Birras, afinal, são uma coisa boa!

Ser pai pode ser um processo de “cura” para os nossos próprios desafios emocionais, quando temos apoio e uma oportunidade de sermos ouvidos por nós mesmos. O blogue For Babies Brain faz parte dos Pares do Ímpar.

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As lágrimas ajudam a libertar a hormona do stress DR

Acredite ou não, as birras são uma parte importante da saúde e do bem-estar emocional das crianças.

As birras das crianças são um dos aspectos mais desafiadores da parentalidade. É certo que nos sentimos muito bem quando as nossas crianças estão sorridentes e calmas, mas também há momentos em que nos chegamos a sentir impotentes e oprimidos quando elas estão num momento de birra, deitadas no chão a chorar e a gritar. Acredite que é possível aprender a lidar e a ficar mais calmos, quando enfrentamos as birras das crianças.

Aqui estão algumas razões de por que é que as birras são importantes para a criança:

1. Melhor fora do que dentro
As lágrimas contêm cortisol, a hormona do stress. Quando choramos, estamos literalmente a libertar o stress do nosso corpo. Descobriu-se que as lágrimas diminuem a pressão arterial e melhoram o bem-estar emocional. Provavelmente por isso, já deve ter notado que durante a birra o seu filho fica frustrado, irritado ou a choramingar, mas que depois da “tempestade” fica de muito melhor humor.

2. Melhora a qualidade de sono
Frequentemente, os problemas de sono ocorrem porque nós, os pais, achamos que a melhor abordagem para “lutar” contra as birras é tentar contorná-las. Então, as emoções reprimidas de uma criança elevam-se durante a noite, quando o seu cérebro está em repouso. Tal como os adultos, as crianças também acordam porque estão com elevados níveis de stress ou a tentar processar algo que está a acontecer nas suas vidas. Permitir que o seu filho chegue ao fim da sua birra vai melhorar o seu bem-estar emocional e pode ajudá-lo a dormir melhor durante a noite.

3. Dizer “não” é uma coisa boa
É provável que a birra da criança comece porque lhe disse ‘não’. E isso é uma coisa boa! O dizer “não dá!” ou “não pode ser”, transmite à criança os limites claros acerca dos tipos de comportamentos aceitáveis e inaceitáveis. Às vezes, podemos evitar dizer o ‘não’ porque não queremos lidar com as consequências emocionais (melhor dizendo, com uma birra) mas, podemos manter-nos firmes com os nossos limites e, ao mesmo tempo, oferecer apoio, amor, empatia e claro… abracinhos. Escolha por isso, muito bem os ‘nãos’, o que é o mesmo que dizer, escolha as suas batalhas: umas coisas serão “inegociáveis” enquanto outras podem “deixar cair”.

4. Aproxima-o do seu filho
As birras são, na verdade, um grande elogio à parentalidade, mesmo que nem sempre pareça assim! Quando fazem uma birra, as crianças não têm a intenção de nos manipular para conseguir o que querem. Muitas vezes, a birra é uma expressão do ter de lidar com o ‘não’. Claro que podemos dizer que é uma expressão exuberante, mas é a forma de os mais pequenos o conseguirem fazer! Podemos e devemos ficar firmes com o ‘não’, mas devemos ter empatia com a tristeza delas. A raiva perante o brinquedo que se partiu ou a cor que não se queria nas meias é apenas um motivo. O que o seu filho realmente está a dizer-lhe é que precisa do seu amor, dos seus abraços. O seu filho vai sentir-se mais próximo de si, depois de a “tempestade” passar.

5. As birras ajudam no comportamento das crianças, a longo prazo
As emoções das crianças surgem de diversas formas, nem sempre coordenadas com aquilo que seria de esperar. Por exemplo: através de comportamentos mais agressivos, dificuldade em partilhar ou recusar-se a cooperar em tarefas simples, como vestir-se ou escovar os dentes. Quando isto acontece, é um sinal de que elas estão literalmente a lutar contra as suas próprias emoções. Fazer uma grande birra vai ajudar o seu filho a libertar os sentimentos que podem atrapalhar o seu lado mais cooperativo.

6. O seu filho apenas está a fazer algo que a maioria de nós, se esqueceu de como fazer
A partir do momento em que o seu filho começar a crescer, vai chorar cada vez menos perante as contrariedades. Em parte, isso deve-se ao que se chama ‘maturidade’, com o necessário desenvolvimento da maior capacidade de regulação das suas emoções. Por outro lado, está também a aprender a “encaixar-se” na sociedade que, regra geral, é bastante punitiva em relação a essa expressão emocional. Quando nós, os adultos, ficamos irritados ou com elevados níveis de stress e “explodimos” com os nossos filhos, muitas vezes é porque precisamos de um bom choro também, de descarregar e fazer uma grande birra! Muitas vezes, para nós adultos torna-se difícil encontrar essa sensação de segurança e conexão para “deixar fluir” os sentimentos. Assim sendo, não se esqueça que deixar o seu filho chorar e fazer aquela birra vai, sem dúvida, melhorar o humor dele.

7. As birras “curam”
Quando temos de lidar com uma birra do nosso filho, isso desperta em nós “grandes” sentimentos que, por vezes, desconhecíamos que podíamos sentir! Isto tem a ver com o facto de na nossa infância, provavelmente, os nossos pais não escutaram as nossas “explosões” com muita empatia. E por isso, o comportamento do nosso filho desencadear lembranças (muitas vezes inconscientes) de como fomos tratados em criança. Isto significa que, ser pai pode ser um processo de “cura” para os nossos próprios desafios emocionais, quando temos apoio e uma oportunidade de sermos ouvidos por nós mesmos.

Depois da tempestade do seu filho passar, aproveite para dedicar algum tempo para cuidar de si: converse com um amigo, dê umas boas risadas e talvez até possa chorar um bocadinho. Acalmar-se requer prática, mas quando conseguimos, estamos literalmente a reconectar os nossos cérebros para nos tornarmos pais mais calmos e mais pacíficos.

Já conhece o nosso livro sobre as birras? Tita, a zebra que não queria ter riscas

For Babies Brain by Clementina é um parceiro do Pares do Ímpar. Os conteúdos publicados são da responsabilidade da autora. Pares do Ímpar é um projecto de parceria entre o PÚBLICO e criadores independentes de conteúdos em áreas especializadas, complementares ao alinhamento editorial do Ímpar.

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