Praga declara guerra ao Airbnb: está a “comer a cidade por dentro”

Presidente da câmara diz que é preciso “devolver Praga às pessoas de Praga”. A cidade juntou-se a uma rede de destinos que exige à UE que tome medidas contra o “crescimento explosivo” da plataforma e similares.

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Um postal ilustrado de Praga, entre a ponte repleta de turistas e o Castelo MICHAL CIZEK/REUTERS
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Turistas na Ponte Carlos David W Cerny/REUTERS
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A rolar pelo centro histórico David W Cerny/REUTERS
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O relógio astronómico medieval é a "Mona Lisa" de Praga David W Cerny/REUTERS
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Uma visita guiada pelo Castelo David W Cerny/REUTERS
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O presidente da câmara de Praga defende uma solução global a nível europeu para a regulamentação das plataformas de arrendamento David W Cerny/REUTERS
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Praga é uma das cidades mais visitadas na Europa David W Cerny/REUTERS

De Amesterdão a Berlim, de Lisboa e Barcelona a Nova Iorque, são muitos os destinos a criarem medidas para conter o sobreturismo, controlar o alojamento local e sistemas Airbnb. Até a própria plataforma já chegou a criar limites voluntariamente

No caso de Praga, basta abrir o Facebook de Zdenek Hrib, o presidente da câmara, eleito pelo liberal Partido Pirata checo, para perceber logo qual é a posição do autarca em relação ao Airbnb (e similares, mas o alvo tem nome próprio) e qual é a sua declaração de “guerra”:

Sendo certo que é imagem para valer por mil palavras, Hrib ainda lhe acrescenta mais ataques. “O Airbnb em Praga é um problema”, escreve o autarca, abordando a “crise da habitação” na cidade, onde, refere, “são utilizados 11.500 apartamentos para o Airbnb” no centro, sendo que o epicentro histórico e turístico terá cerca de 25 mil residentes. O “Airbnb oferece capacidade de alojamento ilimitado em Praga numa época em que o centro é cada vez mais atormentado pelo turismo excessivo”, diz, defendendo que “a cidade não ganha nada com estes arrendamentos de curto prazo a não ser taxas de alojamento (se forem pagas)”. 

Não é só na sua página pessoal, nem só na República Checa, que Hrib trava esta batalha: as suas posições foram explicadas com mais pormenor e exemplos ao jornal The Observer – edição dominical do britânico The Guardian

“Devolver Praga às pessoas de Praga” soa a slogan e é mesmo o mote usado pelo autarca na conversa registada pelo jornal, onde Hrib resume o cenário e avança com algumas possíveis soluções, já tentadas e impostas em vários países (por exemplo em Portugal, com zonas de contenção ao alojamento local, em Lisboa ou no Porto).

Para o autarca, é preciso proibir o arrendamento de curto prazo de apartamentos completos (excepção: só se for habitação própria e o residente estiver temporariamente ausente), ou pelo menos limitar ao máximo o número total de dias por ano que é possível arrendar (uma medida também já tomada noutras cidades). Para os turistas Airbnb apenas quartos em casas onde o proprietário resida.

A ofensiva de Hrib pretende também forçar o Governo (liderado por uma coligação a que não pertence o autarca)​ a facilitar a criação de instrumentos para que as autarquias possam intervir localmente na regulação destas plataformas.

Praga tornou-se um dos grandes casos de sucesso mundial a nível turístico, pelo menos em termos de números e dinheiros, sendo tão famosa pelo seu património e cultura como por ser um destino low cost para o turismo de festas, despedidas de solteiro e álcool

O responsável diz que o falhanço em regular o negócio está “a comer a cidade por dentro”. “Os números são realmente críticos”, opina. A cidade tem mais de 8 milhões de turistas por ano (para uma população à volta de 1,3 milhões; Lisboa recebeu 4,5 milhões de turistas em 2018). Os alojamentos Airbnb quase triplicaram em três anos, ultrapassando os 13 mil e oferecendo mais de 50 mil camas.

Hrib foca-se nos problemas que tudo isso trouxe para os residentes, uma situação que também tem originado queixas em Portugal, particularmente em Lisboa ou Porto: barulho, incómodos, rendas e preços das casas a disparar, dificuldade de acesso dos moradores ao mercado imobiliário. 

“Isto já se afastou muito da ideia original de economia partilhada em que é suposto deixares um turista ficar em tua casa, fazeres-lhe o pequeno-almoço e dizeres-lhe algo sobre a tua bonita cidade”. “Isto assim é apenas um hotel distribuído, onde se abusa do conforto dos outros cidadãos da cidade, os residentes, e se procura o lucro às suas custas”.

“Queremos também juntar-nos ao desafio das cidades europeias para negociar na área dos serviços de alojamento de curta duração para turistas”, escreve no seu Facebook o autarca. “Praga não é diferente de outras metrópoles europeias em que o Airbnb causa dificuldades. O tema poderia ser tratado a nível europeu”, defende.

Por isso mesmo, a capital checa juntou-se às cidades europeias que criaram uma espécie de união para se defenderem dos efeitos considerados nefastos do Airbnb. Em Junho, os seus representantes co-assinaram uma carta aberta à União Europeia a pedirem um esforço europeu conjunto para impedir o “crescimento explosivo” da plataforma e similares. Esta união “anti-Airbnb” inclui também Amesterdão, Barcelona, Berlim, Bordéus, Bruxelas, Cracóvia, Munique, Paris, Valência e Viena. 

Praga: A controversa arte pública de David Cerný

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