O centro vai engordar

A viragem do partido ao centro foi tudo o que o líder do PSD não foi capaz de fazer, sem contestação, nos últimos dois anos.

O populismo, os terrores do autoritarismo e a radicalização dos discursos são três das preocupações mais actuais de uma parte da classe política. Enquanto uns partidos nascem e se aproximam dos extremos, outros, mais tradicionais, com mais história, aproximam-se do centro. É o caso do PS e, sobretudo, do PSD.

Rui Rio deixou claro, na sua intervenção inicial no congresso do partido, que é ao centro que o PSD pertence. O PSD não é da direita, é do centro - rejeita populismos e extremismos. “As nossas margens são, desde sempre, a social-democracia e o nosso caudal é a confiança dos portugueses”, disse, na sexta-feira, o líder do PSD, usando a analogia entre o partido e um rio (com margens e caudal), o que combina perfeitamente com o seu próprio apelido.

“Somos um partido moderado, reformista e personalista”, acrescentou, para depois citar Francisco Sá Carneiro que em 1978 disse: “Nós, PSD, não temos qualquer afinidade com as forças da direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita”. Rui Rio quis reposicionar o seu PSD ao centro, conquistando-o à direita, para onde se deslocou em vários momentos do seu passado em que assumiu responsabilidades governativas.

A viragem do partido ao centro foi tudo o que o líder do PSD não foi capaz de fazer, sem contestação, nos últimos dois anos. Rio moderou o discurso, tentou fazer uma oposição responsável e rejeitou onerar as contas públicas, mesmo que isso o tivesse feito passar por momentos de aflição, como o caso das votações sobre o tempo de serviço dos professores ou sobre a redução do IVA da electricidade para 6%.

Não sei se já terá sido essa tentativa de mudar a geografia do partido (para o aproximar daquilo que ele era em 1978) que pôs o PSD numa conversa improvável com o Bloco de Esquerda e com o PCP sobre o IVA da electricidade, cavando um fosso em relação ao CDS no Parlamento. Desconfio bem que não. Não serão assim tão largas as margens da social-democracia.

Uma coisa é certa: ao verbalizar o afastamento do partido em relação a tudo o que podem ser extremismos, o líder do PSD vai contribuir para engordar o centro e aumentar a pressão sobre os eleitores desse espaço político, o que é uma estratégia política perfeitamente aceitável. “É onde estão os votos e se ganham eleições”, lembrou Nuno Morais Sarmento. “O centro é a primeira trincheira da direita, e a última da esquerda. Nessa linha da frente está o nosso partido”, disse ainda o vice-presidente do PSD.

O que não parece tão certo é que esse plano agrade a todo o PSD, que nos próximos meses vai ter de gerir uma estratégia de alianças, desta feita com o CDS, em matéria autárquica. Sim, o PSD de Rui Rio (que critica o Governo por estar marcado pela ideologia comunista) quer negociar com o PS a reforma do sistema político e da justiça, mas não vai desistir de governar com o CDS. O PSD é centro, mas também é direita. Negá-lo é negar o patchwork de várias sensibilidades que esteve na origem do próprio partido.

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