Emigrante estende cuecas e camisas na obra de Cabrita Reis em Matosinhos

“A arte é aquilo que o artista quiser. Por isso, se umas vigas são arte para o Pedro Cabrita Reis, para mim umas cuecas com perguntas escritas também são arte. A minha arte”, diz autor

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Um emigrante em Inglaterra, natural de Leça do Balio, em Matosinhos, “transformou” a escultura de Pedro Cabrita Reis, de mais de 300 mil euros, num “estendal” onde, através de camisolas, calções e bóxeres, fez “perguntas” sobre obras no concelho.

“A arte é aquilo que o artista quiser. Por isso, se umas vigas são arte para o Pedro Cabrita Reis, para mim umas cuecas com perguntas escritas também são arte. A minha arte”, disse nesta terça-feira à Lusa Pedro Almeida, assumindo a autoria do acto.

Pedro Almeida contou que instalou o “estendal” na segunda-feira à tarde, tendo trazido a corda, as molas e a roupa de Inglaterra, e que, uma hora depois, “recolheu-o” porque conseguiu passar a sua mensagem de descontentamento com o “rumo do concelho”, liderado pela socialista Luísa Salgueiro, e, também, por medo que hoje já não estivesse lá nada.

Dizendo que o seu acto “não é vandalismo porque não estraga nada”, o autor da ideia afirmou tratar-se de uma “instalação artística e política usando para isso os ferros que lá se encontram”, referindo-se às vigas que compõem a escultura.

Nas fotos do “estendal” publicadas na página pessoal de Facebook de Pedro Almeida vêem-se numa corda t-shirts, calções e bóxeres onde se lêem as perguntas “Quem sabe do paredão?”, referindo-se ao prolongamento do quebra-mar do Porto de Leixões que tem gerado contestação, “Quem ganhou com o hotel nas dunas?”, fazendo menção à construção de um hotel na Praia da Memória que tem causado indignação, e “Os quatro milhões de euros da Realidade Social?”, numa alusão à obra de construção de um centro de cuidados continuados que nunca foi acabada.

“O que lá está são simples questões, não são acusações”, vincou. Matosinhos, no distrito do Porto, precisa de uma “varridela” e de “lavar a roupa suja”, considerou.

Pedro Almeida, proprietário de um restaurante em Inglaterra, confessou que, apesar da distância, acompanha diariamente o concelho, “não lhe agradando nada” ao que assiste.

A escultura de Pedro Cabrita Reis “fica mal naquele local” e devia ser relocalizada, opinou, acrescentando que duas semanas depois da sua inauguração, a 15 de Dezembro, já tinha ferrugem.

Pedro Almeida garantiu que vai voltar a estender o “estendal” na sua próxima vinda a Portugal.

A obra de arte "A Linha do Mar” já foi vandalizada por duas vezes, tendo a primeira ocorrido duas semanas após a sua inauguração.

Por esse motivo, a Câmara Municipal de Matosinhos já apresentou duas queixas no Ministério Público (MP) contra desconhecidos.

Na sua página da Internet, a autarquia refere que “a peça escultórica é composta por vigas de ferro HA400 e apresenta uma nova perspectiva sobre a linha de horizonte do mar, sugerindo diversas interpretações através da forma, geometria e da sua sobreposição com o oceano”.

“Composta por cinco grupos de vigas, sendo exclusivamente construída com recurso a este material, o conjunto escultórico enquadra a paisagem num esquema de linhas verticais de dimensões variáveis dispostas sobre uma base horizontal ao longo de 40 metros da marginal desenhada pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira”, acrescenta, apresentando Cabrita Reis como “um dos principais embaixadores do movimento neominimalista em Portugal, com trabalhos expostos em todo o mundo e presente em museus e colecções nas mais variadas latitudes”.

A Lusa tentou uma reacção da câmara municipal, mas sem sucesso.

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