O PSD quer ser o partido do meio

Um partido assumidamente ao centro, como refere o líder do PSD, tanto estará disponível para se entender com os partidos à sua esquerda como com os partidos à sua direita.

Poiares Maduro não andará longe da verdade quando diz que se Rui Rio resistir, mais tarde, ou mais cedo, acabará por ser primeiro-ministro. Quem preside a um partido como o PSD tem sempre essa probabilidade. O líder dos sociais-democratas, mais do que nunca, quer afirmar o partido ao centro, afastando-se de uma direita que não se inibe de se afirmar cada vez mais extremada. O PSD faz bem em se demarcar de qualquer contágio de deriva populista.

Não ser de esquerda nem de direita, nem liberal nem conservador, socialista ou estatizante talvez seja o caminho para ganhar eleições, mas talvez também seja de uma ambiguidade pragmática ou cínica. O PSD tem estados de espíritos, consoante as lideranças. Citar Francisco Sá Carneiro para dizer que o PSD não é e nunca será uma força de direita, quando uma boa parte da história do partido demonstra o contrário, é a rejeição de um passado que não deixará de acicatar uma oposição interna que tudo fará para que Rui Rio não resista. 

Um partido assumidamente ao centro, como refere o líder do PSD, tanto estará disponível para se entender com os partidos à sua esquerda como com os partidos à sua direita. A votação do orçamento, com uma aproximação ao Bloco de Esquerda na questão da descida do IVA da electricidade, é um prenúncio da bifurcação com a qual um partido ao centro se confrontará. Qual dos caminhos será o mais tentador quando, nas palavras de Morais Sarmento, o “centro é a primeira trincheira da direita ou a última da esquerda”?

O posicionamento do PSD naquela questão, assim como na da contagem do tempo de trabalhos dos professores, está longe de ser coincidente com a moral do discurso de Rio e com os seus recados internos quanto à exigência de uma política que não seja a do “bota-abaixo e da crítica sem critério nem coerência”. 

Depois do relativo sossego do congresso de Viana, descontando um almoço de opositores de permeio, vem aí a formação de listas para as autárquicas e as mais do que óbvias fracturas de um partido sempre partido por dentro. Está tudo dito quando Rui Rio garante que a direção “terá de se substituir à estrutura local, sempre que esta se revelar incapaz de atingir os objetivos políticos". É o que irá acontecer. O sossego será curto. Que ninguém espere que Rio seja diplomático ou consensual. Não vale a pena. Se há algo que Rui Rio não tolera, como os 12 anos de presidência da câmara do Porto, muito bem revelaram, são as divergências de opinião. E o PSD é tudo menos um partido unanimista. 

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