A Taça de Portugal é uma prova cada vez mais dada a “intrusos”

Benfica, Famalicão, FC Porto e Académico de Viseu jogam, nesta terça-feira, a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Hora de decisões numa prova que, nos últimos 20 anos, viu aumentar o número de equipas capazes de “roubar” lugares de destaque aos três “grandes”.

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O Aves foi a última equipa a bater um dos "grandes" na final da Taça de Portugal LUSA/MIGUEL A. LOPES

Em cinco das últimas dez temporadas houve equipas de fora da I Liga nas meias-finais da Taça de Portugal. Se formos até ao início do milénio, há “intrusos” em nove das 20 temporadas. E uma análise mais profunda permite constatar que das décadas de 80 e 90 para a actualidade houve um aumento claro do número de equipas capazes de “roubar” lugares de destaque aos três “grandes” nas meias-finais da Taça.

Estes números atestam, sobremaneira, a forma como esta competição dá espaço aos clubes mais pequenos e dizem, também, que as últimas duas décadas se tornaram cada vez mais férteis em surpresas e “intrusos”, isto é equipas do segundo ou terceiro escalão.

Meias-finais com a presença do Famalicão, recém-promovido à I Liga, e do Ac. Viseu, militante do segundo escalão, não são, ao contrário do que poderia pensar-se, um oásis. Metade das temporadas da última década teve, pelo menos, um “intruso” nas meias-finais. Números que não são contestados se recuarmos até aos anos 2000, pois apenas duas meias-finais da Taça tiveram os três “grandes”: na última época o Sp. Braga acompanhou Benfica, Sporting e FC Porto; em 2007/08, ano em que essa honra coube ao V. Setúbal.

Esta tendência fica ainda mais clara quando se constata que nos últimos 20 anos apenas nove das 20 meias-finais tiveram pelo menos dois dos três “grandes”, mas, na vintena de anos anteriores, esse número chegou às 16 vezes.

Este facto permite várias leituras, sendo a mais evidente a questão orçamental. Por um lado, a maior importância dada por clubes mais pequenos a esta competição – para muitos clubes modestos, os prémios monetários da Taça de Portugal pagam orçamentos de épocas inteiras.

Por outro lado, o peso orçamental sente-se no aumento do foco dado pelos três “grandes” ao campeonato nacional – é este quem lhes dá acesso à Liga dos Campeões e é esta a prova que lhes paga o orçamento chorudo de quem tem objectivos maiores. E a “velhinha” Taça de Portugal fica para segundo plano.

Jogar a Taça com o clássico à espreita

Estas tendências dizem também bastante sobre a índole da Taça de Portugal, cujas eliminatórias, disputadas em apenas um jogo, proporcionam surpresas anuais. Mas, para as meias-finais, o cenário muda.

A Federação Portuguesa de Futebol estipulou, em 2008, que esta fase da prova é, ao contrário das restantes, jogada a duas “mãos”. Um formato que reduz, evidentemente, a probabilidade de surpresas: em caso de “derrapagem” na primeira mão, os “grandes” conseguem, quase sempre, reverter o “susto” no segundo jogo.

Tudo isto influi, também, no que se passará nesta terça-feira. Benfica e FC Porto defrontam, respectivamente, Famalicão e Académico de Viseu, em dois duelos que prometem algumas poupanças de Bruno Lage e Sérgio Conceição – seja por contingências do calendário, seja pelo nome modesto dos adversários, seja, ainda, pelo já referido formato competitivo destas meias-finais.

Os dois últimos aspectos são fáceis de decifrar. Eliminatórias a duas mãos frente a adversários como Famalicão e Ac. Viseu, teoricamente inferiores, deverão ser um tónico suficiente para seduzir Lage e Conceição a gerirem os plantéis. O primeiro aspecto resume-se a uma palavra: clássico. É que, no próximo fim-de-semana, há um FC Porto-Benfica que poderá ser decisivo nas contas do título nacional.

Famalicão e Ac. Viseu querem adiar decisão

É nesta base que, nesta terça-feira, às 19h15, o Benfica recebe o Famalicão, no Estádio da Luz. Bruno Lage recusou, como habitualmente, falar de “poupanças” na equipa – ou sequer de “gestão” –, preferindo apontar a uma decisão “em função do momento de cada jogador”.

Esta formulação de Lage, na antevisão da partida, ainda que escapando à conotação negativa da palavra “poupança”, equivale, provavelmente, a algumas alterações no “onze” habitual – e que será utilizado no Dragão.

Não se esperando uma “revolução”, até pela força já demonstrada pelo Famalicão na I Liga, o Benfica deverá ir a jogo com alguma rotatividade. Elementos como Zlobin, Tomás Tavares, Chiquinho ou Jota têm boas probabilidades de fazer parte do “onze” inicial, frente a uma equipa que, pelas palavras do treinador, João Pedro Sousa, quer “levar a decisão da eliminatória para Famalicão”.

Uma hora e meia mais tarde começará no Estádio do Fontelo, em Viseu, o Ac. Viseu-FC Porto. Um jogo em que o desequilíbrio de forças é ainda maior e que, também por isso, permitirá a Sérgio Conceição mais rotação – até por haver segundo jogo no Dragão, para corrigir uma eventual escorregadela no Fontelo.

Apesar de também recusar o termo “poupança”, Conceição assumiu, na antevisão do jogo, que “cada partida é uma oportunidade para os jogadores demonstrarem que merecem estar no “onze””. Uma pista para que existam algumas mudanças, frente a um Ac. Viseu confortável na II Liga – dificilmente subirá de divisão, mas também não corre risco de descer.

Rui Borges, treinador do Ac. Viseu, justificou a esperança para esta eliminatória com uma frase que justifica, até, o mote deste texto: “Hoje em dia, no futebol, já não existem tantos papões como antigamente”. A Taça de Portugal é um bom exemplo.

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