Uma história de fantasmas

Aos Meus Amores, de Álvaro Rosendo, é um trabalho de arquivo muito especial, que não procura desenterrar fotografias para cumprir uma missão histórica, mas para introduzir a questão afectiva da memória, conferindo às fotografias um mistério e uma forte densidade.

Foto

Álvaro Rosendo não retirou do seu arquivo mais de 600 fotografias, que vão de 1979 a 2019, para documentar uma época, muito embora elas tragam consigo um fortíssimo índice temporal que as remete, como elementos de prova perante o tribunal da História, para um ambiente histórico. O título da exposição, Aos Meus Amores (curadoria de Luís Gouveia Monteiro) é uma declaração de compromisso afectivo para com as pessoas fotografadas. Tirando umas poucas fotografias de grande formato representando paisagens, é de pessoas que se trata neste arquivo fotográfico, que é um lugar de memória, muitas delas de grande destaque público, sobretudo nas artes, na música, na literatura, na vida pública urbana com os seus tropismos epocais e, em mais escasso número, na política. Há os famosos, os menos famosos e os que, acidentalmente ou em permanência, frequentaram os lugares que marcaram a topologia real e imaginária deste fotógrafo. Aos Meus Amores introduz a ideia de uma relação afectiva que não é necessariamente lutuosa nem nostálgica: há nesta exposição demasiado júbilo para que possamos ver nelas um doloroso trabalho de luto. É evidente que, como toda a imagem-memória, também estas fotografias constituem implicitamente um memento mori, o aviso de que vais morrer, como aconteceu a muitas das pessoas fotografadas (algumas delas precocemente: Al Berto, Manuel Hermínio Monteiro, etc.). Mas ao mesmo tempo, até pela sua acumulação, elas são também uma tentativa de esconjurar a morte.

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