Um sensor em vez de um polícia para travar o estacionamento ilegal na cidade

Solução tecnológica desenvolvida por um consórcio liderado pela portuguesa VisionWare, e apoiado por fundos europeus, foi testado no Ceiia, em Matosinhos. Lá para o final do ano deve chegar ao mercado.

Foto
Imagem recolhida pelo sensor de teste, em Matosinhos NELSON GARRIDO / PUBLICO

Enquanto a batalha pelo espaço público vai tomando conta do debate em muitas cidades por esse mundo fora, pondo frente-a-frente peões, ciclistas e automobilistas, entre outros, os gestores municipais procuram formas de gerir os conflitos que essa convivência sempre gera. Perante a dificuldade de termos um polícia em cada esquina, um consórcio liderado pela VisionWare está a desenvolver, com apoio europeu, um sistema de sensores que, entre várias utilizações, ajuda a detectar estacionamento ilegal, à distância, em tempo real.

Criada no âmbito do projecto europeu SCENE, que tem apoio de fundos do programa Fast Track to Innovation do Horizonte 2020, a tecnologia faz uso de dispositivos já existentes para, com uma nova plataforma informática, criar serviços que, rapidamente, possam ser colocados no mercado. Filipe Custódio, da VisionWare, explicou ao PÚBLICO que o SCENE visa desenvolver o potencial de partilha de dados que a chamada Internet das Coisas, esta fase em que objectos e veículos estão ligados a uma rede sem fios, traz às designadas cidades inteligentes.

Foto
O sensor de detecção do estacionamento em segunda fila Nelson Garrido

Não tendo sido inventada uma fórmula que trave o egoísmo de comportamentos como o estacionamento em segunda fila, que impede a fluidez do trânsito e interfere até com a marcha de veículos de emergência, soluções como o SCENE pretendem apoiar as autoridades na dissuasão e combate a este tipo de infracção. Mas a mesma tecnologia pode ser usada, com componentes diferentes, para monitorizar a qualidade do ar (que está a ser testada em Rennes, França) ou as fissuras em elementos estruturais de edifícios relevantes, como monumentos, por exemplo (um teste que decorre em Catania, na Sicília, nada longe do vulcão Etna).

Olhemos para o uso que esteve a ser testado em Portugal, para já em ambiente controlado na Zona Livre Tecnológica que o Ceiia, centro de engenharia ligado à mobilidade sustentável, tem disponível em Matosinhos. Um sensor colocado num poste, com capacidade de alcançar pontos críticos nas imediações, tira uma fotografia, desfoca-a totalmente (exceptuando a matrícula), de cada vez que uma viatura pára num sítio pré-determinado. Passado um tempo definido na programação informática, se o infractor se mantiver no local, uma segunda foto é feita, nas mesmas condições de preservação da identidade de quem esteja dentro do carro ou até na rua, e ambas são enviadas para um ponto central, de controlo.

Depois de a portuguesa Veniam ter desenvolvido uma rede de internet e de partilha de dados a partir de uma frota de autocarros, os parceiros envolvidos no SCENE usam um princípio semelhante para, a partir de routers instados em veículos em movimento, receber os dados de cada sensor, quando passam por eles na rua, numa operação que, fazendo uso de comunicação de curta distância, permite que não seja preciso instalar um cartão SIM em cada sensor. Chegado perto de um ponto com acesso à rede Wi-Fi, o autocarro pode enviar os pacotes de dados para o servidor ligado a um posto de controlo da polícia municipal, por exemplo.

Foto
Parceiros envolvidos no SCENE durante o teste no Ceiia, em Matosinhos Nelson Garrido

A tecnologia ainda não está homologada, mas, quando isso acontecer, o que implica garantias quanto à protecção de dados, poderá vir a permitir o envio de autos de contra-ordenação para a morada associada à matrícula detectada pelo sensor, como acontece com os radares instalados nas estradas portuguesas. O objectivo deste projecto, que envolve parceiros italianos e franceses, é melhorar a capacidade de monitorização e intervenção na cidade, em tempo real, com componentes baratos, que permitam construir uma solução de preço acessível e replicável em vários pontos de um município. O sensor usado em Matosinhos, por exemplo, foi desenvolvido por uma empresa do Porto, a Metric4, uma start-up sediada na Pólo Tecnológico da Universidade do Porto, o UPTec, que se juntou à Almaviva (Itália), AMT - Azienda Municipalizzata Trasporti (Itália), CEA - Commissariat à l’Énergie Atomique et aux Énergies alternatives (França) e JCP-Connect (França).
 

Sugerir correcção
Ler 3 comentários