“Os Fadinhos do Godinho” é uma das estreias do Soam as Guitarras em 2020

Agora em quatro cidades, o festival Soam as Guitarras já anunciou o seu programa para 2020. Entre as novidades, anuncia-se uma revisão dos fados escritos por Sérgio Godinho na voz do próprio, na companhia de Filipe Raposo e José Manuel Neto.

Foto
Sérgio Godinho (ao piano, Filipe Raposo) PAULO PIMENTA

Primeira novidade: Setúbal. Ao quarto ano de vida, o festival Soam as Guitarras vai cumprindo a promessa de “conquistar” uma nova cidade a cada ano, somando-a às anteriores e ganhando novos palcos. Iniciado em Oeiras, em 2017, alastrou depois a Évora, em 2018, e à Póvoa de Varzim em 2019. Agora, incluiu no programa a cidade do Sado. Onde, aliás, se realizou (no dia 24 de Janeiro, no Teatro Luísa Todi) o concerto de apresentação do festival, que uniu em palco o guitarrista António Chainho e o cantor e compositor Miguel Araújo. Embaixador deste festival, Mestre António Chainho convidara Kepa Junkera para a primeira edição, em 2017; Rão Kyao para a segunda, em 2018; e António Zambujo para a terceira edição, em 2019.

Foto
António Chainho com Miguel Araújo, fotografados para o Soam as Guitarras JORGE SOL

E essa foi mais uma novidade, das várias anunciadas no programa. Porque os organizadores continuam, nas suas próprias palavras, a querer que este festival “seja cada vez mais palco de canções, conceitos, estreias, encontros e desafios. É um mundo inteiro de surpresas e novos caminhos, bem patentes na edição de 2020.” Isso mesmo foi reforçado na conferência de imprensa onde foi anunciado o programa para este ano, a anteceder o concerto de António Chainho e Miguel Araújo: “Mafalda Veiga e Sérgio Godinho estreiam novos espectáculos no Soam As Guitarras. Ricardo Ribeiro e o Lisbon String Trio, Manuel de Oliveira e Marco Rodrigues, Mário Lúcio e Teresa Salgueiro também se juntam em palco pela primeira vez.”

De Miramar a Mafalda Veiga

Mas podemos seguir o calendário. O primeiro concerto do programa oficial, a 28 de Março (depois do de António Chainho com Miguel Araújo, que serviu de apresentação) será o do projecto Miramar, que junta Frankie Chaves & Peixe. E esse fará o pleno das quatro cidades: Setúbal (28 de Março, no Auditório Municipal), Évora (2 de Abril, na Igreja de São Vicente), Oeiras (4 de Abril, em Carnaxide, uma das freguesias do concelho, no Auditório Municipal Ruy de Carvalho) e Póvoa de Varzim (17 de Abril, no Diana Bar). Sempre às 21h30.

Em Março só haverá mais um espectáculo, o do projecto RAIA, Planeta Campaniça, onde o músico António Bexiga tem dois lotes diferentes de convidados: dia 29 de Março, em Setúbal (Auditório Municipal, 21h30), estarão com ele Omiri (Vasco Ribeiro Casais), braguesa e nickel harpa; Joana Negrão (Seiva, NMB), voz e gaita; Um Corpo Estranho (De la Motta e Pedro Franco) vozes, guitarra, banjo. E em Évora, no dia 4 de Abril (Igreja de São Vicente, 21h30), contará, em palco, com Daniel Catarino, Xinês e Cristina Viana (desenho digital).

Tudo o resto será em Abril. Que começa logo com dois concertos únicos. No dia 2, Ricardo Ribeiro junta-se ao Lisbon String Trio, composto por Bernardo Couto (guitarra Portuguesa), José Peixoto (guitarra clássica) e Carlos Barretto (contrabaixo). Será no Auditório Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, pelas 21h30. E no dia 3 passa pelo festival a Tour Fim dos Dead Combo. Será no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, também pelas 21h30.

No mesmo dia 3 de Abril, mas em cidades diferentes, outros encontros: Manuel de Oliveira convida Marco Rodrigues em Évora (Igreja de São Vicente) e Mário Lúcio convida Teresa Salgueiro em Oeiras (Auditório Municipal Eunice Muñoz). Os primeiros actuarão ainda em Oeiras, dia 18 (no Eunice Muñoz) e na Póvoa de Varzim (no Diana Bar). Tudo às 21h30.

Ainda no início de Abril, ambos no dia 5, dois concertos a solo com guitarrista portuguesa: Pedro Caldeira Cabral em Évora (Igreja de São Vicente, 18h) e Ricardo Parreira em Oeiras, em princípio na cisterna do Forte de São Julião da Barra (ainda a confirmar, às 18h30). Também na cisterna, caso se confirme, actuará o guitarrista Luís Guerreiro, mas já a 19 de Abril (18h30).

Na segunda metade do mês, é a vez de Tatanka, ainda no rescaldo do seu álbum de estreia, Pouco Barulho (2019), actuar no Auditório Municipal Ruy de Carvalho (Carnaxide, 21h30). Um concerto único. Tal como o de Mafalda Veiga, que fechará o festival, no dia 25 de Abril, na Póvoa de Varzim (Cine-Teatro Garrett, 21h30) estreando o seu novo espectáculo a solo.

Sérgio Godinho e os seus fados

Dias antes, mas em duas cidades, Sérgio Godinho estreia um espectáculo singular, “Os Fadinhos do Godinho”, acompanhado por Filipe Raposo (piano e direcção musical) e José Manuel Neto (guitarra portuguesa). Dia 17 em Carnaxide (Auditório Municipal Ruy de Carvalho) e dia 18 na Póvoa de Varzim (Cine-Teatro Garrett), ambos às 21h30.

Ora “Os Fadinhos do Godinho” são nada menos do que a reunião de fados escritos por Sérgio para outras vozes, ou para espectáculos (cinema, teatro), a par de temas seus regravados por fadistas. Dito nas suas próprias palavras, que acompanham o programa do festival, é qualquer coisa como isto: “Desde há muito que tenho tido a feliz oportunidade de escrever para outras vozes. Procuro sempre as suas ‘caras’, ao fazê-lo – a sua cara musical, a sua personalidade, o seu estilo. Entre todos estão muitos fadistas. E dá-me prazer explorar os territórios estilísticos do fado, com os seus códigos particulares, embora mantendo também sempre ‘a minha cara’. Desse punhado de canções nasceu esta aposta. A de cantá-las eu próprio, não como fados (não sou fadista de essência), mas como simples canções que são, de volta à casa de partida.”

Foto
Sérgio Godinho em palco com Camané, em 2019 PAULO PIMENTA

Sérgio Godinho, recorde-se, escreveu para vários fadistas, com Mísia à cabeça. Para ela, escreveu Coração bateu três vezes, no Fado Triplicado, 1995; Liberdades poéticas, 1999; A palavra dos lugares, 1999; e Nenhum sonho se entrega à chegada, sobre a música Raiz, de Carlos Paredes, 2003. Mas também escreveu para Carlos do Carmo (Velho cantor, 1990) e teve canções suas gravadas por Camané (Emboscadas) ou Cristina Branco (As certezas do meu mais brilhante amor ou Bomba relógio). E para outros destinatários escreveu outros, como o Fado do Kilas, cantado por Lia Gama no filme Kilas, o Mau da Fita (1980), de José Fonseca e Costa ou o Fado Gago, que escreveu para a produção teatral Fados (1995), de Ricardo Pais.

No seu espectáculo Caríssimas Canções (também gravado em disco), nascido de uma série de crónicas que escreveu para o semanário Expresso, Sérgio Godinho também incluiu fados, como O rapaz da camisola verde, que Pedro Homem de Mello escreveu e Frei Hermano da Câmara interpretou, ou Vendaval, escrito por Joaquim Pimentel para a voz de Tony de Matos.

São, todos eles, pistas para o que será, em palco e em estreia absoluta, “Os Fadinhos do Godinho”.

Sugerir correcção
Comentar