Von der Leyen pede “maiores ambições” a Boris Johnson nas negociações com a UE

A presidente da Comissão Europeia criticou o primeiro-ministro britânico por este ter dito que ficaria satisfeito com um acordo comercial semelhante ao que a Austrália tem com o bloco europeu.

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Ursula von der Leyen no Parlamento Europeu PATRICK SEEGER/EPA

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse nesta terça-feira no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, que a União Europeia vai entrar nas negociações com o Reino Unido com as “maiores ambições”, mostrando-se “surpreendida” por Boris Johnson ter mencionado a possibilidade de fazer um acordo comercial com a União Europeia como o que a Austrália tem com a UE, se não for possível negociar um tão bom como o que foi assinado com o Canadá até ao fim do ano. 

“Vamos entrar nas negociações com as maiores ambições porque é isso fazem os velhos amigos e não nos devemos contentar com nada menos do que isso”, referiu. “A UE não tem um acordo comercial com a Austrália. Relacionamo-nos nos termos da Organização Internacional do Comércio. Se essa for a escolha britânica, tudo bem para nós”, disse Von der Leyen. “Mas, pessoalmente, acredito que devemos ser muito mais ambiciosos. E o discurso do primeiro-ministro [Johnson, em Greenwich] foi um bom ponto de partida”, afirmou. Disse que foi música para os seus ouvidos a afirmação de Boris Johnson que rotulava o Reino Unido como um futuro “campeão global do comércio livre”, assegurou.

“Numa altura em que esta liberdade comercial está tão abalada, devemos fazer tudo para tornar o nosso sistema mais justo e mais sólido, e é isso que temos vindo a defender ao longo dos últimos anos. Um sistema comercial que seja aberto, por um lado, e justo, por outro”, disse a presidente da Comissão Europeia.

A responsável utilizou os acordos com o Japão e o Canadá como exemplo. O modelo do Tratado Comercial com o Canadá (conhecido como CETA) reduz praticamente a zero as tarifas nos produtos comercializados entre o Canadá e a UE, protege produtos regionais e permite o acesso a concursos nacionais, regionais e locais de empresas de ambos os blocos. Não cria, no entanto, uma união aduaneira nem um mercado comum, por isso o Canadá e a UE podem fazer acordos de comércio com outros países.

“Os acordos de comércio livre fazem com que haja segurança e criam condições para pequenas e médias empresas e devem beneficiar as populações. E isto é o que também consta do que são os nossos acordos comerciais com o Japão e Canadá. Os acordos de comércio livre devem substituir a incerteza por um conjunto sólido de regras”, disse.

Para a presidente da Comissão Europeia, alcançar um acordo de comércio livre entre Londres e Bruxelas é do interesse das duas partes e este deverá ser consistente com os valores que a UE e o Reino Unido partilham. “Francamente, no mundo em que vivemos, o tamanho importa e pode ser decisivo num mercado livre de 440 milhões de pessoas, e esta é a ambição que temos para as negociações com Reino Unido”, referiu.

Durante a manhã, os eurodeputados debateram uma resolução que define a sua posição sobre uma futura parceria entre a UE e o Reino Unido.

O Governo britânico já tinha alertado que as empresas se deviam preparar para controlos aduaneiros nas fronteiras nos produtos que importem e exportem para a UE a partir de 2021, indo contra as intenções de Bruxelas. Ursula von der Leyen falou em futuras “relações comerciais isentas de quotas e de tarifas pautais, algo que a UE jamais ofereceu a alguém”.

O Reino Unido saiu oficialmente da UE a 31 de Janeiro, mas continua a aplicar as regras da UE durante um período de transição que termina no final deste ano, período durante o qual Boris Johnson pretende concluir negociações sobre um novo acordo de comércio livre.

O PÚBLICO viajou a convite do Parlamento Europeu

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