Para que serve um congresso?

A pergunta é aplicável a todos os partidos que optaram por ter eleições “directas”, em vez de escolherem as suas lideranças na reunião magna do partido

A pergunta começa a tornar-se uma irritação permanente, de maneira alguma específica do PSD, mas aplicável a todos os partidos que optaram por ter eleições “directas”, em vez de escolherem as suas lideranças na reunião magna do partido. 

O contraste entre o conclave dos sociais-democratas — um momento de consagração de um líder já escolhido, onde faltou novidade, debate e incerteza — e o carácter decisivo do congresso do CDS-PP, há duas semanas, só veio tornar isso ainda mais claro.

Se seria de esperar que os congressos fossem os momentos máximos da vida dos partidos e, como tal, capazes de captar a atenção de simpatizantes e de todos os que se interessem pela vida política, momentos em que se concentre a troca de ideias e se definam as opções futuras, hoje é por de mais evidente que estão esvaziados desse propósito. Mais: ao manterem todo o cerimonial de momentos únicos sem a substância respectiva, podem servir para reforçar a ideia de que a política é uma “coisa deles”, onde o que é determinante não está à vista de todos.

Em troca de esvaziar os congressos do seu carácter decisivo, as directas deveriam marcar esse maior envolvimento e participação de militantes — ou até de simpatizantes, mas hoje é também mais ou menos consensual que não representaram nenhuma mudança significativa na forma como os portugueses encaram a vida partidária.

A realidade é que o que poderia mesmo fazer diferença dá muito trabalho. Muito mudaria se houvesse envolvimento constante das bases, nas secções, nas concelhias, nas distritais, na procura de debate, de pensamento sobre os problemas locais e nacionais, em processos em escada que culminariam nas reuniões partidárias maiores, como os congressos. Dá trabalho e, em muitos casos, podem representar uma ameaça para aqueles que fundam os seus pequenos poderes em manter essas estruturas letárgicas para as despertar só nos momentos de sufrágio.

Por isso, uma das coisas importantes que se têm visto no PSD de Rui Rio é a vontade de acabar com trapalhadas como as quotas pagas às resmas na altura das eleições e que a digitalização patente no congresso foi mais uma demonstração.

E o congresso do PSD, afinal, para que serviu? Para quase nada, até porque uma das principais características que Rui Rio tem para mostrar é a sua coerência. E em coerência ele mostrou que prossegue o rumo já traçado antes do congresso.

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