Por que têm os filhos de mentir?

Os pais não gostam que os filhos mintam, o que está certo, mas devem lembrar-se que isso é uma defesa para a qual podem existir muitas razões.

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As mentiras em excesso devem ser interpretadas como uma fuga de uma criança ou adolescente à resolução do problema com que é confrontado, nomeadamente quando sente que tem que agradar a adultos que têm expectativas demasiado altas sobre si e que a ameaçam com castigos severos no seu incumprimento.

Recebemos muitas vezes pedidos de ajuda dos pais, na tentativa de resolução de crises de desencontros na comunicação com os seus filhos. Isto sucede frequentemente em reação a situações de crise familiar, quando se tornam mais rígidas as regras do funcionamento do dia-a-dia, o que, quase sempre, leva também a tornar mais rígidos os comportamentos daqueles que afinal o pretendiam era a compreensão e disponibilidade dos pais.

Por exemplo, muitos pais concentram-se nos insucessos académicos em certas áreas, ignorando os sucessos noutras, ou em atividades extracurriculares, preocupando-se apenas com os atos e atitudes indesejáveis, e ignorando os comportamentos positivos.

Frequentemente, perante a mentira dos filhos, os pais, referem que “já tentei todos os castigos, tirei-lhe o telemóvel, proibi-o de jogar PlayStation, de usar o computador, de sair com os amigos, de ir aos treinos de futebol que ele adora, proibi... e ele, não deixa de mentir”.

Para possibilitar uma educação e relações familiares de sucesso, tem que se ter em atenção a forma como se realiza a comunicação entre pais e filhos, porque é que esta contribui para a construção de relações de confiança mútua.

Em vez de apontar ou atribuir culpas aos filhos, os pais devem fomentar estratégias preventivas e remediativas da mentira, promovendo um diálogo baseado numa comunicação constante e sincera, para que, nos momentos de crise, os filhos confiem neles e escolham partilhar a verdade. Se os pais conversarem sobre a honestidade e elogiarem os filhos por dizerem a verdade, especialmente quando a tentação de mentir é grande, torna-se muito mais fácil para os filhos serem verdadeiros e concentrarem-se em encontrar soluções objetivas para os seus problemas. Se os pais aceitarem os sentimentos que os filhos têm medo de revelar, eles considerá-los-ão como aliados e sentir-se-ão mais compreendidos e à vontade para contar a verdade.

Para isso é preciso promover a participação ativa das crianças e adolescentes, dando voz às suas opiniões e encorajá-los a exprimirem-nas e a proporem alternativas às nossas decisões. É necessário ouvir os pontos de vista dos filhos e dos pais e negociar, para encontrar soluções de compromisso. Se se sentirem escutadas e participarem na tomada de decisões, as crianças e jovens sentirão que são respeitadas e mostrar-se-ão, igualmente, mais respeitadoras connosco.

Os pais não gostam que os filhos mintam, o que está certo, mas devem lembrar-se que isso é uma defesa para a qual podem existir muitas razões.

Às vezes, os filhos mentem porque acham natural, por verem os seus pais mentir. O exemplo dos comportamentos dos pais vale mais do que qualquer coisa que digam. Cada mentira que os pais contam e, muitas vezes, incutem os seus filhos a contar, fica como modelo aceitável. (e.g. alguns pais pedem aos filhos para atenderem a porta ou o telefone e mentirem dizendo que não estão em casa, ou pedem que eles mintam sobre um qualquer fato que presenciaram).

Os filhos mentem por medo das consequências das suas ações, consoante o castigo ou a consequência a que serão sujeitos, para não ter que as enfrentar e escapar à responsabilidade de ter transgredido. Mentem, ou escolhem o silêncio (omitir) porque, em situações semelhantes anteriores, os pais reagiram mal, responderam de uma forma crítica e exagerada.

Mentem também para satisfazer as expectativas dos pais, professores ou amigos, para se sentirem aceites (e.g., é frequente os pais esperarem que os filhos tenham boas notas, o que os estimula a mentir quando isso não acontece). Podem mentir por insegurança ou baixa de autoestima, para serem o centro das atenções, se integrarem no grupo de pares, (e.g. dizendo que têm muitos de amigos nas redes sociais, que fizeram uma viagem inacreditável, ou que são amigos de pessoas famosas) exagerando as suas condições de relação com os amigos (até para os proteger) e da vida familiar. Mentem porque querem evitar ter que se envolver em atividades que não gostam de realizar.

No estabelecimento dos limites e das regras em relação às mentiras, os pais devem ter uma atitude firme, consistente e coerente, numa relação de diálogo. Por vezes, pensa-se que quem mais influencia as crianças e os jovens são os amigos, os professores, a Internet e as redes sociais, mas a grande influência e modelo vem dos pais.

Muitas vezes, os pais dizem que não tem tempo para os filhos. No entanto, o problema não é o tempo, mas a qualidade do tempo que têm, dos momentos que passam juntos com os seus filhos, no dia-a-dia. É preciso que cultivem uma relação de proximidade, se preocupem em conhecer os filhos, os seus amigos, e os acompanhem nas suas rotinas.

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