Se fumar e beber álcool todos os dias, o cérebro pode ficar mais velho

A análise a imagens de ressonância magnética de pessoas dos 45 aos 80 anos mostrou que o consumo diário de tabaco e álcool pode estar associado ao envelhecimento do cérebro.

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Estudo analisou ressonâncias magnéticas de mais de 17 mil pessoas Daniel Rocha

Perceber como o consumo de álcool e o tabagismo se relacionam com a idade do cérebro. Esta era a missão de cinco cientistas dos Estados Unidos. Para a cumprir, analisaram ressonâncias magnéticas de mais de 17 mil pessoas com a ajuda de métodos de machine learning. Resultado: fumar e beber álcool diariamente poderá estar associado a “aumentos modestos” na idade relativa do cérebro das pessoas com esses hábitos.

As consequências do tabagismo e do álcool no cérebro já não são uma novidade. Por exemplo, já se verificou que os fumadores têm “a massa cinzenta significativamente mais pequena e a massa branca com uma densidade menor nas regiões frontais, no lóbulo occipital e no lóbulo temporal” do que os não fumadores, destacam os autores num artigo científico publicado na revista Scientific Reports. Também já se observou que doentes com um distúrbio associado ao consumo de álcool mostraram ter menores volumes nas regiões da massa branca e na massa cinzenta do córtex órbito-frontal e no pré-frontal medial. 

Desta vez, uma equipa liderada por Arthur Toga (da Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos) quis entender como é que o consumo de álcool e de tabaco podem estar associados à idade relativa do cérebro – isto é, a idade do cérebro de uma pessoa com base na análise a imagens de ressonância magnética e em comparação com a idade média dos cérebros dos seus pares.

Ao todo, para este estudo analisaram-se imagens de ressonâncias magnéticas aos cérebros de 17.308 indivíduos entre os 45 e os 81 anos. Estes dados pertencem ao UK Biobank, organismo inglês de investigação médica.

Quanto ao consumo de tabaco, conseguiu-se reunir informações sobre os hábitos de 11.651 indivíduos. Desses, os que fumavam quase todos os dias ou todos os dias tinham uma idade relativa do cérebro maior do que os que fumavam com menos frequência ou que não fumavam de todo. Se se fumasse, em média, um maço de cigarros por dia durante todo o ano, isso aumentaria em 0,03 anos a idade relativa do cérebro.

Relativamente ao consumo de álcool, recolheu-se informação sobre 11.600 indivíduos. Verificou-se que as pessoas que consumiam bebidas alcoólicas quase todos os dias tinham uma idade cerebral mais avançada do que as que bebiam com menos frequência ou que não bebiam. Cada grama de álcool que se ingere por dia ocorre um aumento de 0,02 anos na idade relativa no cérebro.

Algumas limitações

Num resumo sobre o trabalho, os cientistas notam que os efeitos nocivos para o cérebro podem acontecer, sobretudo, em quem fuma e bebe álcool com grande frequência e que isso tem “aumentos modestos na idade cerebral”.

No artigo científico, a equipa destaca que este trabalho tem algumas limitações, como facto de não terem sido considerados outros factores, como os ambientais. Estudar esses factores e aumentar a amostra são metas para estudos futuros: “Com o crescente número de indivíduos no UK Biobank e das suas imagens de ressonância magnética a ficarem disponíveis, um futuro estudo poderá revelar mais sobre os factores associados à idade do cérebro.”

Em trabalhos vindouros, a equipa quer ainda entender melhor como é que o tabaco e o álcool influenciam a genética. Sobre as mutações provocadas pelo tabaco, num artigo científico publicado na revista Science em 2016 concluía-se que se se fumasse um maço de cigarros por dia, ao fim de um ano isso provocará nas células dos pulmões, em média, 150 mutações genéticas, o que aumenta o risco de cancro.

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