Boris Johnson recusa acordo comercial alinhado com as regras europeias

Primeiro-ministro britânico quer solução semelhante à do Canadá para o Reino Unido e sugere que, se não houver um compromisso com a UE, as partes devem basear as suas relações no acordo do “Brexit”.

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Boris Johnson discursou esta segunda-feira em Greenwich, Londres Reuters

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu esta segunda-feira que o Reino Unido não está obrigado a cumprir as regras europeias para assinar um acordo comercial com a União Europeia. Na apresentação da posição de princípio do Governo britânico para as negociações com Bruxelas, tendo em vista a futura parceria económica pós-“Brexit”, Johnson confirmou que procura um acordo semelhante ao que o Canadá tem com os 27 e disse que, em caso de falta de entendimento com o bloco europeu, as partes devem reger-se pelos termos do acordo de divórcio.

“Não há necessidade de um acordo de livre comércio que envolva aceitar as regras da UE em política de concorrência, subsídios, protecções sociais, ambiente ou algo similar, tal com a UE não deve ser obrigada a aceitar as regras do Reino Unido. Vamos manter os mais elevados padrões nestas áreas, sem a obrigatoriedade de um tratado”, afirmou Johnson, num discurso em Londres, intitulado Desencadear o potencial do Reino Unido.

Poucos dias depois da saída oficial do país da UE e a menos de um mês do início formal das negociações entre Londres e Bruxelas, o líder do executivo britânico assume uma posição de confronto com os limites definidos pela equipa negocial europeia, liderada por Michel Barnier.

Esta segunda-feira, numa conferência de imprensa na capital belga, o negociador-chefe da UE, mandatado pela Comissão Europeia, insistiu que, para a competição entre os dois mercados “se manter aberta e justa”, é necessário que o Reino Unido ofereça “garantias específicas e efectivas para assegurar” que há uma situação de “level playing field [igualdade de circunstâncias]”. 

“Em primeiro lugar e acima de tudo, vamos defender os interesses da União, os seus cidadãos e os seus negócios”, prometeu o francês, acrescentando que, por isso mesmo, a UE vai “continuar a preparar-se para uma situação de no deal” no final do período de transição.

Em vigor até ao final de Dezembro, o período de transição estabelece que o Reino Unido continua a beneficiar de todos os direitos do mercado único e a respeitar todas as obrigações dos Estados-membros, apesar de ter deixado de estar representado nas instituições europeias.

Boris Johnson garante, no entanto, que o Reino Unido não tem de se mover pelos parâmetros de Bruxelas e exige um acordo parecido com o do Canadá ou da Austrália – segundo o qual praticamente não há tarifas na grande maioria dos bens transaccionados, ficando de fora o sector dos serviços, e há a possibilidade de acesso de empresas de ambos os lados a concursos de um e outro bloco.

Para além disso, o primeiro-ministro britânico lembra que já existe um acordo em vigor – o que definiu os termos da sua saída da UE – pelo que não está “decididamente” em causa “uma escolha entre um acordo ou um não-acordo”, no final do ano.

“Fizemos a nossa escolha: queremos um acordo de livre comércio semelhante ao do Canadá. Mas na eventualidade improvável de não sermos bem-sucedidos, então as nossas trocas comerciais terão de se basear no actual acordo de saída”, disse Johnson, deixando uma garantia: “Em qualquer dos casos, não tenho dúvida que o Reino Unido vai prosperar poderosamente”.

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