Novo coronavírus tem risco de importação “muito baixo” em Portugal

Modelo computacional analisou o risco de importação de casos do novo coronavírus para cada país. Esta segunda-feira foi também marcada pela visita de Xi Jinping a vários sítios em Pequim.

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Mapa que mostra o risco de importação de casos de coronavírus, segundo o modelo de uma equipa alemã Dirk Brockmann

O novo coronavírus já causou mais de 900 mortes e infectou mais de 40.500 pessoas. Os números não deverão parar por aqui e até poderão ser agravados pelo fim das férias prolongadas do Ano Novo Lunar chinês. Para se saber para que países o vírus pode ser importado com mais facilidade, cientistas da Alemanha usaram um modelo computacional. No caso de Portugal, o risco de importação do coronavírus é “muito baixo”, estando o país na 61.ª posição da lista de risco relativo de importação do vírus. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) anunciou também esta segunda-feira mais dois casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus – foram seis até agora – e um deles já deu negativo, soube-se ao início da noite. O segundo caso suspeito, que tinha sido encaminhado para o Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, teve também um resultado negativo, informou a DGS já esta terça-feira, poucos minutos após a meia-noite.

Já foram confirmados casos do novo coronavírus em mais de 20 países. Mesmo que a grande maioria dos casos se restrinja à China, continua a preocupação de que se possam espalhar ainda mais pelo mundo. De forma a avaliar o risco de importação de casos para outros países, uma equipa da Universidade Humboldt de Berlim e do Instituto Robert Koch, ambos na Alemanha, usaram um modelo computacional, em que consideraram a distribuição dos casos confirmados na China e a rede de transportes aéreos de 4000 aeroportos e mais de 50.000 rotas aéreas. Incluíram-se já no modelo o encerramento de aeroportos devido à epidemia.

Concluiu-se que a Tailândia (além da China) é o país que mais provavelmente terá pessoas que cheguem de um dos aeroportos analisados com coronavírus. Nesta lista, segue-se o Japão, a Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Estados Unidos, Vietname, Malásia, Singapura e o Camboja. O primeiro país europeu desta lista é a Alemanha, que está na 18.ª posição. Embora Angola esteja na lista de 13 países africanos de prioridade máxima para a Organização Mundial da Saúde (OMS) na luta contra o novo coronavírus, não integra o top 10 dos países africanos com maior risco de importação neste modelo. Esse top é encabeçado pela Etiópia, seguida pelo Egipto, Quénia, África do Sul, Algéria, Marrocos, Maurícia, Reunião, Nigéria e pela Tunísia. Em termos globais, segundo o modelo, Angola está em 115.º lugar.

“Portugal tem um risco de importação muito baixo”, diz ao PÚBLICO Dirk Brockmann, da Universidade Humboldt. “Está na 61.ª posição com um relativo risco de importação de 0,01%, que é cerca de 20 vezes menor do que o risco da Alemanha.” Mesmo assim, enquanto a Alemanha tem um risco de 0,2%, a Tailândia tem de 2,2%. Dirk Brockmann refere que o objectivo deste modelo é dar uma perspectiva da situação actual e ser uma ferramenta de análise de risco que possa ser usada por decisores políticos e autoridades de saúde pública. Além de dar indicações para cada país, o modelo fornece dados para aeroportos específicos.

Do genoma à inactivação

Apesar de já ter dado tanto que falar, ainda não sabemos o suficiente sobre o novo coronavírus. Esforços não têm faltado e cientistas de todo o mundo têm estado atentos ao vírus. Entre as últimas novidades, está a publicação do código biomolecular completo do vírus.

Amostras do novo coronavírus têm sido processadas em laboratórios de todo o mundo e informação em bruto sobre o código genético tem sido enviada para o repositório dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos. A partir daí, uma equipa da Universidade da Califórnia em Santa Cruz (nos EUA) recolheu informação de 29.903 nucleótidos – a adenina, timina, citosina e guanina, elementos químicos de base que constituem a molécula de ADN, representadas pelas letras A, T, C e G – e disponibilizou-a na base de dados pública Genome Browser.

“Ao disponibilizarmos os dados sobre o coronavírus na Genome Browser da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, isso permite aos investigadores observar a estrutura do vírus e, ainda mais importante, investigar como o podem atacar”, afirma em comunicado Hiram Clawson, investigador daquela universidade.

A forma como este coronavírus se transmite tem sido outra das grandes questões. O coronavírus é transmitido por gotículas respiratórias, contacto directo com secreções infectadas e aerossóis em procedimentos terapêuticos que os produzem, refere a DGS. Mas quanto tempo persiste nas superfícies e como pode ser inactivado? Dois professores do Hospital Universitário de Greifswald, na Alemanha, tentaram responder a estas questões.

Para encontrar respostas, analisaram estudos sobre os coronavírus SARS e MERS. Verificou-se que esses vírus podiam persistir nas superfícies e continuar infecciosos à temperatura ambiente, em média, entre quatro e cinco dias. “Temperaturas baixas e uma elevada humidade no ar aumenta ainda mais o seu tempo de vida”, indica Günter Kampf num comunicado da sua instituição.

Quanto à inactivação dos vários coronavírus, em testes com soluções desinfectantes, viu-se que agentes com etanol, a vulgar água oxigenada ou hipoclorito de sódio eram eficazes contra coronavírus. Se esses agentes fossem aplicados em concentrações apropriadas, reduziriam as partículas patogénicas de um milhão para 100 em cerca de um minuto. Para os investigadores, estes resultados poderão ser extrapolados para o novo coronavírus. “Analisámos diferentes coronavírus e os resultados foram semelhantes”, assinala Eike Steinmann.

Nova reunião em Genebra

Esta terça e quarta-feira, cientistas, profissionais de agências de saúde pública, ministros da Saúde e financiadores de investigação estarão reunidos em Genebra (na Suíça) para definir prioridades na investigação e desenvolvimento de medicamentos, diagnósticos e vacinas para o coronavírus. Neste encontro organizado pela OMS em conjunto com a Colaboração Global em Investigação para a Preparação de Doenças Infecciosas, discutir-se-á a origem do vírus, identificar-se-ão falhas de conhecimento ou produtos médicos que deverão ser necessários para minimizar o impacto da epidemia. “Espera-se que o encontro produza uma agenda de investigação global para o novo coronavírus”, refere a OMS em comunicado.

Uma missão internacional liderada pela OMS também chegou à China esta segunda-feira para investigar a epidemia. Os epidemiologistas desta missão estão a tentar perceber melhor como ocorre a transmissão entre pessoas, como é que o vírus se espalha em hospitais ou por que razão morrem algumas pessoas.

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Xi Jinping visitou vários sítios em Pequim esta segunda-feira Reuters

Esta segunda-feira foi também marcada pela visita do Presidente da China, Xi Jinping, a vários sítios em Pequim, nomeadamente a um centro comunitário, um hospital ou a um centro de controlo de doenças. Xi Jinping foi sempre visto com uma máscara e a sua temperatura foi medida. No hospital de Ditan, onde estão a ser tratados doentes infectados com coronavírus, Xi Jinping chegou a participar numa videoconferência com profissionais de saúde em Wuhan – o epicentro do surto, que o Presidente chinês ainda não visitou.

Esta é considerada uma rara aparição pública de Xi Jinping durante a epidemia e ocorreu dias depois da morte do médico Li Wenliang, que tentou avisar colegas sobre o vírus e acabou por ser punido por espalhar rumores. A visita também aconteceu no dia em que muitos chineses voltam ao trabalho depois de umas férias prolongadas do Ano Novo Lunar chinês. Por isso, a OMS já realçou que o número de casos fora da China pode ser apenas “a ponta de um icebergue”.

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