Chico Buarque, Sting, Willem Dafoe, Chomsky e mais de duas mil personalidades assinam artigo contra Bolsonaro

“As instituições democráticas do Brasil estão a ser atacadas. Desde que assumiu o cargo, Jair Bolsonaro, ajudado pelos seus aliados da extrema-direita, minou sistematicamente as instituições culturais, científicas e educacionais do país, bem como a imprensa”, diz a introdução do texto.

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Jair Bolsonaro fazendo o seu habitual gesto com as mãos como se fossem pistolas Diego Vara/REUTERS

Quase três mil personalidades de várias nacionalidades e diferentes áreas assinam um artigo, divulgado na sexta-feira à noite, contra o “regime de direita do Brasil”, chefiado pelo Presidente Jair Bolsonaro. Entre os signatários – 2776 ao todo – estão os músicos Chico Buarque, Sting e Caetano Veloso, o filósofo Noam Chomsky, os escritores Valter Hugo Mãe, Mia Couto e Milton Hatoum, a realizadora Petra Costa, o actor William Dafoe e o fotógrafo Sebastião Salgado.

O artigo, publicado no jornal britânico The Guardian, afirma que o Governo brasileiro “quer censurar livros didácticos, espiar professores e reprimir grupos minoritários e LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgénero]”, apelando ao apoio da comunidade internacional.

“As instituições democráticas do Brasil estão a ser atacadas. Desde que assumiu o cargo, Jair Bolsonaro, ajudado pelos seus aliados da extrema-direita, minou sistematicamente as instituições culturais, científicas e educacionais do país, bem como a imprensa”, diz a introdução do texto.

No texto, o grupo enumera uma série de polémicas que envolveram o Governo brasileiro que tomou posse em Janeiro de 2019 – desde uma “campanha para incentivar estudantes (...) a filmar secretamente os seus professores e denunciá-los por ‘doutrinação ideológica"”, à “demissão do director de marketing do Banco do Brasil, por criar uma campanha publicitária promovendo a diversidade e a inclusão”.

As questões ambientais não ficaram de fora das críticas, com foco para os incêndios na Amazónia no Verão passado, sublinhando que, enquanto a floresta ardia “a um ritmo alarmante, o Governo Bolsonaro retaliava contra cientistas que ousavam apresentar factos”, mencionando o caso de Ricardo Galvão, ex-director do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, demitido por divulgar dados de satélite sobre a desflorestação na região.

O documento destaca os ataques à imprensa, dando o exemplo do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, responsável pela investigação jornalística que pôs em causa a imparcialidade da Lava Jato, maior operação contra a corrupção no país, e de Sergio Moro, ministro da Justiça. Greenwald foi denunciado pelo Ministério Público num inquérito sobre acesso ilegítimo a conversações de autoridades em telemóveis, usadas nas suas reportagens - mas na sexta-feira a Justiça não aceitou a queixa.

“Este é um Governo que não possui plano de desenvolvimento para o seu povo. (...) Tememos que esses ataques às instituições democráticas possam tornar-se irreversíveis em breve”, acrescenta.

O texto termina com um apelo dos subscritores para que a comunidade internacional “expresse solidariedade pública” à iniciativa e condene “as tentativas do Governo Bolsonaro de pressionar politicamente as organizações artísticas e culturais”, “pressionando o Brasil a respeitar plenamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, assim, respeitar a liberdade de expressão, pensamento e religião”.

“Exortamos os órgãos de direitos humanos e a imprensa internacional a destacar o que está a acontecer no Brasil. Este é um momento político grave. Devemos rejeitar a ascensão do autoritarismo”, termina o texto, publicado no The Guardian.

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