Uma maratona de riso como quem corre os 100 metros

Chama-se A Peça Que Dá Para o Torto, é um replica show do premiado original inglês e estreia esta quarta-feira no Auditório dos Oceanos, em Lisboa. Com adaptação assinada por Nuno Markl, promete cansar o público de tanto rir.

Teatro musical
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De cima para baixo, da esquerda para a direita: Telmo Ramalho, Miguel Thiré, Telmo Mendes e Inês Castel-Branco Nuno Ferreira Santos
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Da esquerda para a direita: Igor Regalla, Miguel Thiré, Telmo Ramalho, Telmo Mendes e Inês Castel-Branco Nuno Ferreira Santos
Cenário teatral
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“É como se fosse uma partitura escrita e fechada”, diz Telmo Mendes Nuno Ferreira Santos
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De cima para baixo, da esquerda para a direita: Miguel Thiré, Igor Regalla e Telmo Mendes Nuno Ferreira Santos
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Miguel Thiré, o Roberto que dá corpo a Thomas Colleymoore, descreve a peça como “dramaturgicamente brilhante” Nuno Ferreira Santos
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A peça “exige o melhor de todos a todo o instante”, diz Regalla, à esquerda Nuno Ferreira Santos
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Miguel Thiré e Telmo Mendes Nuno Ferreira Santos
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O desenho de luz é uma cópia fiel do original Nuno Ferreira Santos
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Telmo Mendes com Igor Regalla Nuno Ferreira Santos
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Miguel Thiré, Telmo Mendes e Igor Regalla Nuno Ferreira Santos
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Da esquerda para a direita: Miguel Thiré, Inês Castel-Branco e Telmo Mendes Nuno Ferreira Santos
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Da esquerda para a direita: Miguel Thiré, Telmo Mendes e Inês Castel-Branco Nuno Ferreira Santos
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De cima para baixo, da esquerda para a direita: Telmo Ramalho, Miguel Thiré, Telmo Mendes e Inês Castel-Branco Nuno Ferreira Santos
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A Peça Que Dá Para o Torto “é um verdadeiro replica show”, destaca Inês Castel-Branco Nuno Ferreira Santos
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Todo o trabalho flui “de forma rígida, mas doce”, descreve Cristóvão Campos Nuno Ferreira Santos

Uma mansão, um morto, o irmão, a noiva, mais o irmão desta, e ainda o mordomo, o jardineiro e o inspector da polícia… São estes os ingredientes de Crime na Mansão Haversham, a peça que o Núcleo de Teatro da Sociedade Recreativa e Cultural do Sobralinho tem, por fim, oportunidade de encenar — isto, depois de uma série de desaires de baixo orçamento. E, além dos actores, conta-se ainda com o empenho de toda a equipa técnica, incluindo, claro, do director da companhia. Mas, ao longo de cerca duas horas, tudo o que pode correr mal, correrá, num ritmo frenético que, apesar de parecer por vezes inesperado, é cronometrado ao segundo.

A Peça Que Dá Para o Torto é um replica show de The Play That Goes Wrong, de Henry Lewis, Jonathan Sayer e Henry Shields, da companhia inglesa Mischief Theatre, e foi trazido para Portugal pela UAU, que descreveu o espectáculo como a sua “maior produção de sempre”. O director da produtora, Paulo Dias, adiantou, por altura da apresentação à imprensa que o investimento ronda os 500 mil euros — com uma grossa fatia destinada a substituir, diariamente, peças do cenário​. Já tínhamos referido que ia mesmo correr mal? E que, pelo meio, mal há tempo para recuperar o fôlego?

“O ritmo é alucinante, mas controlado”, esclarece o actor Telmo Ramalho que é Max, o actor responsável por dar vida a Cecil Haversham, irmão do defunto, e a Arthur, o jardineiro, e que também assegura o treino físico dos colegas, preparando-os para “uma comédia física”. E é nesse controlo que reside o segredo deste elenco.

“Temos que poder contar uns com os outros”, diz Joana Pais de Brito que é Anita, a contra-regra do Sobralinho, mas que, sem saber muito bem como, acaba por assumir um dos papéis em Crime na Mansão Haversham. Caso contrário, uma peça mal oleada poderá pôr em causa toda a engrenagem e alguém poderá verdadeiramente magoar-se — e, mesmo com tudo sob controlo, há quem, entre o elenco, já exiba nódoas negras como medalhas. “Não podemos estar desfocados”, sublinha Igor Regalla, o Dinis do Sobralinho que dá vida a Perkins, o mordomo da mansão.

Sendo que, até para isso, estão preparados: João Veloso, Rita Silvestre e Valter Teixeira não só prestam assistência como técnicos do Núcleo de Teatro do Sobralinho, como estão prontos para, a qualquer altura, substituírem qualquer um dos actores: “Eles sabem os papéis e as falas de todos nós”, elogia Regalla, que adianta que a peça “exige o melhor de todos a todo o instante”.

Afinal, A Peça Que Dá Para o Torto “é um verdadeiro replica show”, destaca Inês Castel-Branco, a Sandra do teatro recreativo que assume a personagem de Florence Colleymoore, a querida de Charles Haversham, que aparece morto precisamente na noite do noivado. Ou seja, o projecto foi comprado na íntegra — desenhos de luz, som, cenário, guarda-roupa… —, o que obriga a que a produção nacional, com texto em português, adaptado pelo radialista Nuno Markl e com encenação residente de Frederico Corado, seja uma cópia fiel do original.

“É como se fosse uma partitura escrita e fechada”, diz Telmo Mendes, o João do grupo teatral amador que se esforça (com pouco sucesso para bem do espectáculo…) por fazer com que Charles Haversham pareça mesmo morto. Ainda que, haja aqui e ali, “um buraquinho onde se possa improvisar”. É aqui que entra a língua de Camões, trabalhada por Markl, e os detalhes da realidade nacional incluídos, que Frederico Corado acredita serem capazes de fazer com que “o público português se identifique” com uma peça tão inglesa. E até a inclusão de um actor brasileiro (Miguel Thiré) veio acrescentar um bem-vindo toque de tropicalidade.

“Uma orgia de audições”

Sendo um replica show, também o método de trabalho é copiado do formato britânico, que, em cinco anos de carreira, já saiu de West End para passar pela Broadway, tendo obtido sucesso nos cerca de 30 países onde foi encenada e amealhado prémios: um Tony para melhor cenografia ou um Olivier para melhor nova comédia, entre outros.

Miguel Thiré, o Roberto que dá corpo a Thomas Colleymoore, o irmão da noiva do defunto, e que descreve a peça como “dramaturgicamente brilhante”, conta que Hannah Sharkey, encenadora-adjunta de Adam Meggido na peça original, veio “impor uma disciplina” a que nenhum deles estava habituado.

“Logo no primeiro dia de ensaio”, relembra Alexandre Carvalho, o técnico de som e luz Telmo, mais preocupado em encontrar o álbum da sua banda fetiche, os Duran Duran, do que em assumir as rédeas da cabina, “o encontro estava marcado para as dez”. E, alguns minutos depois, lá foram chegando de forma descontraída. Mas Hannah acertou os ponteiros: afinal, 10h não é o mesmo que 10h10.

Raspanete dado, todo o trabalho passou a fluir “de forma rígida, mas doce”, descreve Cristóvão Campos, o director do Núcleo do Sobralinho Carlos e o encenador da peça em que é o Inspector Carter. De tal maneira, que “não se dá conta pelas horas a passar”, conclui Inês Castel-Branco. Sendo que, ao contrário do que estavam todos habituados, a hora do fim do trabalho também é para ser respeitada.

Não são apenas os ensaios que imitam o estilo britânico. As audições também foram acompanhadas por Hannah. “Esse foi o primeiro desafio: encontrar o elenco certo”, recorda Corado que convidou vários actores para comparecerem na audição, mas que garante não ter influenciado Hannah em nenhuma das suas decisões. E, diz Inês Castel-Branco, esta não foi uma audição qualquer: “eram muitas pessoas e prestámos provas à frente uns dos outros”, recorda.

Foram três dias intensos, com vários trabalhos de grupo — até porque, neste tipo de peça, o grupo é tão ou mais importante que o indivíduo, obrigando a um espírito que, em apenas alguns minutos de convivência nos camarins, percebe-se já estar instalado.

Mas, conjectura Telmo Ramalho, “a Hannah já sabia o que procurava para cada personagem” e revelou uma enorme “perspicácia”, criando um elenco que sabe caminhar ao mesmo compasso. “Todos nós fazemos backstage”, diz Inês Castel-Branco.

No fundo, concorda o grupo, trabalham todos os dias “com o espírito de uma verdadeira sociedade recreativa” numa peça que, arriscamos, é para ver e rever — até porque, os detalhes são tantos que é previsível que cada vez pareça a primeira.

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