Fianna Fáil recusa negociar formação de governo com o Sinn Fein

Michéal Martin, líder dos conservadores irlandeses, diz estar disponível para negociar com todas as forças políticas, excepto com os nacionalistas. Decisão foi revelada no mesmo dia em que Mary Lou McDonald, do Sinn Féin, pediu ao Fianna Fáil que clarificasse a sua posição sobre futuras negociações.

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O líder do Fianna Fáil tinha admitido "conversar" com o Sinn Fein depois de se conhecerem os resultados eleitorais Reuters/HENRY NICHOLLS

O líder do conservador Fianna Fail, Michéal Martin, quer formar o próximo Governo da Irlanda e não está disponível para negociar com os nacionalistas do Sinn Féin, juntando-se ao Fine Gael. O anúncio acontece no mesmo dia em que a líder dos nacionalistas, Mary Lou McDonald, pediu uma reunião formal com o rival para discutirem soluções de governação. 

Garantindo querer evitar novas legislativas, Martin disse ao seu grupo parlamentar que pretende formar um executivo, deixando todas as opções em aberto, excepto a de negociar com o Sinn Féin. Foi o retomar da posição defendida na campanha eleitoral e que se havia alterado depois das eleições quando o partido admitiu “conversar” com Mary Lou McDonald, apesar das “incompatibilidades significativas”.

“Demos ao líder do partido autorização para falar com quem precisar [para formar Governo], excepto com os nacionalistas de esquerda do Sinn Féin”, disse à Reuters o deputado do Fianna Fáil Niall Collins, depois de uma reunião com deputados e senadores. 

Collins e um outro deputado, Cathal Crowe, defendem que o partido deve assumir a responsabilidade de liderar um governo minoritário com um acordo de cooperação com os democratas-cristãos do Fine Gael, à semelhança da inédita solução governativa do anterior executivo dos democratas-cristãos, liderado por Leo Varadkar. E, entretanto, ouvem-se rumores, diz o diário Irish Examiner, de estar a ser equacionada uma grande coligação Fianna Fáil-Fine Gael-Verdes. 

Varadkar apoiou, ainda durante a campanha eleitoral, uma grande coligação entre o Fine Gael e o Fianna Fáil, a primeira entre os dois partidos desde a independência da Irlanda, em 1922, e recusou qualquer solução governativa com o Sinn Féin. 

O partido mais votado nas legislativas de domingo passado foi o Sinn Féin (24,53%), elegendo 37 deputados dos 42 candidatos apresentados, o que representou um terramoto político no país e um sério abalo ao bipartidarismo (Fine Gael e Fianna Fáil) desde a independência. No entanto, o Fianna Fáil foi o partido que conquistou mais representação ao eleger 38 deputados, ainda que tenha recebido menos votos que os nacionalistas (22,18%). Por, fim o os democratas-cristãos ficaram em terceiro ao conquistar 35 assentos. 

Nenhuma das principais três forças políticas –  Sinn Féin, Fianna Fáil e Fine Gael – conquistou votos suficientes nas legislativas para formar executivo. Dois dos três partidos terão de cooperar se quiserem formar um governo com maioria no Dáil Eireann, a câmara baixa do Parlamento, com 160 deputados. Caso contrário terão de ser convocadas novas eleições para se ultrapassar o impasse. 

Há muito que os conservadores e os democratas-cristãos alinham na exclusão dos nacionalistas, argumentando com diferenças nas posições políticas (políticas públicas tradicionalmente de esquerda) e com a histórica ligação do partido ao Exército Republicano Irlandês (IRA), que por décadas combateu o domínio britânico na Irlanda do Norte com atentados terroristas, até ao Acordo de Sexta-feira Santa ser assinado, em 1998. O conflito causou a morte a quase 3600 pessoas. 

A recusa do Fianna Fáil foi a resposta ao aumentar da pressão da líder do Sinn Féin, para que o partido clarificasse a sua posição sobre quais as possíveis alianças e soluções governativas em cima da mesa. 

“Michéal Martin disse: ‘Sou democrata, ouço o povo e respeito a sua decisão’, então sabe que o povo votou pela mudança”, disse em comunicado Mary Lou McDonald. E, numa reunião com os recém-eleitos deputados do Sinn Féin, a líder nacionalista frisou, diz a Reuters, saber a dificuldade de convencer o Fianna Fail a juntar-se ao seu partido numa coligação governamental, mas que mesmo assim valia a pena tentar.

Uma aproximação que é o resultado de a estratégia da líder nacionalista, de negociação com as forças políticas mais pequenas do centro-esquerda irlandês para formar governo, ser incapaz de produzir uma maioria estável na câmara baixa do órgão legislativo. Isto porque a junção dos 37 deputados nacionalistas com os do Partido Verde (12 deputados), do Partido Trabalhista (6), dos Social-Democratas (6), do Solidariedade-Pessoas antes do Lucro (5) e de outros deputados independentes ser insuficiente para se alcançar os 80 necessários para a maioria – o presidente da câmara baixa, o Ceann Comhairle, é automaticamente reeleito e não vota, excepto em situações de empate.

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