No PÚBLICO para desmontar o PÚBLICO

A Cristina Sampaio fez um cartoon tão lamentável quanto as antigas declarações de Abel Matos Santos que procura ridicularizar. Porque ambos não olharam à história, porque ambos estavam infundados.

Não acredito nos limites do Humor. Acredito que possa ser polémico. Acredito que possa ser injusto. Acredito que possa ser ofensivo. Acredito que possa não retratar a realidade – e nesta possibilidade acredito profundamente, ou não vivesse o Humor, em grande parte, da caricatura, do exagero. Acredito ainda que possa não ter graça. E acredito que o cartoon que o PÚBLICO fez sobre o CDS seja tudo isto: polémico, injusto, ofensivo, manifestamente exagerado e sem graça.

Ainda assim, e mesmo perante situações bem mais graves que esta, nunca me verão a defender limites ao Humor ou a ficar do lado de quem o queira de alguma forma proibir ou condicionar. Prefiro desmontá-lo, extirpá-lo do seu objectivo e, tivesse eu piada a escrever, pagar-lhe na mesma moeda, ridicularizando-o com piadas. Não tenho.

A Cristina Sampaio fez um cartoon tão lamentável quanto as antigas declarações de Abel Matos Santos que procura ridicularizar. Porque ambos não olharam à história, porque ambos estavam infundados.

Não é um cartoon destes que faz do PÚBLICO um jornal ofensivo ou sequer de esquerda. Como não é Abel Matos Santos que faz do CDS um partido de índole nazi ou sequer de extrema-direita. De resto, e embora muito discorde das várias posições de Abel Matos Santos, que entretanto se terá demitido da direcção do CDS, o que me deixa satisfeito – não escondo –, está longe de ser fascista ou nazi.

Pintar também o CDS desta forma, ainda mais injusto e, deste ponto de vista, mais indesejável é.

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Dizê-lo como tal é relativizar o nazismo e a extrema-direita. É um pouco como a moral da história do Pedro e do Lobo: se passarmos a rotular todas as posturas menos tolerantes ou tontas como sendo de extrema-direita, fascistas ou nazis, quando uma destas tendências despontar no panorama português ninguém acreditará.

O CDS foi fundado em Democracia e para fortalecer a Democracia. Foi fundado como partido das liberdades económica, social e individual.

Tem explicitamente na sua declaração de princípios, redigida em 1974, que a visão que tem para Portugal “não se pode fazer com base no ideal fascista da Nação abstracta, nem com base no ideal marxista da Classe messiânica.” Que “recusamos toda a espécie de totalitarismo ou de ditadura…” e que pretende “…defender intransigentemente as liberdades cívicas, a liberdade religiosa, a igualdade social do homem e da mulher, os direitos das minorias”.

O CDS tem inúmeras posições conhecidas a favor da liberdade religiosa e pró-Israel. Posições essas que lhe têm valido criticas várias da esquerda que, essa sim, tem várias investidas contra aquele Estado.

O CDS tem ainda várias declarações de vários antigos presidentes que combateram posições totalitárias e lutaram na primeira linha pela Democracia. Destaco aqui Freitas do Amaral, que nas suas memórias políticas escreveu explicitamente que não estaria nunca disposto a liderar um partido cujos eleitores apreciassem Salazar e Hitler como governantes.

E por isso, estou convicto que contra o surgimento de movimentos populistas de direita e de outras forças mais extremadas que possam vir a ganhar força, o CDS fará o seu combate. E que saberá demonstrar sempre que o cartoon feito por Cristina Sampaio foi profundamente injusto e que as posições de Abel Matos Santos não têm lugar no seu seio.

E, num exercício de Democracia, acredito ainda que este artigo seja publicado pelo PÚBLICO, tal como publicou o cartoon de que falo. Achei que não havia melhor local onde colocar esta opinião.

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