Duplicar em cinco anos a sobrevivência de doentes com cancro do pulmão

É um objectivo mundial que passa a ser agora uma das metas da Aliança para o Cancro do Pulmão apresentada oficialmente no Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, comemorado a 4 de Fevereiro. Na reunião de lançamento desta iniciativa foi ainda divulgado um estudo sobre a percepção dos portugueses relativamente a esta doença.

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Henrique Casinhas

A cada 18 segundos, em todo o mundo, uma pessoa morre com cancro do pulmão. Segundo dados publicados pela Eurostat, o cancro do pulmão foi o mais fatal com 165 mil casos mortais, representando 25% de todas as mortes causadas por doença oncológica na população masculina da UE, em 2016.

Um dos grandes desafios deste tipo de tumor maligno é o diagnóstico precoce. É que 65% dos cancros do pulmão são diagnosticados em estádio avançado, o que acaba por explicar as altas taxas de mortalidade e o prognóstico reservado. Apesar de não ser o cancro mais prevalente em Portugal, vitimou 4600 portugueses, no ano de 2018, de acordo com dados do relatório Globocan promovido pela Agência Internacional para a Pesquisa sobre Cancro da Organização Mundial da Saúde (tradução de International Agency for Research on Cancer).

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A Aliança para o Cancro do Pulmão, apresentada publicamente no passado dia 4 de Fevereiro, na Fundação Oriente, em Lisboa, resulta da união de várias entidades que pretendem, através de um esforço conjunto e colaborativo, potenciar acções que permitam sensibilizar a população, alterar o paradigma da prevenção, alertar para o diagnóstico atempado da doença, melhorar a literacia dos profissionais de saúde, dos doentes e do público em geral. Inspirada no projecto internacional The Lung Ambition Alliance, a Aliança reúne várias instituições, como a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), a Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, o Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP), a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e a farmacêutica AstraZeneca.

O que sabem os portugueses sobre esta doença?

No âmbito desta Aliança, foi apresentado o estudo “A percepção dos portugueses sobre o cancro do pulmão” desenvolvido pela Spirituc – Investigação Aplicada, que resultou na aplicação de 600 questionários a cidadãos com mais de 18 anos, de ambos os sexos, residentes em Portugal Continental, com o objectivo de perceber a forma como os portugueses olham para o cancro do pulmão. “1/3 dos inquiridos considera ter um conhecimento bastante limitado sobre a doença”, avançou Rui Costa, da Spirituc, adiantando que apenas 7,8% se considera conhecedor da mesma. Do total de inquiridos, 43% considera “o cancro do pulmão bastante mais grave do que a generalidade dos outros tumores”.

Na percepção dos inquiridos, 68% das pessoas com cancro do pulmão são ou foram fumadoras. Margarida Felizardo, em representação da SPP, fez alguns comentários a estas conclusões destacando que “oito em dez portugueses consideram que devia existir mais informação e divulgação sobre o cancro do pulmão”. Denotou ainda que os inquiridos estão conscientes da gravidade da doença, (re)conhecem os factores de risco mais importantes e admitem ter pouco (ou nenhum) conhecimento sobre os tratamentos existentes para esta doença.

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Uma nova esperança

O médico oncologista António Araújo participou na reunião enquanto representante da OM para abordar o desafio do cancro do pulmão e afirmou que, ao longo de várias décadas, “passámos de uma doença rara para uma doença extremamente frequente e a que mais mata em Portugal, com um prognóstico muito reservado”. O médico abordou ainda os avanços terapêuticos traçando um panorama da evolução científica nos últimos anos. “Em 2014, a imunoterapia surgiu como uma revolução muito grande e uma nova esperança na forma de tratar os nossos doentes” acrescentou.

Enriqueta Felip, em representação da Associação internacional para o Estudo do Cancro do Pulmão (tradução da sigla inglesa IASLC - International Association for the Study of Lung Cancer), começou por focar o compromisso que a mesma estabeleceu – e ao qual se junta agora a Aliança para o Cancro do Pulmão – em duplicar em cinco anos a sobrevivência dos doentes até 2025. A também médica oncologista referiu a importância do diagnóstico precoce, as estratégias inovadoras para conseguir maior qualidade de tratamento alertando ainda para “a necessidade de identificar os fumadores” e de educar a população para os malefícios do tabaco. Estas e outras iniciativas têm vindo a ser promovidas pela IASLC.

Carina Gaspar, em representação do GECP, apresentou os grupos de trabalho desta Aliança compostos por representantes das diferentes entidades e os respectivos pilares de actuação que passam, desde logo, por “aumentar o conhecimento sobre o cancro do pulmão, ao nível da prevenção, na população em geral e nos profissionais de saúde, como por exemplo, os médicos de medicina geral e familiar e potenciar o diagnóstico atempado e o rastreio, destacando-se a criação de uma via verde e o screening de grupos de risco”. Promover o acesso dos doentes ao tratamento adequado atempadamente e melhorar a qualidade dos cuidados são também objectivos desta Aliança recém-constituída.

Uma missão de todos

A reunião terminou com um debate com o tema “A Ambição, os Desafios e a Jornada” com a participação de representantes dos membros fundadores desta iniciativa que assinaram um compromisso, entre todos, no final da reunião.

António Morais, presidente da SPP, defendeu que esta é uma luta importante para esta sociedade científica e afirmou que “o cancro do pulmão é uma doença potencialmente evitável e que o enfoque na prevenção é uma missão diária”. Para o médico pneumologista, “há que alertar os que têm factores de risco associados ao cancro do pulmão para que percebam os sinais de alarme e, por outro lado, sensibilizar os cuidados de saúde primários para a importância do diagnóstico precoce”.

Partilhar informação fidedigna com o cidadão comum é uma das prioridades da Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão. “É fundamental utilizar uma linguagem acessível para sensibilizar a população para esta doença”, defendeu a presidente Isabel Magalhães, partilhando outros desafios a superar. “Um dos problemas actuais é a falta de equidade no tratamento dos doentes e julgamos que esta Aliança pode colaborar de forma muito efectiva para melhorar esta realidade”, adiantou.

Vítor Rodrigues, presidente da LPCC acrescentou que “informação nem sempre é conhecimento”. O responsável disse ainda que “as campanhas sobre tabagismo têm de ser feitas por fumadores indicando precisamente porque é que o são e do que precisam para deixar de fumar”.

Ana Figueiredo, membro da direcção do GECP afirmou que “o foco deve estar na prevenção e em alertar as pessoas para os seus comportamentos de risco” e destacou “a necessidade de desfazer a ideia de que as novas formas de fumar são inofensivas” (como por exemplo, os cigarros electrónicos). Relativamente à inclusão do GECP nesta Aliança, salientou que “trabalhar em conjunto permite ter mais força”.

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A directora de Corporate Affairs e Market Access da AstraZeneca Portugal, Rosário Trindade considera que “esta iniciativa vai unir pessoas e instituições além de potenciar mais parcerias” de forma a tornar-se numa Aliança dos portugueses em prol da luta contra o cancro do pulmão. “O caminho faz-se caminhando e acreditamos que esta Aliança vai minimizar o impacto desta doença”, concluiu.

Maria do Céu Machado, professora catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa abriu e encerrou esta reunião concluindo que “sabemos muito, mas ainda sabemos pouco” destacando o facto de o cancro do pulmão, em Portugal, estar a aumentar entre as mulheres. Elogiando a coragem da constituição desta Aliança, defendeu que “precisamos de compromissos e não de consensos” e deixou algumas sugestões de desafios que os vários grupos de trabalho têm de assegurar como forma de alargar as suas ambições e horizontes.