designadamente a solidão, a satisfação com a vida, o mal-estar psicológico, o bem-estar espiritual e a personalidade.

Os dados da investigação, que decorreu durante os meses de Dezembro do ano passado e Janeiro deste ano e abrangeu 1695 pessoas de várias regiões de Portugal continental, indicam que mais de metade (50,5%) dos inquiridos revelou atitudes favoráveis face à eutanásia, um quarto (25,6%) reportou atitudes desfavoráveis e os restantes (23,9%) manifestaram indecisão quando a esta matéria.

Verificou-se que os inquiridos com idades mais avançadas, com um menor nível de escolaridade, que se identificaram com uma determinada religião e reportaram prática da mesma, que consideraram ter um estado de saúde mais debilitado e que referiram possuir uma menor informação sobre a eutanásia são aqueles que integram o grupo dos sujeitos com atitudes mais desfavoráveis face à eutanásia”, referem os investigadores.

Pelo contrário, acrescentam, “os inquiridos mais jovens, com um maior nível de escolaridade, sem identificação com qualquer religião, que consideram ter um melhor estado de saúde, bem como um maior grau de informação sobre a eutanásia, representam o grupo dos sujeitos com atitudes mais favoráveis”.

A maioria dos inquiridos revelou uma clara preferência pelo recurso a um referendo popular para decidir acerca da despenalização (63,7%), sendo esta opção ligeiramente mais evidente nos homens (66,6%) do que nas mulheres (61,7%). Cerca de um quarto da população inquirida (23%) referiu não saber qual a melhor forma de decidir esta questão e 13,3% dos participantes manifestaram preferência pela decisão parlamentar quanto à eventual legalização da eutanásia.

Mais de metade (56%) disse ter um grau moderado de informação sobre a eutanásia e a percentagem de inquiridos que se posicionou no pólo da baixa e nula informação (22,1%) é aproximadamente a mesma daqueles que se enquadraram no pólo da elevada e muito elevada informação sobre a eutanásia (21,6%).

Perante o cenário de uma pessoa com doença terminal que pede, para aliviar a dor e sofrimento, que sejam usados meios activos como uma injecção letal, para antecipar morte, a maioria dos inquiridos (59%) diz que apoiaria este pedido. Também no caso de uma pessoa com doença terminal que, para aliviar a dor e sofrimento, pede que sejam utilizados meios passivos, como a retirada de tratamento ou equipamentos que permitem manter a vida, a maioria (68%) responde que apoiaria o pedido.

Comparando os dois cenários, os investigadores concluem que os inquiridos tendem a aceitar melhor as “práticas de eutanásia orientadas para a retirada de respostas que permitem a manutenção da vida do que para o recurso a estratégias que induzam a morte”.

Já perante o cenário de uma pessoa em estado de coma e com doença terminal, incapaz de dar o seu consentimento para pôr termo à vida, 43% dos inquiridos dizem que não apoiariam que os familiares desse doente solicitassem o recurso à eutanásia.

Quanto ao grau de aceitação da eutanásia associada ao intenso sofrimento psicológico, e perante um cenário em que uma pessoa sem doença terminal, mas com intenso sofrimento psicológico, solicita eutanásia, mais de metade (56%) recusaria o pedido. Apenas 18% dos inquiridos apresentaram uma opinião favorável a esta prática.

“Estes dados parecem sinalizar que a inexistência de uma doença terminal, conotada com sofrimento físico, está relacionada com uma menor aceitação da eutanásia, ainda que possa existir um intenso sofrimento psicológico”, escrevem os autores do estudo.

Face ao cenário de uma pessoa sem doença terminal, mas com demência irreversível grave e que ainda num estado de lucidez tenha solicitado a prática de eutanásia, caso um dia se encontrasse num estado em que não tivesse capacidade para fazer tal pedido, a maioria (51%) diz apoiar.

“Este dado parece reflectir a primazia pelo respeito à autodeterminação quanto à antecipação da morte, desde que realizada num estado de lucidez”, referem os autores.

Os resultados desta investigação serão apresentados num encontro que decorrerá no próximo dia 18, no Instituto Universitário Egas Moniz, e que integrará igualmente uma conferência sobre a “Morte e o morrer” e um debate multidisciplinar.

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